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?Binho?, primeiro tido como suspeito, depois inocentado.

O que se apura do escabroso caso é  quase por dedução. O delegado Messias Antônio da Rosa, na época lotado no Alto Maracanã, recorda da chacina sem muitos detalhes, mas salienta que ela aconteceu por ordem do tráfico de drogas. Teria duas ou mais facções interessadas em fornecer drogas para os detentos recolhidos na Colônia Penal Agrícola (CPA), em Piraquara. Hélio Duarte era o chefe de uma destas facções. A mando dos líderes das outras, Taverna e Proceke foram escolhidos para eliminar toda a família Duarte, de modo que a disputa pelo comércio de entorpecentes ficasse reduzida.

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Taverna conhecia Hélio e seus familiares. Freqüentava a casa deles e apanhava drogas para levar à Colônia Penal. Ele cumpria pena por assaltos e quando saía com portaria, retornava levando as ?encomendas?.

Na noite em que chegaram na casa das vítimas – na Rua Izabel Capelari Antoniami, 863 -, foram recebidos com cerveja e cigarros de maconha. Horas depois sacaram das armas, amarraram todos que estavam no local e os mataram. As crianças foram executadas com golpes de picareta – a ferramenta estava na casa. Os adultos levaram tiros. Os assassinos fugiram. Proceke foi para Londrina, onde tinha parentes. Taverna ficou na Região Metropolitana.

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Os acusados fizeram a reconstituição do crime.

Capturados

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No domingo de Carnaval os dois foram presos. A jovem e o garoto que sobreviveram à chacina haviam identificado Taverna que, ao ser capturado, forneceu o nome do cúmplice. No dia 12 de março a polícia fez a reconstituição do caso. Taverna forneceu detalhes de toda a ação, não deixando dúvidas a respeito da autoria. Assumiu todas as mortes e assegurou que Proceke o ajudou a matar Hélio. Disse, na época, que devia R$ 1 mil para Hélio, dívida de drogas que havia levado para entregar aos presos e que Hélio tinha prometido matar toda a família dele, caso não efetuasse o pagamento. Então resolveu matar antes a família do traficante.

Já na cela da delegacia, Taverna acusou Rubens Adriano Duarte, o ?Rubinho? ou ?Binho?, também filho de Hélio, de ser o mandante da chacina. Assegurou que o rapaz queria tomar o lugar do pai. Dias depois, já na carceragem do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), para onde tinha sido transferido, ao conversar com Proceke, afirmou que ?Binho? não tinha nada a ver com o caso, mas que o havia acusado, para que fosse preso e colocado na mesma cela que ele, para que também o matasse, uma vez que sua missão era eliminar a família toda.

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Somente antes de se suicidar, Taverna ousou citar mandantes, escrevendo seus apelidos na lousa da cela. Provavelmente ele sabia que seria morto numa ?queima de arquivo? e pode ter resolvido se antecipar aos seus assassinos.

Drama do filho

Rubens Duarte, o ?Binho?, foi apanhado após a denúncia de Taverna e amargou alguns meses na prisão, até que a juíza da comarca decidiu não levá-lo a julgamento, por falta de provas. Colocado em liberdade, entregou a casa dos pais para o advogado que o defendeu, a título de pagamento de honorários, e até hoje mora no mesmo bairro.

Quando interrogado pela polícia confirmou que o pai era traficante há mais de 30 anos, mas que nunca havia matado ninguém. Ele fornecia drogas para os viciados do Alto Maracanã e da Colônia Penal Agrícola.

O rapaz negou envolvimento com a chacina, assegurando que tinha um bom relacionamento com o pai e com toda a família, fato confirmado por outros parentes ouvidos no processo. Naquele dia ele havia passado em casa, conversado com o pai e saído em seguida para ir até um bar. Do bar viu quando chegaram viaturas das polícias Militar e Civil em sua casa e correu até lá, tomando conhecimento das mortes. Ele acredita que se estivesse em casa, também seria executado.