Por apenas 26 reais, o cobrador Samir Frisson Forlin, 21 anos, morreu no seu posto de trabalho, às 22h20 de terça-feira. Mesmo sem reagir à voz de assalto, o jovem recebeu um tiro na cabeça, quando o ônibus da linha Jardim da Ordem passava pela Rua Ernesto Germano Francisco Hannemann, Tatuquara. Pelo menos vinte passageiros assistiram ao assassinato. O motorista Laércio José Bender entrou em estado de choque depois que o Siate constatou a morte de seu companheiro de trabalho.
Crime
O coletivo parou a poucos metros do ponto do cruzamento com a Rua Marçal Justen, mas conforme apuraram o sargento Bernini e o soldado Claudemir, do 13.º BPM, o assaltante já estava entre os passageiros há mais tempo. Uma testemunha descreveu a cena. “Ele mandou todo mundo deitar no chão e disse para ninguém olhar para ele. Havia crianças no ônibus.” Em seguida, o bandido foi até o cobrador e ninguém ouviu qualquer discussão entre os dois. “Ele não reagiu e, mesmo assim, foi assassinado”, relatou o sargento. Os passageiros foram tentar salvar o trabalhador e colocaram-no no chão do coletivo. Socorristas do Siate estiveram no local, mas nada puderam fazer para impedir a morte de Samir. A descrição do assassino era de um homem usando boné e agasalho azul ou verde-escuro.
Indignação
Funcionários da empresa Redentor conferiram o montante levado: cerca de 26 reais, relativos a 19 passagens. “Enquanto existir dinheiro dentro dos ônibus vão continuar a morrer companheiros”, desabafou Denilson Pires, presidente do Sindimoc, inconformado com mais essa vítima da violência contra profissionais do transporte coletivo.
Protesto com paralisações
Rosângela Oliveira
O assassinato do cobrador Samir Frisson Forlin, 21 anos, motivou uma série de protestos. Ontem à tarde, os ônibus das linhas Jardim Ludovica, Jardim da Ordem e Santa Rita deixaram de circular desde as 16h. O serviço voltaria ao normal hoje, a partir das 5h. Hoje, novamente, os usuários ficarão sem transporte coletivo na região. A partir das 20h, as linhas Santa Rita-CIC, Santa Rita-Pinheirinho, Jardim da Ordem e Jardim Ludovica ficarão desativadas por tempo indeterminado. “Enquanto o culpado não for preso, a situação não volta ao normal”, disse o presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana, Denilson Pires.
Pires considerou a medida “amarga para a população”, porém necessária. A decisão tem o apoio da Urbs. “Negociamos esse acordo como uma medida alternativa para não paralisar o sistema inteiro de Curitiba e Região Metropolitana”, afirmou o diretor de Transporte da Urbs, Euclides Rovani. Tanto o Sindimoc quanto a Urbs esperam que a população denuncie o criminoso pelo disque-denúncia da Polícia Militar (0800-6437090) ou para o próprio Sindimoc (323-5583).
Ontem, no final da tarde, o presidente do Sindimoc e representantes do sindicato estiveram pessoalmente no terminal de ônibus do Pinheirinho explicando a situação para os usuários do transporte coletivo. A alternativa para os moradores das regiões atendidas pelas linhas paralisadas era pegar outros ônibus e caminhar entre três e quatro quilômetros para chegar ao destino. “Mesmo assim, a maioria das pessoas está nos apoiando”, disse Pires.
No mesmo horário em que as linhas começaram a ser paralisadas, moradores do Tatuquara promoveram manifestação de protesto pela morte do cobrador, no local do assassinato.
Violência
O presidente do Sindimoc disse que se nenhuma decisão fosse tomada, o crime ficaria sem solução, pois a população vem sofrendo com a crescente onda de violência na cidade. “Ontem foi o cobrador, e amanhã pode ser outra pessoa, sem que ninguém ofereça segurança”, reclamou Pires. Ele cobrou da Prefeitura a implantação imediata dos cartões eletrônicos, que substituirão os vales-transporte, como forma de reduzir os assaltos em ônibus e estações-tubo. Só este ano, já aconteceram 2.500 assaltos em ônibus na cidade – uma média de treze por dia.
A implantação dos cartões eletrônicos de transporte deverá acontecer a partir de setembro, informou o diretor da Urbs, Euclides Rovani. Segundo ele, cerca de 25 mil trabalhadores de empresas da Cidade Industrial de Curitiba já estão utilizando o sistema, e até o final do mês será concluída toda a distribuição de cartões para os idosos. Rovani explicou que os cartões terão o nome e identidade do usuário. Em caso de perda ou furto, os créditos poderão ser cancelados pelo titular do cartão.
“O sistema será parecido com um cartão de crédito”, comparou. O investimento da Prefeitura no sistema de cartões é de cerca de R$ 5 mil por ônibus, dentro de uma frota de 2.741 veículos. A expectativa é cadastrar 400 mil cartões em Curitiba e Região Metropolitana. Mas Euclides Rovani não acredita que o novo sistema será a solução para o fim dos assaltos aos ônibus. “O dinheiro ainda vai continuar circulando, isso não poderemos evitar”, finalizou.