Comerciantes e moradores da Rua João Betega, no bairro Portão, em Curitiba, estão assustados com a quantidade de assaltos na região. Eles reclamam da falta de segurança, que inclusive já ocasionou a morte de duas pessoas durante um assalto a uma loja. O empresário Mário Brunelo, dono de uma indústria metalúrgica, conta que foi assaltado treze vezes desde 2000. Só neste ano foram quatro crimes. O último aconteceu na quinta-feira, causando um prejuízo de R$ 22 mil.
Brunelo explica que, nos primeiros assaltos, os criminosos levaram equipamentos de metalurgia. A solução encontrada por ele foi colocar seguranças, mas não resolveu, pois eles ficavam intimidados pela ação dos vândalos e com receio de reagir. “Eu coloquei um cachorro dentro do galpão e não entraram mais lá”, comenta. Os assaltos nesse setor pararam, mas começaram no escritório da empresa. Foram levados diversos computadores, impressoras e outras máquinas. Segundo Brunelo, os comerciantes vizinhos também estão preocupados e começam a investir na segurança das propriedades com cercas elétricas e mais cachorros. “Agora não se pode colocar mais seguranças armados por causa do Estatuto do Desarmamento. Então, estamos fazendo isso. Vamos ver se melhora”, conta. Eles acham que os criminosos são da própria região e envolvidos com drogas. “Acredito que são as mesmas pessoas porque os assaltos são feitos da mesma maneira”, afirma.
Além dos assaltos, o descaso por parte da polícia também indigna os comerciantes. Brunelo declara que liga para o telefone 190 e faz os boletins de ocorrência. Os policiais, porém, não aparecem no local. “Uma vez o atendente da Polícia Militar falou para a gente fazer o que achávamos melhor. Fica por isso mesmo”, aponta. “Será que vai ser preciso morrer mais gente para eles aparecerem?”, questiona o empresário.
A reportagem tentou contato com a Secretaria de Estado de Segurança Pública, responsável em responder pela Polícia Militar, mas ninguém foi encontrado para comentar o caso.
Centro é o principal alvo dos assaltantes
Nos últimos anos, o centro de Curitiba se tornou o principal alvo de assaltantes. De acordo com o 12.º Batalhão da Polícia Militar, só no ano passado, 63% dos delitos na cidade aconteceram nas vias públicas da região central. Por causa desse problema, o número de moradores na região também diminuiu drasticamente. A população tem buscado os bairros mais afastados do centro para não correr riscos com a falta de segurança. Mas quem sentiu de perto a diminuição do movimento no local foram os comerciantes.
Após várias reclamações na tentativa de reduzir os casos e recuperar o grande movimento perdido, foi criada no ano passado pela Associação do Comércio do Paraná (ACP) o projeto Centro Vivo. O conselho do projeto é formado por doze pessoas, entre comerciantes, representantes da Prefeitura e do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC). Os organizadores do projeto acreditam que, além de atrair mais gente para os estabelecimentos comerciais da região, é possível diversificar o perfil dos freqüentadores do centro.
“Um dos principais problemas do local é a segurança. Por causa do grande número de lojas acaba chamando a atenção dos assaltantes. Isso afastou a população, mas com o projeto, estamos buscando uma revitalização, trazendo novamente todos os consumidores para a região”, diz o vice-presidente da ACP, Élcio Ribeiro. “A PM está ciente do problema e confirmou que está mobilizando um reforço policial para prevenir os assaltos nos locais próximos às lojas. Estamos encontrando soluções para solucionar o problema”, completa Élcio.
Depois de algumas reuniões com a participação de todos os órgãos municipais, estão sendo estudados e priorizados a instalação de mais dez câmeras de segurança dentro do anel central de Curitiba, aumentando o raio de monitoramento policial nas ruas. Um exemplo da eficácia das câmeras, são as instaladas na Rua XV, desde 2001, que estão funcionando amplamente e garantem a segurança das pessoas no local.
Primeiros resultados
A parceria do projeto com a PM foi o primeiro passo na busca de um novo panorama do local. O deslocamento de novos policiais para a região, assim como motos e carros para reforçar os principais pontos do centro estão sendo realizados, assegurou o comandante do 12.º Batalhão, Sílvio Santos de Moraes Sarmento. Os primeiros resultados positivos já começam a aparecer. De acordo com números de PM, nos dois primeiros meses deste ano, houve uma redução de 17,1% no número de furtos na região. Em janeiro e fevereiro deste ano, foram registrados 29 casos. No mesmo período do ano passado, esse número era de 35.
O comandante Sílvio afirma que a PM vai incrementar a segurança do local, com instalação de novas centrais de monitoramento na região entre as praças Santos Andrade e Osório. “A região é grande, e realmente exige uma demanda maior de policiais, e isso vai acontecer. Setenta novos policiais estão finalizando os cursos e vão dar conta desse problema”, diz. “A presença mais efetiva dos policiais já está fazendo efeito. Afasta o perigo e dá mais segurança para os transeuntes da região”, completa o comandante. (Rubens Chueire Júnior)