A violência corre solta na Vila Esperança, bairro Atuba. Em menos de 48h duas execuções foram registradas na região e há possibilidade que os casos tenham ligação. Ontem, em plena luz do dia, o comerciante José Ferreira Leal, 43 anos, foi assassinado com pelo menos três tiros em frente à residência dele, situada na Rua Adelino de Paula. Há informação de que uma possível alcagüetagem possa ter motivado a morte.
Não foram obtidos muitos dados sobre como aconteceu o homicídio, apesar da rua ser movimentada e a maioria dos vizinhos estar presente nas casas. No local impera a “lei do silêncio” e muitas vezes desentendimentos são resolvidos à bala, como o assassinato ocorrido na última terça-feira. O tráfico de drogas na região é outro fator que motiva os moradores a ficarem calados e não prestar informações.
Morte
De acordo com a esposa da vítima, à tarde José foi até uma oficina buscar seu automóvel (um Fusca). Por volta das 16h30 retornou e estacionou o carro em frente à residência. Empurrou o portão, andou alguns metros, abriu a porta da casa e atirou o jornal que carregava para dentro da sala. Deu um grito avisando às filhas que estava saindo novamente. Ao retornar para o portão, a vítima foi surpreendida pelos disparos. Atingido no peito e na cabeça, José caiu morto no pequeno pedaço de calçada em frente à residência, manchando-a de sangue. O barulho dos disparos alertou uma das filhas que foi verificar o que havia acontecido. Para seu desespero, era o próprio pai que estava caído morto.
Não há pistas sobre o assassino, apenas que era um rapaz moreno e que vestia uma jaqueta bege. Após efetuar os tiros saiu correndo. Segundo informações do soldado Marcos, do Regimento da Polícia Montada (RPMont), foi cogitado que o assassino entrou em um carro branco para continuar a fuga.
No local foram encontrados três cápsulas de pistola calibre 380 deflagradas.
Os familiares não souberam informar se a vítima foi vista conversando com alguém antes dos disparos ou se simplesmente foi executada.
Alcagüeta
O motivo da morte de José é um mistério para os parentes, que informaram que ele era morador há 20 anos na região e nunca havia tido nenhum desentendimento. “Nunca teve briga nem discussão com ninguém”, informou a esposa Maria de Lourdes. Também não contava com antecedentes criminais. Conforme suas declarações, na quarta-feira, um conhecido disse para ela que na vila havia o comentário que José seria “alcagüeta”, e que teria contado quem seriam os participantes da morte de Jurandir Cardoso dos Santos, 23 anos, o “Jura”, assassinado na terça-feira a uma quadra de distância dessa execução.
Para Lourdes este não deve ser o motivo do assassinato, pois os autores da morte de “Jura” foram presos logo após cometerem o crime. “Muita gente já morreu por nada aqui, Acho que aconteceu isso mais uma vez”, afirmou.
Ela confirmou que José conhecia “Jura” e os matadores dele, Everthon e o menor. “Não eram amigos íntimos. Mas ele conhecia pois é proprietário de bar e conversava com todo mundo da vila”, destacou. O bar de propriedade de José fica ao lado da casa dele. Além dos policiais militares do RPMont, investigadores da Delegacia de Homicídios também estiveram no local para obter mais dados.
Outro motivo pelo qual Lourdes não acredita no motivo da morte do marido é a experiência que eles têm em morar na região há quase duas décadas. “Todo mundo sabe que alcagüeta morre. Ele não comentaria nada, porque conhecia como as coisas funcionam por aqui”, finalizou.
Relação
No final da tarde de terça-feira, “Jura” e um colega dele, conhecido apenas por Leandro, foram baleados quando estavam em um bar com outros amigos. “Jura” correu para salvar a vida, mas acabou assassinado com mais de sete tiros. Caiu sem vida no gramado em frente a uma residência na Rua Arnaldo Batista de Castro. Leandro foi encaminhado ao hospital por terceiros. Os autores foram presos pela PM minutos após o homicídio.