Walter Alves |
Caso Evandro tem novo júri neste mês. |
Celina Cordeiro Abagge e a filha, Beatriz Abagge, prestaram depoimento na manhã de ontem no Departamento da Polícia Federal. Acusadas de participar da morte de Evandro Ramos Caetano, 6 anos, durante um ritual de magia negra – cujo novo julgamento está marcado para 17 de novembro -, elas foram intimadas a prestar esclarecimentos sobre o desaparecimento de um outro garoto: Leandro Bossi, na época com 8 anos. As duas crianças desapareceram em 1992, em Guaratuba, litoral do Estado.
O depoimento durou quase duas horas. O delegado Rogério Pereira leu para as depoentes declarações de outras pessoas previamente ouvidas na PF, nas quais as Abagge são apontadas como envolvidas no desaparecimento de Leandro. Em seguida, começou a interrogá-las sobre a possibilidade de elas terem informações sobre o caso, para auxiliar as investigações da PF, e também sobre eventuais ligações com Valentina de Andrade e seu marido, o argentino Jose Alfredo Teruggi. "Soubemos do desaparecimento do Leandro somente depois do Evandro. Sobre os Teruggi, não os conhecíamos. Apenas sabíamos que, na época, tinha gente estranha na cidade (Guaratuba)", afirmou Celina. Mãe e filha alegaram desconhecer informações relacionadas ao caso Leandro e sobre a seita Lineamento Universal Superior (Lus), da qual Valentina é apontada como líder. Essa mesma seita é investigada devido ao envolvimento em rituais de magia negra.
Celina contou que nem sequer estava em Guaratuba durante o desaparecimento do garoto, em 15 de fevereiro de 1992. "Viajei para Pitanga e Apucarana antes do dia 15 de fevereiro e retornei depois do dia 17, data de meu aniversário", relatou. Sobre o recebimento das intimações para esclarecimentos à Polícia Federal, Celina afirmou ter sido um momento assustador, principalmente devido à proximidade de seu julgamento no caso Evandro. Mesmo que Celina seja novamente inocentada pela Justiça, ela afirmou: "Depois que você é acusado, fica discriminado pela vida toda".
Delação premiada
As Abagge foram ouvidas separadamente, mas o interrogatório de Celina foi o mais demorado. Para as duas foi oferecida a "delação premiada", benefício judicial que está em moda devido aos escândalos apurados pelas CPIs, em Brasília.
O benefício foi oferecido caso mãe e/ou filha, posteriormente, se dispuserem a relatar à policia algum fato novo ou se quiserem mudar o depoimento, segundo informações das próprias depoentes. Celina mostrou à imprensa um papel entregue para ela que contém o texto explicando sobre a "delação premiada", lei 9.807 de 13 de julho de 1999, que resulta em proteção especial para vítimas e testemunhas.