Coelhinho de pelúcia poderá complicar bandidão

Considerado um criminoso frio e truculento, capaz de torturar uma criança de 3 anos só para se vingar de um ex-cúmplice, Marcelo Moacir Borelli, 35 anos, voltou a ter seu nome em evidência no noticiário nacional ao receber, na Penitenciária Estadual de Londrina (PEL) – onde está recolhido desde dezembro do ano passado – um bichinho de pelúcia recheado com um falso brilhante. A pedra de vidro, lapidada como se fosse uma jóia, foi encontrada ontem pelos seguranças. O delegado Jurandir Gonçalves, que investiga o estranho caso, diz suspeitar que o próprio Borelli mandou que lhe enviassem o “presente” para testar a segurança da cadeia.

O coelhinho de pelúcia só não chegou às mãos do criminoso por causa de um problema conjugal. O pacote, vindo de Corumbá (MT), tinha como destinatária a mulher de Borelli, mas ela deixou de visitá-lo na prisão há pouco mais de duas semanas, por causa de uma briga ocorrida por motivos ignorados. Como o embrulho ficou no setor de segurança da cadeia por vários dias, chamou a atenção dos funcionários, que ontem resolveram abri-lo.

Surpresa

Dentro do pacote estava o brinquedo e ao lado dele um bilhete informando que no interior do coelhinho havia outro presente. Descosturando-o foi possível encontrar a pedra transparente. A princípio pensou-se ser um brilhante, mas com a ajuda de peritos da Caixa Econômica Federal, especialistas em análise de jóias, foi constatado que se tratava de uma peça falsa, feita de vidro.

O delegado responsável pelo caso pretende ouvir Borelli nos próximos dias, na tentativa de desvendar o mistério. A mulher do criminoso também deverá ser ouvida. A polícia tentará ainda identificar o remetente. “Não acredito que isso tenha sido só uma brincadeira”, afirmou o policial, suspeitando da existência de mais algum plano mirabolante de Borelli.

Fama

Filho de um rico cerealista do interior do Paraná, que faliu e deixou a família em dificuldades financeiras, Borelli não se conformou em perder as mordomias a que estava acostumado e numa crise de revolta, apesar de ter dois cursos superiores incompletos, resolveu virar bandido. Passou a roubar carros e depois assaltar bancos e carros fortes, transformando-se em um indivíduo perigoso e calculista. Líder de quadrilha, não tinha dificuldade em formar bandos pelos diferentes locais por onde passava. Dentre seus crimes mais ousados está o roubo de 60 quilos de ouro do compartimento de carga de um avião, no aeroporto de Brasília. Ele também é suspeito do seqüestro de um avião em Foz do Iguaçu, de cujo interior foram roubados milhares de reais.

Porém seu crime mais revoltante e que lhe valeu a fama de homem cruel foi a tortura empregada contra uma menina de 3 anos, filha de um ex-cúmplice. Ele submeteu a criança a choques elétricos, surras e outras atrocidades, filmando tudo o que fazia. Seu objetivo era enviar a fita para o pai da menina, que ele supunha tê-lo denunciado à polícia paranaense, após um assalto a carro forte. As torturas aconteceram em um sobrado alugado em São José dos Pinhais, de onde o bandido e duas cúmplices filmavam e observavam a chegada de aviões e carros blindados no Aeroporto Afonso Pena. Suspeita-se que ele planejava outro ousado assalto seqüestrando mais um avião.

Depois de sua prisão, ocorrida quase que por acaso quando retornava do Paraguai com um carregamento de armas contrabandeadas, ele foi submetido a vários julgamentos e está condenado a mais de 160 anos de prisão. Ele já passou pela polícia brasiliense e esteve em presídios de Belo Horizonte, São Paulo e Campo Grande, até chegar em Londrina. Quando recolhido em Brasília, chegou a ser apontado como um dos suspeitos de ser o pai do bebê que a cantora mexicana Glória Trevi estava esperando. Ela engravidou na cadeia.

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