Buscas por provas que confirmassem as suspeitas contra os ciganos levou a delegada de Quatro Barras, Margareth Alferes Motta, a trabalhar meses a fio. Telefones foram ?grampeados? e horas de conversas entre os ciganos foram gravadas, na expectativa de que dessem algum ?escorregão? e falassem sobre a morte de Giovanna dos Reis Costa, cujo corpo infantil descansa ao lado dos restos mortais da avó, numa tumba simples do Cemitério Santa Cândida. Mas nas gravações, os suspeitos praguejavam contra a polícia (como é de seu costume), trocavam ?farpas? entre si, comentavam banalidades, discutiam meios de ganhar dinheiro fácil com a cartomancia e amaldiçoavam a delegada sempre que possível, lembrando que ela também tinha uma filha. Zelosa, a policial tirou a filha da cidade por algum tempo, temendo qualquer represália. Apesar do monitoramento, a polícia de Quatro Barras nunca conseguiu autorização da Secretaria de Segurança Pública para ir atrás dos ciganos, em outras cidades.
Com o afunilamento das investigações policiais em cima dos Petrovitch, outros suspeitos que haviam aparecido no começo das diligências foram deixados de lado. Um laudo de necropsia, emitido pelo legista Carlos Alberto Peixoto Batista, do Instituto Médico-Legal, embasava a teoria da polícia, de que a menina tinha sido assassinada em um ritual para a coleta de seu sangue. O médico afirmou que Giovanna tinha sido violentada sexualmente por um instrumento diferente de um pênis humano, algo semelhante a um funil ou uma garrafa, que lhe causaram lacerações gravíssimas. O inquérito foi encerrado e encaminhado ao promotor Otacílio Sacerdote Filho, que sustentou a versão policial e denunciou os acusados. Ele acredita que Vera foi a mandante do crime, cometido por Pero, pela mulher dele e por Renato Michel. ?Depois de recolher o sangue da criança, lavar o corpo e embalar em um saco de lixo, Pero e Michel o dispensaram no terreno baldio?, diz. Manchas parecidas com sangue foram encontradas no carro de Pero, mas o perito Hemerson Bertassoni Alves, do Laboratório de Genética do Instituto de Criminalística do Paraná, não conseguiu confirmar se eram mesmo de sangue.
Interrogados
Presos em Araçatuba (SP) e recambiados para Curitiba, Pero e Vera, no primeiro interrogatório, decidiram ficar calados. Era orientação da defesa. Para o promotor, foi mais um indício de culpa, talvez baseado no ditado que diz: ?quem cala, consente?. Vera e Pero foram para a prisão, onde estão até hoje. Renato e a mulher de Pero estavam foragidos e depois tiveram as prisões revogadas. Neste interrogatório, ocorrido em Campina Grande do Sul (município vizinho a Quatro Barras e sede de Comarca), foi necessário reforço policial, porque havia rumores de que poderiam ser linchados.
Guerra de peritos
A denúncia do promotor chegou às mãos da júiza Paula Priscila Candeo Haddad Figueira, que aceitou a argumentação e pronunciou Renato, Vera e Pero, mandando-os para júri popular (a menor, mulher de Pero, será submetida a outro procedimento). Porém, na contrapartida, entrou em ação o escritório do advogado Cláudio Dalledone Júnior, contratado para defender os acusados. Um novo e minucioso estudo foi feito em todo o processo. O defensor passou a apontar falhas nas investigações e em seus conseqüentes resultados. ?O inquérito é mal feito, tem muitas falhas, conta com fracos indícios e há ausência total de provas materiais. Eles são inocentes?, garante Dalledone Júnior. Para ele é necessário começar tudo de novo e com novas diligências chegar ao verdadeiro culpado. ?Ainda há um assassino solto e pode fazer novas vítimas a qualquer momento?, sentencia, assegurando que outros suspeitos em potencial foram esquecidos ou ignorados no afã de culpar os ciganos.
Para tumultuar ainda mais a situação, o médico legista aposentado e ex-diretor do Instituto Médico-Legal, Francisco Miguel Roberto Moraes, foi contratado para analisar o caso e deu um novo parecer: ?A menina foi estuprada por um homem de grande porte físico e forte. Ferimentos e marcas nas nádegas e nas coxas mostram isso?, diz. O médico ainda aponta que, se houvesse introdução de qualquer objeto nos genitais da criança, a bexiga e a uretra também estariam feridas e isso não aconteceu. Ainda segundo ele, a menina teria sido morta por asfixia, durante o estupro, na tentativa de mantê-la calada. Com a morte, o assassino não teria ejaculado.
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