Começou ontem o julgamento de mais dois acusados de um dos casos mais rumorosos que aconteceram no Paraná nos últimos anos. Airton Bardelli dos Santos e Francisco Sérgio Cristofolini sentaram no banco dos réus do Tribunal do Júri, em Curitiba. Os dois são acusados de matar o garotinho Evandro Ramos Caetano, 6 anos, durante um ritual de magia negra há 13 anos. O julgamento está previsto para durar oito dias.
Outros três acusados – Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula Ferreira e Davi dos Santos – foram condenados em julgamento realizado em abril do ano passado. Celina e Beatriz Abagge, mulher e filha do então prefeito de Guaratuba, Aldo Abagge, foram absolvidas em 1998, quando os jurados entenderam que o corpo não era de Evandro. O Ministério Público recorreu e espera novo julgamento.
Interrogatórios
O primeiro a ser interrogado foi o réu Airton Bardelli dos Santos. Ele falou das 10h ao meio-dia, respondendo perguntas formuladas pelo juiz Rogério Etzel, pelos promotores de Justiça Lúcia Inez Giacomitti Andrich e Paulo Sérgio Markowick de Lima, pelo seu defensor Matheus Gabriel Rodrigues de Almeida e pelo advogado de Cristofolini, Haroldo César Nater. Bardelli negou ter participado da morte do garoto e de qualquer envolvimento em rituais de magia negra. Ele alegou que foi torturado por policiais várias vezes.
Após o longo interrogatório, o juiz determinou que o Tribunal entrasse em recesso, só retornando às 14h, quando o outro réu, Francisco Sérgio Cristofolini, foi interrogado por quase uma hora. Ele afirmou que as imputações que lhe eram feitas são falsas e não soube explicar porque estava sendo acusado. "O caso foi montado", argumentou o réu. Ele garantiu que não freqüentava o terreiro de Osvaldo Marcineiro. O juiz lembrou que em 1992 a "Operação Magia Negra", desenvolvida no litoral, foi liderada pelo tenente-coronel Valdir Copetti Neves, que na época era capitão e chefiava os policiais militares quando efetivaram as prisões dos sete acusados. O relatório dos militares considerava Cristofolini como pistoleiro da família Abagge. O réu voltou a afirmar que não tinha nenhum envolvimento. "Também fui torturado", salientou o acusado.
Por volta das 15h, começaram a leitura do processo, que possui 53 volumes, e deverá durar cerca de dois a três dias. A previsão é que as testemunhas de defesa e de acusação, entre elas o tenente-coronel Neves, comecem a ser ouvidas na segunda-feira.
Pais
Ademir Batista Caetano e Maria Ramos Caetano, pais de Evandro, assistiram atentamente o julgamento de Airton Bardelli e Francisco Sérgio Cristofolini, durante todo o dia de ontem e prometem comparecer ao plenário do Tribunal do Júri durante todo o julgamento. "Vamos ver até o final e esperamos que eles sejam condenados como os outros", afirmou Ademir.
Ele lembrou que este ano Evandro completaria 20 anos no dia 12 de setembro. "Tudo mudou na nossa vida. Parece que está faltando alguém", disse Ademir.