A diretoria do Educandário São Francisco, em Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba, e a polícia começaram a ouvir ontem os depoimentos dos menores detidos no Educandário, para a apuração dos detalhes sobre o motim que deixou sete adolescentes mortos na madrugada de sexta-feira. O objetivo é identificar possíveis maus tratos cometidos por funcionários do reformatório. “Aqueles que tiverem seus nomes citados por mais vezes serão afastados de suas funções”, disse o secretário de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social, padre Roque Zimmermann.

Para a representante do Conselho Federal da Ordem os Advogados do Brasil (OAB) no Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Marta Marília Tonin, os problemas não se restringem apenas à construção de novos prédios. Em nota divulgada ontem, Marta aponta a política do governo estadual, que centraliza em apenas um local a maioria dos jovens infratores de todo o Paraná, como uma das principais causas do motim.

Corpos

Os corpos dos sete adolescentes mortos durante a rebelião na madrugada de sexta-feira no Educandário São Francisco, em Piraquara, já foram entregues para as famílias, que moram em diversas cidades do Estado. A violência das mortes foi o que mais chamou a atenção dos familiares dos jovens. Eles foram mortos a golpes de estoque – arma branca feita de pedaços de armários de metal – no pescoço e na cabeça. Os velórios e enterros começaram a ser realizados ontem.

Os parentes de Valdecir Aparecido Dalva (17 anos), que moram em Santa Tereza do Oeste (20 quilômetros de Cascavel), estavam assustados com as agressões. As famílias dos mortos também não se conformam com o ocorrido. A mãe de Oséas Carlos (15 anos), Vera Lúcia Pereira, disse que vai lutar, a partir de agora, para que outras pessoas não passem pela mesma tragédia.

O diretor-presidente do Instituto de Ação Social do Paraná (Iasp), José Wilson de Souza, explica que todos os familiares dos internos foram avisados anteontem sobre a motim e o estado de cada um. As visitas estão suspensas, com previsão de que voltem ao normal no final da próxima semana.

Ontem à tarde, 150 adolescentes que estavam abrigados no ginásio do educandário voltaram aos alojamentos, representando 70% dos internos. A outra ala, na qual foram queimados colchões, ainda necessita de alguns reparos. “Ela deve esta pronta em quatro ou cinco dias. Depois disso, os outros adolescentes voltarão aos alojamentos”, afirma Souza. Os colchões e cobertores danificados pelo fogo e pela água (usada no combate do incêndio pelo Corpo de Bombeiros) já foram trocados. Não houve uma grande destruição do educandário, de acordo com o Iasp. Somente alguns móveis, armários, portas e vidros foram quebrados. Souza explica que quase tudo já foi arrumado e a rotina praticamente voltou ao normal.

Para ele, a morte dos adolescentes foi um fato isolado. “Foram brigas e ofensas entre eles. Estamos reunidos para discutir sobre possíveis medidas. Se tiver que mexer alguma coisa, teremos condições de anunciá-las até quarta-feira”, comenta.

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