Espancamento, queimadura, violência sexual, sufocamento, afogamento, mutilações. Essas são algumas formas de agressões registradas dentro de delegacias e penitenciárias por parte de policiais ou entre os presos no Paraná.

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A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) e advogados criminalistas afirmam que, embora a tortura seja crime, ela ainda não foi eliminada da rotina policial.

A ditadura no Brasil acabou há mais de 20 anos, mas a sociedade continua se deparando com resquícios dela. Desde 1997, o País classificou a tortura como um crime, porém ela ainda existe, e muitas vezes é praticada pelos agentes que têm a responsabilidade de zelar pela Constituição brasileira.

Segundo o advogado criminalista Danilo Guimarães Rodrigues, “a tortura cometida por policiais em delegacias é bem menor do que a registrada há alguns anos, mas ainda não foi eliminada”.

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Ela é empregada geralmente em interrogatórios, quando o crime causou grande comoção social e a polícia quer dar uma resposta rápida para a população. A intenção é obter uma confissão ou a delação de outros envolvidos.

Presos

Mais comum é a violência que acontece entre os presos. Conforme o crime praticado, são as torturas. A lei da cadeia não tolera pessoas que tenham cometido estupro, além de outros crimes contra a mulher e crianças, por exemplo.

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Na cadeia também são feitos acertos de contas que resultam em mortes. Segundo Rodrigues, ele sempre escuta relatos de colegas de profissão sobre clientes que passaram por essas situações.

O advogado diz que, apesar de as torturas serem praticadas por outros detentos, a responsabilidade pelo crime é do Estado. As pessoas presas estão sob sua tutela e tem o poder de protegê-las. Além disto, quando os presos estão em delegacias eles ainda não foram condenados e inocentes também acabam sendo vítimas.

A secretária da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR Isabel Kugler Mendes diz que a situação é comum e ocorre tanto nos presídios como nas delegacias. Mas muitas vezes os presos preferem se calar com medo de maiores represálias.

Ela conta que há cerca de um mês, a comissão foi verificar uma ocorrência numa penintenciária, mas o detento visivelmente machucado disse que apenas havia caído.

O presidente da comissão, Cleverson Marinho Teixeira, vai mais longe ainda e diz que toda a sociedade sabe que o problema existe. Ele comenta que a população raciocina apenas pelo lado da vítima e esquece que o preso sairá da cadeia um dia.

Se ele não for tratado com dignidade, dificilmente vai se regenerar, e acabará devolvendo as agressões sofridas de alguma forma para a sociedade. A situação vira uma bola de neve.

Desde 1997, a tortura é considerada como crime no Brasil. Mesmo assim, ela continua acontecendo.

O presidente da Associação Paranaense de Advogados Criminalistas, Nílton Ribeiro de Souza, diz que a situação melhorou muito nos últimos 10 nos. Que os delegados estão tendo mais cuidado na hora de colher depoimentos porque se for comprovada a tortura, o processo contra o réu pode ser anulado e corre-se o risco de deixar impune o crime cometido pelo acusado.

Ele comenta ainda que os presos não deveriam ficar nas delegacias, nestes locais deveriam servir apenas para investigação. “Não há estrutura para atender os detentos. Durante a noite ficam apenas dois policiais de plantão, sendo difícil evitar brigas”, fala.

O secretário estadual de Justiça, desembargador Jair Ramos Braga, enviou uma nota ao jornal reconhecendo que o problema existe. No ma,terial ele dizia que, às vezes, recebiam informações de que presos eram maltratados fisicamente por agentes penitenciários.

Quando estes indícios aparecem é instaurado um processo administrativo disciplinar e, caso seja confirmada a agressão, o autor é punido com a exclusão do serviço. Já a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) não deu nenhuma resposta.

Advogado chama a PM de truculenta

Mas além da tortura, o presidente da Associação Paranaense de Advogados Criminalistas, Nilton Ribeiro de Souza, critica a truculência da Polícia Militar e o descumprimento da Constituição. Ele diz que é comum casos em que os policiais invadem as casas sem ter um mandado de busca e apreensão.

Segundo a Constituição, o lar é inviolável. Mesmo com mandado judicial não se pode entrar na casa de ninguém entre as 18h e 6h. “A Polícia Federal pode servir de exemplo em suas ações”, comenta Souza.

Segundo ele, a polícia só pode entrar na casa de alguém sem autorização da Justiça se ele estiver em flagrante delito. “Se for visto que praticou um crime e correu para dentro de sua casa, por exemplo.”

Mas é comum a Polícia Militar entrar nas residências à procura de armas e drogas. Intimidam as pessoas, derrubam e quebram as coisas, abusam da autoridade policial. Estas situações geralmente acontecem na bairros da periferia de Curitiba e da região metropolitana. “Para cada dez casas invadidas, encontram drogas e armas em apenas uma. A Justiça não pode ser feita a qualquer preço”, diz.

Souza fala ainda que a responsabilidade para achar provas contra criminosos não é da Polícia Militar. Este trabalho é de competência da Polícia Civil. Ele comenta que os policiais militares têm matado muita gente no Paraná. “Atiram de forma indiscriminada e inocentes acabam morrendo”, lembrou.

Para ele, a população deveria ver a polícia como um aliado e não ter medo dela. Diz que as pessoas agredidas tendem a continuar devolvendo esta violência para a sociedade.

“Estas pessoas são miseráveis e têm famílias desestruturadas. Com ações assim ficam mais revoltados. Precisamos trazer estas pessoas para nosso lado, precisamos selar a paz”, comenta. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) também não enviou resposta sobre o assunto.