Primeiro você escuta aquela musiquinha indicando ligação a cobrar; em seguida, um homem com voz disfarçada diz a seguinte frase: "Alô, aqui é um seqüestrador, quero R$10 mil agora!", e completa ameçando matar alguém de sua família, caso o dinheiro não seja entregue. Esse é um dos principais golpes aplicados por telefone e que têm despertado a atenção da polícia, pelo número de ocorrências.

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Denúncias de falsos seqüestros têm aparecido em todas as delegacias da cidade, fazendo com que a polícia se especialize e, principalmente, instrua a população a não cair em mais esse golpe.

A delegada-adjunta da Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas, Vanessa Alice, disse que é surpreendente o número de casos referentes à tentativa de extorsão via telefone. Segundo ela, os marginais utilizam as mais diversas formas de mobilizar a vítima a conseguir o valor solicitado para o suposto resgate. "Os golpistas se preparam, estudam a casa da vítima, a cor e a placa do carro, a roupa com qual sai de casa e, principalmente, horários de chegada e saída", explica a delegada.

De acordo com as informações obtidas nas denúncias, a maioria dos telefonemas são feitos de números com origem nos estados do Nordeste, principalmente no Ceará. Em outros registrados, as ligações partem do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. "A praticidade do celular dificulta o trabalho da polícia. O telefone pode ter sido clonado no Nordeste, mas a pessoa que está ligando pode estar na quadra da sua casa", comenta Vanessa.

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Em alguns casos, segundo as vítimas, os golpistas afirmam que estão falando de dentro de alguma penitenciária, no entanto, a delegada alerta que isso não é verdade. "Existem presidiários que dão a orientação para parentes e amigos de como praticar o golpe", completa.

Registrar queixa é importante

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Todos os casos devem ser registrados, somente assim a polícia consegue identificar ou, ao menos, reduzir essa ação criminosa. Alguns detalhes podem ser fundamentais na hora de fazer o boletim de ocorrência. A delegada explica que o maior número de informações sobre o bandido podem ser eficazes para a ação rápida da polícia. "O número do telefone de origem, número da senha caso seja feita a liberação de crédito telefônico, local onde será feita a entrega do valor, sotaque, barulhos ao fundo da ligação, tudo isso, pode ajudar", enfatiza a delegada Vanessa Alice.

Por se tratar de um golpe rápido e de um celular móvel, os marginais têm muita vantagem em relação à polícia e a burocracia age na contramão das investigações. "Para quebrar o sigilo telefônico de alguma pessoa no Ceará, por exemplo, a Delegacia de Estelionato tem que fazer o pedido para a Justiça do Estado do Paraná que o estende para a Justiça cearense e, finalmente, chegará à operadora de telefonia do celular utilizado no golpe. Quando a informação chega de volta à delegacia, os golpistas já estão utilizando outros números", relata a delegada.

Vanessa afirma que o golpe é bem esquematizado, "mas frágil em sua estrutura". "Nenhum dos casos era seqüestro verdadeiro. Algumas situação até passamos para o Grupo Tigre, especializado nesse tipo de operação, mas nenhum foi confirmado. Seqüestro é um crime hediondo, e nunca alguém se sujeitaria a tanto para roubar créditos telefônicos", finaliza.

Eles escaparam dos bandidos

Uma das vítimas mais recentes do golpe telefônico foi major Gilberto, do Corpo de Bombeiros. Ele recebeu a ligação na noite da última quarta-feira, por volta de 19h30. Segundo ele, o golpista ligou a cobrar e se apresentou como representante das empresas TIM, Claro, Nestlé e Brasil Telecom e afirmou que ele havia sido sorteado.

Para tentar se fazer acreditar, ele solicitou o código de barras de algum produto da Nestlé, e em seguida, deu prazo de 30 minutos para o oficial adquirir oito cartões de crédito telefônico da TIM e oito da Claro, fato que liberaria a entrega do suposto prêmio.

O major, sabendo que se tratava de golpe, anotou o telefone de contato e disse que agiria conforme solicitado. Imediatamente ligou para a Anatel e para o serviço de atendimento da TIM, de Fortaleza, já que a ligação tinha o prefixo de lá, denunciando o caso.

Acidente

A aposentada Manoelita, moradora no Água Verde, recebeu a ligação por volta das 11h30. O golpista disse, em tom de desespero, que o filho dela tinha acabado de sofrer um acidente e estava inconsciente. Ele queria que ela fosse até o local com uma quantia em dinheiro, para depois prestarem os primeiros socorros.

Desesperada, a aposentada ficou pensando em como arrumaria o valor para salvar a vida do filho. Em seguida, ligou para a filha falando do suposto acontecido. Através de outro celular, a mulher conseguiu contatar o filho que estava na casa dele. Só depois de passada a tensão pela tentativa de extorsão, é que a aposentada foi se dar conta que o DDD da chamada recebida, era de origem do estado do Rio de Jarneiro.

Seqüestro

O líder comunitário José, morador no Cotolengo, por pouco não foi vítima dos malandros. A filha saiu de casa para trabalhar, como fazia todos os dias pela manhã. Em seguida, o pai recebeu a ligação a cobrar e o golpista informou que a moça estava dentro do porta-malas do carro e, caso não fosse feito um depósito no valor de R$10 mil, ela seria morta. José teria uma hora para fazer a transação.

O bandido informou a placa do carro e falou dados da moça.

Abalado, o líder comunitário foi até o banco para fazer um empréstimo, mas o gerente afirmou que não poderia liberar o valor. Quando voltava para casa, encontrou a filha no caminho.