A máfia do jogo do bicho que opera no Paraná sofreu um duro golpe, ontem, com a condenação de Otaviano Sérgio Carvalho Macedo, 48 anos, o ?Serginho?, único acusado da morte do bicheiro Almir José Hladkyi Solarewcz que estava preso. Após três dias de trabalhos no Tribunal do Júri de Curitiba, o juiz Ronaldo Sansone Guerra anunciou a sentença: 19 anos e 6 meses de reclusão, em regime fechado, por crime hediondo, sem o benefício de apelar em liberdade, além do pagamento das multas processuais. Algemado, ladeado por dois policiais militares e de frente para um grande crucifixo, ?Serginho? ouviu a condenação sem mover um músculo.
No plenário, o promotor, Cássio Chastalo, comemorou o resultado com o assistente de acusação, Cláudio Dalledone Júnior. Na platéia, Ivana Vasconcelos, mulher da vítima, chorava amparada pela mãe. ?Deus ouviu nossas preces. Parece que a Justiça começa a ser feita?, disse ela. ?Tivemos um julgamento tenso, longo e penoso?, salientou o juiz ao encerrar a sessão. A defesa esteve a cargo dos advogados Edson Stadler e Luiz Gustavo Gralak, que prometeram recorrer da sentença. Ao deixar o tribunal, ?Serginho? se dispôs a conversar com a imprensa, mas foi levado ao Centro de Observação e Triagem (COT), ao lado da Prisão Provisória de Curitiba, e lá foi impedido de falar pela direção.
Debates
Os debates entre acusação e defesa iniciaram-se às 10h, com duas horas de duração para cada parte, além da réplica e da tréplica. Chastalo pouco falou e passou a palavra para Dalledone, que desmembrou o processo aos jurados, falando sempre: ?O diabo faz a panela e não faz a tampa?. Com este ditado, ele intercalava a apresentação de declarações de testemunhas. ?Nós estamos colocando no banco dos réus o crime organizado. Pela primeira vez isso acontece no Paraná. A morte de Almir não é um fato isolado. Foi um crime premeditado, encomendado e que ocorreu por causa de dinheiro, de muito dinheiro?, declarou o acusador. Embora não tenham sido apresentadas provas materiais, as provas testemunhais promoveram a condenação do réu.
Ao fim da explanação, a acusação exibiu um vídeo com imagens de Almir e seus filhos em uma festa de Natal; dele na praia e também com a mulher. As cenas eram interrompidas por chocantes fotografias do corpo da vítima crivado de balas estendido na calçada da rua onde foi assassinado, em 20 de setembro de 2000. O vídeo arrancou lágrimas de alguns jurados, fez a platéia se comover e Ivana virar o rosto em direção contrária. ?Não olhe, não olhe?, dizia a mãe dela, protegendo-a. Ao mesmo tempo, familiares de ?Serginho? criticavam a artimanha da acusação. ?Foi um golpe baixo?, comentou uma adolescente.
A defesa usou a tese de negativa de autoria. Numa manobra inteligente, tentou fazer crer que os assassinos de Almir são bicheiros do Rio de Janeiro. Citou até os nomes de três supostos autores, mas não conveceu os jurados. ?Almir foi sim vítima do crime organizado. Foi brutalmente executado, mas não por este homem que está sentado no banco do réus. Este é um ?loque? que arrumaram para colocar a culpa?, alegou o defensor. Segundo ele, Almir foi morto porque tentou implantar o ?jogo dos sonhos? em Curitiba, que seria uma variação do jogo do bicho e concorreria com as máquinas de caça-níquel que estavam começando a infestar a capital, vindas do Rio de Janeiro. Ele chegou a dizer que o sócio argentino de Almir, que com ele iria instituir o ?jogo dos sonhos? em Curitiba, também foi ameaçado de morte dias depois. A ameaça teria sido gravada em uma secretária eletrônica. Mas a fita não foi apresentada no julgamento.