Entre todos os irmãos de uma ninhada da raça Bloodhound, ainda filhote, Zeus era o mais agitado. Ousado, portava-se como o líder da matilha. Por ter essas características, há cinco anos, ele foi escolhido para entrar na Polícia Militar.
Cães dessa raça recebem treinamento para buscar pessoas em matas, já que tem um faro muito apurado, são rústicos e grandes e tem predisposição de ir atrás de pessoas. “A seleção dos filhotes é muito rigorosa, em criadouros conhecidos. São todos de raça”, explica o capitão Krainski, comandante do Canil do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).
Zeus passou dois anos treinando antes de ir para as ruas atender ocorrências. Já faz cinco anos que ele é acionado, na maioria dos casos, para procurar bandidos que, ao fugir da polícia, se escondem no meio do mato. Uma ou outra vez ele ajudou a procurar pessoas desaparecidas, em apoio ao Corpo de Bombeiros.
Multitarefas
No total, 37 cães fazem parte do Canil da PM na região de Curitiba. Os colegas de Zeus recebem treinamento para buscar drogas, explosivos ou exercitam diariamente a obediência para acompanhar policiais em abordagens, patrulhamentos e operações, como os de raças mais agressivas que são levados a partidas de futebol.
Quando completam 7 ou 8 anos, dependendo da saúde, os cães são aposentados. “Ou eles vão para a casa do condutor, o policial que o acompanhava, ou para algum adotante que assina um termo de responsabilidade e se compromete a manter o padrão de cuidados”, conta o capitão.
Cães treinam busca na mata
O Bloodhound Zeus teve a oportunidade de reencontrar um de seus filhotes policiais, na manhã de ontem. Eles participaram de seminário para treinamento de condutores de cães que fazem busca em mata, que vieram do interior. O treino no foi no Parque Ambiental Aníbal Khury, em Almirante Tamandaré.
Durante o seminário, pai e filho mostraram para os alunos como se faz uma busca. Policiais interpretaram um assaltante e uma vítima durante um roubo de carro. Após a perseguição policial, o marginal simulou uma corrida ao mato com o refém e ficou escondido até Zeus chegar.
A demonstração foi clara. Zeus cheirou um pertence do suspeito, colocado em um saco plástico, e depois de ouvir Giovani dizer “busca!”, mudou o semblante e começou a trabalhar. Ele farejou perfeitamente o trajeto feito pelo fugitivo e o localizou em menos de cinco minutos. Giovani comemorou em voz alta: “é isso aí, garoto!”. (veja a simulação em fotos na tira)
Confiança e cumplicidade mais que animal
Há dois anos, Zeus é acompanhado pelo Soldado Giovani. O policial morou muitos anos em um sítio, trabalhou com cães de perímetro na Aeronáutica e assim que passou no concurso público da Polícia Militar, pediu para ir para o Canil. “É com esse trabalho que eu me identifico”, conta.
Quando entrou para a corporação, há quatro anos, ele trabalhava com uma pastora alemã, que foi treinada por outro policial. A parceria durou muito tempo, até que, perto da aposentadoria, veterinários descobriram que a cadela estava com câncer. “Foi tudo muito rápido. Eu já planejava levá-la para a minha casa quando ela se aposentasse quando recebemos a notícia. Um mês depois ela faleceu”, lamenta o policial.
Juntos, Giovani e Zeus já passaram por muitas situações difíceis. No ano passado, depois de um roubo a uma lotérica, um ladrão foi preso e dois entraram em um matagal. Zeus foi quem achou o suspeito. Porém, o homem estava armado e atirou na direção dos policiais.
Giovani protegeu o amigo e a equipe tática que vinha logo atrás da dupla, durante o confronto, atingiu o suspeito, que morreu pouco tempo depois. Nenhum policial se feriu e o terceiro assaltante não foi encontrado.