A mágoa reprimida durante anos por Márcio Zeni Prosdócimo, 34 anos, e sua mãe, Sônia Maria, 58, culminou em um bárbaro e covarde crime. Na última sexta-feira, mãe e filho se uniram e executaram um maquiavélico plano: assassinar Arnaldo Zeni, 86, e a mulher dele, Irmgardt Odette Bernert Zeni, 78 – avós de Márcio e pais de Sônia. O motivo do crime não seria herança ou dinheiro. Mãe e filho alegaram não suportar o autoritarismo dos idosos, que segundo os assassinos não os deixavam viver a própria vida. O duplo homicídio aconteceu na Rua Hildebrando de Araújo, 429, Jardim Botânico.
A trama teve início por volta das 2h30 de sexta-feira. Mãe e filho, moradores do mesmo terreno que os idosos, apanharam a cópia da chave e entraram na casa, levando um par de meias, um pedaço de fio de luz e um transformador de 220 volts. Eles caminharam no escuro, em silêncio, até o quarto onde o casal dormia. Márcio segurou o avô, colocou as meias na boca da vítima e apertou o nariz, tentando sufocá-lo com o uso de um travesseiro. Arnaldo acordou e se debateu, mas a força física do neto o venceu. O idoso morreu sufocado.
Enquanto isso,- Sônia segurou a mãe, que acordou com o tumulto. Depois de matar o avô, Márcio, sabendo que a avó sofria de problemas cardíacos, ele tentou assassiná-la dando choques com um aparelho usado por seguranças particulares. Sem resultado, ele apanhou o fio de luz, amarrou-o nos tornozelos dela e ligou o transformador. Por cerca de duas horas a idosa recebeu descargas elétricas de 220 volts. Ela ficou atordoada, mas não morreu. O neto então tentou sufocá-la com um cobertor, mas não conseguiu. Cansado, Márcio pediu para a mãe ir até a cozinha apanhar um rolo de papel filme (plástico usado geralmente para embalar alimentos). Mãe e filho enrolaram a cabeça da idosa, e esta, sem conseguir respirar, também morreu sufocada. Depois, limparam o sangue com algodão e água oxigenada para simular morte natural. Sônia e Márcio trancaram a porta e voltaram para casa. Eles tomaram um banho e conversaram um pouco até se acalmarem.
Plano
No dia seguinte, Sônia retornou à casa, por volta das 8h, e simulando surpresa, ligou para o médico da família, que examinou os corpos e acionou o Instituo Médico-Legal. Márcio também chamou seu pai e seu tio e todos, sem imaginar o que tinha acontecido, ficaram chocados. Após exames de necropsia os médicos se certificaram que ambos haviam sofrido asfixia mecânica. Desconfiados de Sônia e Márcio, os investigadores foram até o cemitério onde os corpos estavam sendo velados e pediram para mãe e filho irem à delegacia. Lá, eles confessaram o crime.
"Fomos reprimidos por eles"
Aparentando problemas psicológicos – senão uma enorme crueldade -, Márcio Prosdócimo e sua mãe, Sônia Maria, deram a mesma versão para o motivo do duplo assassinato. Sônia alegou que desde a infância os pais foram autoritários, impedindo que ela aproveitasse a adolescência. Márcio, que foi criado com os avós, também disse que foi reprimido, fato que atrapalhou sua vida profissional e pessoal.
Durante o interrogatório, Márcio disse que se sentia prejudicado porque era proibido de seguir seus sonhos, sentia-se afastado da sociedade e também rejeitado pelas mulheres pelo seu aspecto físico. O assassino, que é formado em Engenharia da Computação e disse ter mestrado na área, alegou que tinha dificuldade em conseguir emprego porque seus avós sempre interferiam na sua vida. Na casa deles, situada nos fundos da casa das vítimas, o delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, titular da Delegacia de Homicídios, disse ter recolhido centenas de fitas de vídeo com cenas de crimes cometidos por psicopatas. Sônia, que é separada há alguns anos, atribuiu o fim de seu casamento à interferência dos pais. "Eles estragaram o sonho que eu tinha, de ter uma família feliz", disse ela.
