Uma ação solidária nasceu a partir de reportagem publicada pela Tribuna, no sábado, 29 de outubro, que retratou as condições de miséria em que vive Sirlei Dias da Cruz, 19. A jovem viúva, que também sofre pela amputação de parte de uma perna, teve o marido e a filha de 1 ano de idade mortos por um caminhão desgovernado, em julho deste ano. A notícia comoveu o leitor da Tribuna, Leonel Cordeiro, 46, que vive há seis anos nos Estados Unidos, e acompanha o jornal pela internet. Leonel decidiu ajudar Sirlei, um ato de compaixão que deu frutos a partir do serviço prestado pelo jornalismo da Tribuna.
"Graças a Deus eu e minha família estamos muito bem aqui nos Estados Unidos, e por isso podemos ajudar a quem necessita. Além disso somos evangélicos e temos um propósito de sempre auxiliar o próximo. Já contribuímos com três famílias e agora ajudaremos Sirlei", afirma o entregador Leonel Cordeiro que mora em Nova Jersey, Estados Unidos.
Sirlei Dias da Cruz, 19, é sobrevivente de um trágico acidente que dizimou parte de sua família, há quatro meses. Ela conta que, na época, recebeu diversas ofertas de dinheiro, donativos, emprego e até moradia, mas nada havia se concretizado até hoje. "Enquanto eu estava na UTI, diversas pessoas quiseram aparecer para a imprensa, oferecendo de tudo. Não recebi nada disso", conta a jovem, que ainda sofre preconceitos por causa de sua perna amputada.
Sirlei não consegue emprego e lamenta de pessoas que lhe ofereceram uma colocação, mas permaneceram no silêncio depois que viram a deficiência física. Uma das únicas e pouca ajuda que recebeu, antes do alerta feito pela Tribuna, foi o de uma conhecida, dona de farmácia, que lhe cede mensalmente remédios, sabonetes, xampus e outros produtos de higiene pessoal.
Compaixão
Com a reportagem publicada, algumas pessoas se sensibilizaram e resolveram ajudá-la de verdade na semana passada. Uma delas foi Leonel, brasileiro natural de Antonina, litoral do Paraná, atualmente residindo nos Estados Unidos, que acompanha quase diariamente as notícias de seu país de origem através do site (www.paranaonline.com.br). Ele, que já havia acompanhado as notícias na ocasião do acidente, viu o apelo no mês passado e comprometeu-se em ajudá-la sempre que puder, enviando roupas, sapatos e donativos que eles conseguem facilmente nos Estados Unidos.
"Minha esposa até comentou comigo, achando estranho o fato de nenhuma autoridade brasileira ter se sensibilizado com o caso dela. Há também tantas pessoas de posses, que poderiam ter lhe dado alimentação, ou a perna mecânica que ela necessita para ser mais independente. É até engraçado que a ajuda venha de fora de um país tão grande e rico como o Brasil", conta o entregador.
Doação paga o cemitério e fogareiro
Um doador não identificado também fez um depósito na conta de Sirlei (agência 2924/ cc 16791-5), do Banco Itaú. "Eu tinha R$ 0,69 na minha conta, até que antes do feriado de Finados eu vi que tinha uma quantia depositada", diz. Com essa ajuda ela pagou a gaveta no cemitério (R$ 300,00) e o fogareiro que comprou de uma vizinha por R$ 30,00.
A solidariedade despertada em favor de Sirlei parece ter dado novo impulso à sua vida. Com o seguro pela morte da filha, ela deixou o casebre onde morava para viver em uma casa melhor. Com o mínimo que sobrou, a jovem ainda tem que pagar parte de sua dívida com a funerária.
Tragédia
No dia 16 de julho Sirlei saía de uma festa de 15 anos junto com seu esposo, Cleber de Andrade Dias, 22; sua filha, Vitória da Cruz Dias, 1 ano; Cláudia de Andrade Dias, 17, irmã de Cleber; Samara de Andrade Kruger, 8 meses, filha de Cláudia; além de Altair Carmo da Silva, 36, pai da aniversariante que ofereceu uma carona ao grupo. Todos estavam dentro do Kadett placa AHD-2732, que foi atingido por um caminhão desgovernado, conduzido por Claudemir Batista Severino, 45. O caminhoneiro tentava fazer o caminhão pegar no tranco, de ré, em uma ladeira, quando perdeu o controle do veículo e bateu no Kadett, que ainda estava parado logo que as vítimas embarcaram no carro. Sirlei, que passou duas horas presa nas ferragens, foi a única sobrevivente e Claudemir foi sumariamente linchado pelos familiares que estavam na festa.