Os cobradores de ônibus que trabalham em estações-tubo de Curitiba estão reclamando dos descontos, feitos em folha de pagamento, de valores levados por bandidos em assaltos. Os trabalhadores precisam devolver o dinheiro, mesmo que comprovem com registro de ocorrência na polícia e testemunhas, que foram atacados por ladrões. O desconto é feito diretamente na folha de pagamento, e aparece como “adiantamento extra”.
O cobrador – que não quis se identificar com medo de represálias – e trabalha em um tubo no bairro do Portão contou que foi assaltado no mês de junho, na hora em que abria o cofre da estação. O ladrão apontou uma arma para o trabalhador e exigiu o dinheiro – cerca de 198 em passagens. No mês seguinte a empresa começou a descontar R$ 79,80 do salário de R$ 502,00 do cobrador. “A empresa já avisou que será feita a cobrança em quatro vezes”, comentou.
Confirmação
Um outro cobrador que trabalha na região do bairro Batel também confirmou a cobrança. Há dois anos ele foi assaltado e o desconto foi de R$ 53,00. No mês de julho deste ano ele foi novamente vítima de um assalto, quando os ladrões levaram R$ 76,00. Até agora, ele não teve o valor descontado, mas acredita que virá no salário do próximo mês. “A gente é assaltado duas vezes: uma pelo ladrão e a outra pela empresa”, comentou.
O secretário do Grupo de Apoio dos Povos Oprimidos, Alcy Santana, já levou a reclamação ao Ministério Público do Trabalho, e aguarda uma resposta. Santana juntou ao documento um abaixo-assinado de comerciantes da região do bairro Portão, que pedem mais segurança nas estações-tubo e a não cobrança dos valores roubados das vítimas dos assaltos. “Eles são apenas vítimas da falta de segurança”, falou. Santana defende a instalação de câmeras de vídeos nas estações para que os bandidos possam ser identificados e presos.
Sindicatos
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo (Sindimoc), Denilson Pires, disse que essa cobrança feita por parte das empresas é ilegal. Existem apenas duas circunstâncias em que ela é devida, diz o sindicalista: quando mantiveram mais de trinta passagens na gaveta ou que desviarem do trajeto indicado pela empresa para a entrega dos valores. “Fora essas circunstâncias, o cobrador não pode ser penalizado”, disse Pires, orientando os trabalhadores a procurarem o sindicato para denunciar.
Segundo ele, a instalação de câmeras de vídeo nas estações é inviável, e já foi testada em anos anteriores. “Os bandidos levaram até o equipamento”, falou. Para o presidente do Sindimoc a forma mais eficiente para evitar ou reduzir os assaltos às estações tubo é a população utilizar os cartões eletrônicos. “Com isso o cobrador não fica com dinheiro em caixa o que deixa de ser atraente para os bandidos”, falou.
O sindicato que representa as empresas de transporte coletivo foi procurado para falar sobre o assunto, mas nenhum representante foi encontrado.