Ao término do período de visitas, quando a polícia do Alto Maracanã fazia a contagem dos presos para colocá-los nas celas, alguns se recusaram a entrar nos cubículos. Segundo o superintendente Valdir Bicudo, o grupo do X4 (xadrez número 4), entrou sem qualquer problema. Porém os presos do X1, X2 e X3, liderados por Everton Maurício de Oliveira (X2) e Fábio Bonfim Camargo (X3), disseram que só retornariam se fosse reduzida a quantidade de pessoas nas celas. A delegacia, que hoje abriga 84 presos, tem capacidade para 16.
Bicudo disse que os "rebelados" se opuseram a qualquer negociação e ameaçaram promover quebradeira no xadrez. Com medo de um rebelião, os responsáveis pela delegacia chamaram apoio do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), que segundo Bicudo, não intimidou a "teimosia".
"Vamos chamar o Cope", disse Bicudo aos presos. "Então chame", responderam os detidos.
Com a chegada do Cope, familiares dos presos contaram ter ouvido oito tiros de dentro da delegacia, além de gritos dos detentos. De acordo com o superintendente da DP, os sons de tiros ouvidos na tarde de ontem foram, na verdade, bombas de efeito moral lançadas pelo Cope para controlar a confusão. E sobre agressões com os detidos, ele rebate. "Algumas vezes precisamos usar a força para controlar algum preso mais nervoso, mas nunca usamos de violência", afirma. Bicudo ainda diz que o preso conhecido por Raul já foi pego com um celular dentro da cela. Numa outra ocasião, um menor de 16 anos também foi pego com um telefone móvel, que disse ter conseguido por intermédio de Raul.
A última rebelião que ocorreu na delegacia, na madrugada de 30 de outubro, trouxe um prejuízo de R$ 6 mil aos cofres públicos. Este foi o valor da reforma e consertos feitos em decorrência do fato. Nesse fato, sete presos foram enviados à Fazenda Rio Grande.
Transparência na marmita
Com a proximidade do final de ano, a incidência de tentativas de fuga das delegacias é grande, quando os presos tentam passar as festas de fim de ano junto aos familiares. Como prevenção para fugas, as portas das celas da delegacia do Alto Maracanã foram reforçadas com chapas de aço, ficando apenas um pequeno espaço para a entrada de comida. Desta forma, os presos não saem mais dos cubículos para pegar a marmita. Ela é entregue pelo vão das grades e a distância evita que o carcereiro seja rendido, como acontece freqüentemente em rebeliões e fugas. A comida agora é servida em potes plásticos transparentes, os mesmo onde são colocados os alimentos trazidos pelos familiares. Os recipientes levados pelas visitas, que antes escondiam fundos falsos e artimanhas para esconder drogas, serras e celulares, agora não entram mais nas celas.