Mais do que os restos mortais de um assassino, a cova em que foi sepultado Marcos Antônio Taverna guarda também um grande segredo: os nomes dos mandantes da maior chacina registrada no Paraná, ocorrida no Alto Maracanã, em Colombo, há quatro anos. Taverna, na época com 27 anos, matou a tiros e golpes de picareta toda uma família – inclusive três crianças – num total de nove pessoas. Um mês depois, suicidou-se por enforcamento numa das celas da Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP). Quando interrogado pela polícia, apresentou uma versão nada convincente para seu brutal ato. Antes de se matar, porém, deixou escrito na lousa da cela um último recado: ?Quem mandou fazer a chacina foi o Bispo e o Pele, e o Binho sabia de tudo?. Esta acusação nunca foi investigada.
Marcos Antônio Taverna. |
O processo sobre a chacina, acontecida na noite de 28 de fevereiro de 2003, uma sexta-feira que antecedia o Carnaval, leva o número 2003/1047-0, tem dois volumes e se arrasta pelas abarrotadas salas da Vara Criminal de Colombo, por onde tramitam outros 880 processos-criminais, sobrecarregando de trabalho o escrivão e o juiz, que são os mesmos que atuam na Vara de Família, Infância e Juventude.
Em data ainda a ser definida, os volumes deverão ser reencaminhados ao Tribunal de Justiça, já que o único acusado pelo crime que está preso – Marcos Roberto Jardim Proceke, 31 – entrou com recurso através de advogado, alegando inocência e pedindo para não ser levado a júri pelas nove mortes. Proceke também passou a contar uma versão diferente daquela dada à polícia e caso seu pedido de impronúncia seja aceito, ninguém será punido pelo mais cruel e violento caso de assassinato em série já registrado pela imprensa paranaense.
Suicídio ou assassinato?
Marcos Roberto Proceke. |
O principal acusado, Marcos Antônio Taverna, enforcou-se em sua cela, a de número 16 da sétima galeria da PEP, 30 dias após os crimes. Ele estava no isolamento e foi encontrado dependurado em um lençol azul, preso à fiação elétrica. Na lousa deixou o recado apontando culpados, mas apesar da revelação, as investigações se deram por encerradas com a sua morte. Até hoje há policiais que suspeitam que ele foi assassinado (?queima de arquivo?) e que o suicídio por enforcamento foi simulado.
Binho, um dos citados pelo criminoso, chegou a ser detido e denunciado pela promotoria, mas foi impronunciado (não foi mandado a júri) pela juíza Mila Aparecida Alves da Luz, por falta de provas. Ele é filho, neto e irmão das pessoas chacinadas. Os dois outros – Bispo e Pele – nunca foram identificados, embora na época tenham surgido comentários de que eram detentos da Colônia Penal Agrícola.
A única certeza que a polícia tem é que as mortes aconteceram por ordem do tráfico de drogas. Naquela noite foram executados o traficante Hélio Dias Duarte, 51 anos, e todos os demais integrantes de sua família que estavam em casa, bem como um jovem viciado, que havia chegado para comprar um cigarro de maconha.
* Na edição de amanhã, o leitor conhecerá a disputa pelos pontos de venda de drogas, que cuminou na chacina.