Foto: Átila Alberti

Renato: ?Nunca teve ritual em colônia cigana?.

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Dos quatro acusados de matar a garotinha Giovanna dos Reis Costa, 9 anos, em suposto ritual ocorrido em Quatro Barras, há pouco mais de um ano, dois deles ainda não foram interrogados pela Justiça: o cigano Renato Michel, 38 anos, e sua filha, de 16 anos, que está sumida. Renato teve prisão preventiva decretada e, mais tarde, revogada. Os outros acusados, Vera e Pero Petrovitch, foram presos em 25 de maio.

Ontem, Renato concedeu entrevista exclusiva à Tribuna. Nervoso, muitas vezes demonstrando estar assustado, deu sua versão da noite do crime (10 de abril de 2006), alegando inocência. Defendeu-se dizendo que está sendo vítima de preconceito e assegurou que o verdadeiro assassino está solto.

Depois de falar à reportagem, Renato afirmou que estará à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento.

Tribuna: De acordo com a denúncia do Ministério Público, você, sua filha, Vera e Pero se reuniram na casa em Quatro Barras, onde acertaram que precisavam encontrar uma menina virgem para realizar trabalhos que garantissem sorte ao casamento do outro filho de Vera. Isso aconteceu?

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Renato: Essa reunião não existiu. Nunca teve esse ritual em colônia cigana ou na minha família.

T: Ainda de acordo com a denúncia, Pero e sua filha compraram a rifa de Giovanna, a atraíram para dentro da casa e ligaram para que você fosse até lá iniciar o sacrifício da criança.

R: Essa é uma acusação gravíssima. Não existiu isso em hipótese alguma.

T: Mas a promotoria afirma que você e Pero colocaram o corpo de Giovanna no porta-malas do carro e que o levaram até o terreno baldio onde foi encontrada?

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R: Em hipótese alguma. De jeito nenhum. Não tem lógica isso. Injustiça total.

T: Moradores que procuravam pela menina desaparecida contaram que viram seu carro na casa dos Petrovitch no dia em que a menina desapareceu. Você esteve lá?

R: Bem na parte da tarde. Por volta das 17h ou 18h.

T: No depoimento de Pero, ele diz que você chegou às 22h e foi embora por volta da meia-noite.

R: Não lembro o horário que saí. O horário que cheguei era esse (…) já estava escuro. Fui com a minha família.

T: Quem foi com você?

R: Minha esposa e meus filhos, de 4 e 7 anos.

T: O que vocês fizeram naquela noite?

R: Aluguei filmes de vídeo. Assistimos a um ou dois. Eu nem participei tanto do filme, pois fiquei mais com as crianças, brincando. Não vi nada estranho na casa, nada de diferente.

T: Os moradores contaram que quando passaram em frente à casa não quiseram incomodar porque acharam que acontecia uma festa. Havia barulho de som alto e alguns copos batendo. Acontecia algum tipo de comemoração?

R: Não havia nenhum tipo de comemoração. Me lembro que estava frio. Não houve nenhum tipo de festa, de evento ou diversão. Só meus filhos brincando.

T: Você conhecia Giovanna?

R: Conheci através dos jornais. Nunca a vi.

T: Entre os indícios coletados pela polícia está o fato de sua filha e Pero terem comprado água sanitária e sabão em pó e, no dia seguinte, as embalagens estarem vazias. Aconteceu alguma limpeza na casa?

R: A casa estava limpa. Uma casa normal como a de qualquer pessoa. Não teve limpeza alguma.

T: A polícia recebeu ligações anônimas apontado os ciganos como autores do crime. Por que alguém teria motivos para acusá-los?

R: Não tenho inimigos. Me dou bem com todos os meus vizinhos. Sou nascido e criado em Curitiba. Não estou entendendo o porquê dessas ligações anônimas.

T: Como o senhor explica o sangue humano encontrado no carro do Pero?

R: Não tenho conhecimento. Não sei de nada de sangue do carro. Tanto é que eu entreguei o carro para a polícia investigar.

E não o lavei.

T: Mas o Pero lavou…

R: Eu não lavei. Entreguei o carro e disse para a delegada que, em nenhum momento, iria atrapalhar as investigações.

T: Quem teria cometido esse crime e por quê?

R: Não faço idéia. Não tenho suspeita alguma. Sei que uma pessoa normal não faria uma coisa dessas. Acredito que, pelo fato de sermos ciganos, estão nos discriminado bastante. Querem jogar toda a culpa em nós por causa disso.

T: Uma vez que, para você, o verdadeiro assassino continua solto, acha que ele pode voltar a cometer outros crimes?

R: Com certeza. Acho que a população deveria tomar cuidado. O assassino está solto, e, como a polícia está se dirigindo só a nós, o risco da população é muito grande.

T: No Rio de Janeiro, aconteceram crimes semelhantes ao de Giovanna, cometidos por um cigano. A comunidade cigana é muito unida, você o conhecia?

R: Acho que é só coincidência. Não sei o caso de lá a fundo, pois não conheço essa pessoa. Não tenho nenhum parente no Rio de Janeiro. A colônia cigana é grande e a gente não conhece a fundo todas as pessoas.

T: Você diz que sempre esteve à disposição da Justiça, mas fugiu quando soube que sua prisão foi decretada.

R: Sempre estive na minha casa, na Rua Doutor Goulin, onde moro há 32 anos. Quando soube da minha prisão, através da Tribuna, fugi. Fiquei com medo de repressão e me afastei. Saí do Estado e voltei quando minha prisão foi revogada. Agora, estou à disposição da Justiça.

T: E quanto à sua filha, também suspeita de participar do crime.

R: Não tenho notícias da minha filha. Estou muito preocupado. Só sei que ela não está no Paraná. Depois da Giovanna, nossa vida mudou muito. O nosso sofrimento é tão grande quanto o da família dela.