Reportagem e fotos: Giselle Ulbrich
Beta não tem contato direto com entorpecentes. |
Ser um policial de elite é orgulho para muitos. Mas ter um cão com adestramento de elite, preparado para atuar com sucesso em qualquer ação policial, é questão de honra para os 26 policiais lotados no Canil Central da Companhia de Choque, da Polícia Militar. O canil reúne 44 animais, preparados para farejar explosivos, encontrar drogas, procurar pessoas desaparecidas ou soterradas, ou para patrulhamento de rua. Hoje, data em que a Tropa de Choque completa 31 anos, a Tribuna faz uma homenagem a todos os policiais da companhia, mostrando uma pequena parte do trabalho realizado pelo canil.
Tanta sensibilidade para farejar o que há de errado e complementar o trabalho do policial é facilmente explicado pela quantidade de células olfativas que os cães possuem. Enquanto um ser humano tem 5 milhões destas células na região nasal, um cão da raça pastor alemão tem 250 milhões. Já um blood hound tem 450 milhões. O Canil da Choque possui alguns animais desta raça, especializados na localização de pessoas desaparecidas.
Um deles encontrou, facilmente, um homem que já completava 30 horas de sumiço.
Entre as tantas raças utilizadas, o pastor alemão, explica o tenente Taurino, comandante do canil, é uma das mais utilizadas no trabalho policial, porque é a mais ?completa?. Possui agilidade, aprende rapidamente o treinamento, entre outras características.
Os cães são escolhidos desde cedo na ninhada. Dependendo das características que mostram quando pequenos, são selecionados para diferentes habilidades. Conheça nesta reportagem quais as características que cada tipo de trabalho exige do animal.
O treinamento já começa nos primeiros meses de vida, e a aposentadoria, em torno dos oito anos.
Faro é uma das características do animal que mais ajuda dá ao trabalho policial.
O cão que fareja drogas, explicou o tenente Taurino, comandante do Canil da Tropa de Choque, em geral é bastante ativo.
O treinamento dele é feito com base em simulação de brincadeiras. E ao contrário do que se diz por aí, o animal que procura entorpecentes não é viciado nas drogas para que faça seu trabalho.
O treinamento começa com um bastão qualquer, oco por dentro. Sempre que o policial aparece com o tubo, o cão sabe que tem que correr atrás do brinquedo ou procurá-lo. Com o tempo, pequenas quantidades de drogas são colocadas dentro do bastão. O animal associa o cheiro do entorpecente à brincadeira e sempre que for ordenado, vai procurar por aquele cheiro.
O treinamento demora cerca de um ano e meio.
O cabo Wesolowski e o soldado Proença explicam que, antes de solicitar que o animal faça seu trabalho, os policiais inspecionam o local a ser farejado pelo cão.
A vistoria verifica se não há veneno, cacos de vidro, fios desencapados ou qualquer outro artifício que possa machucar ou assustar o animal e deixá-lo com medo de realizar seu trabalho.
Droga
A labradora Beta, do cabo Wesolowski, e o pastor alemão Xingu, do soldado Proença, fizeram uma demonstração de faro de drogas exclusiva à Tribuna. Primeiro, o cabo verificou o sentido do vento e colocou Beta contra o vento, para que a cadela pudesse analisar todo os cheiros que vinham em sua direção. Em menos de um minuto, a labradora encontrou o bastão com drogas, enterrado profundamente na grama.
Xingu também mostrou o que sabe fazer. Dentro de um veículo, não demorou mais que dois minutos para farejar todo o carro e encontrar a droga no porta-malas, num local de difícil acesso ao focinho e patas do cão.
O soldado Proença mostrou que, quando sente o cheiro do ?brinquedo?, o cão muda o comportamento. Pára de abanar o rabo, o corpo fica rijo, muda a feição e a respiração e fica alucinado pelo objeto.
Adestrador é ?chefe? da matilha
Ataques só são feitos com ordem do policial. |
A obediência ao treinador é a característica mais forte dos cães de patrulhamento. Justamente por circular no meio de muitas pessoas e presenciar situações diversas nas ruas, só podem reagir ao comando do policial, evitando machucar alguém ou agir quando não devem. O pastor belga malinois Magrelo, treinado pelo tenente Feitosa, subcomandante do canil, e o rotweiller Taurus, do soldado Noceti, mostraram os dois extremos dos cães para patrulhamento. Um acaba de iniciar as ?aulas?, o outro já é bastante experiente no serviço.
O tenente diz que, antigamente, os cães eram treinados com certa violência. Recebiam tapas e trancos na coleira quando erravam. Hoje, não se usa mais isso. Magrelo, por exemplo, em início de treinamento, entende as ordens com base em carinho, petiscos e sons.
Bando
Com o tempo, o petisco é substituído por agrados e recompensas verbais, como ?é isso aí, garoto?, ?muito bem?. Mais tarde, a simples companhia do policial torna-se um prêmio para o cão, que sabe que terá que se comportar para ter o amigo consigo. ?O cão entende essa relação como se fosse uma matilha, em que há um animal no comando. Para ele, o adestrador é o líder do bando?, analisa o tenente.
Taurus, preparado para radio patrulha, é capaz de, ao comado do soldado Noceti, capturar civis suspeitos e ajudar em prisões.
Sua grande habilidade é na captura de suspeitos. Nesse momento, cão e policial têm interação que quase dispensa palavras. Taurus parece entender as reações de seu companheiro, quando vê suspeitos. Já fica em alerta com o indivíduo e, ao comando do soldado, parte para o ataque. Só larga quando o policial ordena.
Taurus é capaz de responder corretamente aos seis comandos básicos do treinamento: junto, senta, deita, fica, morde, larga. Compreendendo totalmente estes comandos, diz Noceti, qualquer cão pode ir para a rua.
Calma com bombas
Assim como o cão que procura por drogas, o animal que fareja explosivos também pensa que está brincando. No entanto, a resposta dele não pode ser tão agitada, quanto a do farejador de entorpecentes, que carrega o objeto na boca até seu dono. A reação tem que ser calma e, através de suas atitudes, deve mostrar onde está o material suspeito.
A pastora alemã Vicenza, companheira do cabo Domingos, demonstrou como deve agir. Ao encontrar explosivos, dentro de uma caixa de madeira, afastou o focinho da caixa e sentou-se ao lado dela. Ficou olhando para o cabo Domingos até que ele demonstrasse que percebeu o objeto. Depois disso, aguardou a ordem para se retirar.
Amigos até o fim da vida
Cada policial cuida, alimenta e higieniza o seu próprio animal. Quando um cão fica doente ou ferido, ou chega a hora de sua aposentadoria, os rigorosos e robustos policiais da Choque mostram que também têm coração mole. No dia em que a reportagem visitou o canil, flagrou um dos PMs envolvido em carinhos com um de seus cães que estava doente. E na hora de aposentá-los, em geral, os policiais levam os animais para suas casas e cuidam do fiel companheiro até o fim da vida.
Faro para busca por armas
O pastor alemão Willy, adestrado pelo cabo Adair, também é um cão de radiopatrulha. No entanto, tem uma habilidade muito especial, que é a de encontrar armas. Adair pegou um revólver e deu um tiro de festim. Depois, a reportagem escondeu a arma no mato, ao lado de um bueiro. Para Willy, mal foi necessário levantar o focinho para o ar para sentir de onde vinha o cheiro da arma. Foi diretamente ao mato e localizou o revólver. Willy trouxe o ?brinquedo? na boca.