Cheiro da morte

Corpo demora 4 dias para ser retirado de posto e “explode”

Quatro dias foi o tempo que o cadáver de um homem de 60 anos, vítima de cirrose hepática, permaneceu no necrotério do Centro Municipal de Urgências Médicas (CMUM) do Boqueirão, até ser liberado, na manhã de sábado. Funcionários não suportavam mais trabalhar com o cheiro da pequena sala, nos fundos do posto, na Rua Professora Maria de Assumpção. As mulheres responsáveis pela limpeza tiveram de ajudar a retirar o cadáver, que “estourou”, espalhando sangue ao redor.

Conforme denúncia feita ao Paraná Online, essa situação nos postos de saúde de Curitiba é recorrente e seria evitada com a aquisição de câmaras de refrigeração para acondicionar os cadáveres. Pacientes que morrem de causas naturais nos postos ficam no necrotério até serem liberados para o enterro. O problema, segundo um funcionário, não é o tempo que os corpos permanecem no necrotério, mas a falta de condições para mantê-los ali.

Identificação

O homem ficou internado no posto e morreu na terça-feira (12). Como não tinha documentos, o Instituto de Identificação coletou suas digitais na tentativa de identificá-lo. Nesse meio tempo, a família apareceu, mas demorou para providenciar a documentação de liberação do corpo. Enquanto isso, o cadáver ficou apodrecendo em uma maca, coberto com um lençol. O mau cheiro tomou conta de boa parte da unidade.

Um funcionário da unidade afirmou que passou por essa experiência outras cinco vezes, durante os seis anos que trabalha no posto de saúde. Há cerca de quatro meses, foi preciso juntar os pedaços de um cadáver e colocá-los em sacos devido ao estado avançado de decomposição. Há relatos que, dias atrás, outro cadáver putrefeito incomodou funcionários da unidade de saúde do Campo Comprido, onde o corpo ficou grudado na maca e uma parte dele se soltou quando foi erguido.

Secretaria não vê problema

A secretaria municipal da Saúde admitiu que, neste mês, dois corpos permaneceram além do prazo normal nos dois postos de saúde citados na matéria, mas afirmou que os casos foram exceção. “Normalmente isso acontece com moradores de rua, que são conduzidos às unidades em estado grave e ali falecem. Quando a morte não é violenta, o próprio centro de urgências fornece o atestado de óbito, que só pode ser emitido com a identificação da vítima”, explica Matheus Chomatas, superintendente de gestão da prefeitura e responsável pela área de urgências médicas.

De 24 a 36 horas é o prazo para que os corpos sejam identificados pela coleta de impressões digitais e por documentos. Se o cadáver não foi identificado a tempo, existe uma parceira entre os hospitais, como o Hospital do Trabalhador, e Instituto Médico-Legal (IML) que geladeiras para acondicionar o corpo. No entanto, segundo Chomatas, eventualmente pode haver geladeira indisponível, em manutenção, por exemplo. “Se essa fosse uma situação corriqueira, já teríamos tomado providências, pois não há falta de recurso”, garantiu.

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