Celina e Beatriz Abagge voltam ao banco dos réus

Depois de 17 anos e sete dias do assassinato do garoto Evandro Ramos Caetano, em Guaratuba, durante suposto ritual de magia negra, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que duas das acusadas, Celina Cordeiro Abagge e a filha dela, Beatriz Abagge, devem voltar ao banco dos réus.

A decisão foi comunicada, ontem, ao juiz da Vara Privativa do 2.º Tribunal do Júri de Curitiba, onde deverá ocorrer o novo julgamento, cuja data ainda não foi definida, mas que pode acontecer ainda este ano.

Celina e Beatriz protagonizaram, como rés, o mais longo julgamento da história da Justiça brasileira, no Fórum de São José dos Pinhais, em março de 1998. Durante 34 dias, o caso foi exposto aos jurados, que decidiram pela absolvição das duas, entendendo que o corpo do menino encontrado numa serraria, em Guaratuba, poderia não ser o de Evandro. Isso contrariou o exame de DNA, que dava o resultado positivo de 99,007%, e o exame de arcada dentária, feito pela dentista do garoto.

A promotoria recorreu, pedindo anulação do júri. A defesa, por sua vez, entrou com pedidos em instâncias superiores, para que a decisão fosse mantida. As duas mulheres, que já haviam ficado presas por 3 anos e 9 meses, alegavam inocência e asseguravam que confessaram o crime em meio a torturas impostas por policiais militares que as prenderam.

Na terça-feira última, o ministro relator Eros Grau, da Segunda Turma do STF, explicou que foram analisadas exaustivamente o conjunto de provas para concluir que a decisão do Tribunal do Júri foi “arbitrária e manifestamente contrária à prova dos autos”. Sendo assim, decidiu-se, por unanimidade, que as duas serão submetidas a novo julgamento.

Julgamentos

Outros cinco acusados do crime também já foram julgados e as decisões dos jurados foram diferentes (o caso foi desmembrado em três julgamentos distintos): Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula Ferreira e David dos Santos Soares foram condenados (os dois primeiros a 20 anos e 2 meses de reclusão, e o terceiro a 18 anos e 8 meses, em abril de 2004.

Estão cumprindo as penas). Já Airton Bardelli dos Santos e Francisco Cristofolini foram absolvidos em junho de 2005, em júri popular .O Ministério Público recorreu mas a 1.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná manteve a absolvição.

Tranquila

Celina Abagge, que este ano completou 70 anos, disse ontem que não se “chocou” ao receber a notícia, ao contrário de sua filha, Beatriz, que ficou abalada e chorou bastante.

“Nosso caso é fora do comum. Tudo acontece com a gente”, disse ela, salientando que está disposta a ser julgada outra vez, para que “isso tenha um fim e que todos, a Justiça, a população em geral e quem mais estiver interessado no caso, saiba que somos inocentes, e que este menino está por aí, vivo”.

De acordo com Celina, é a família delas que sofre bastante com a situação. Os filhos de Beatriz (um casal de gêmeos de 19 anos e uma garotinha de 8) ficam revoltados. E a mãe dela, que está com 93 anos, diz que não quer morrer sem antes ver a filha e a neta absolvidas de uma vez por todas.

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