Casal carioca indiciado por adoção “à brasileira”

Um casal do Rio de Janeiro, que estava de posse do bebê recém-nascido que teria sido vendido por uma quadrilha de tráfico de crianças desarticulada semana passada no litoral do Estado, apresentou a criança – uma menina de 10 meses – na terça-feira, no Serviço de Investigação de Criança Desaparecida (Sicride). O homem, de 64 anos, e a mulher de 48, foram indiciados em inquérito policial pela delegada Márcia Tavares dos Santos, pelos crimes de dar dinheiro para obter filho alheio (artigo 238 do Estatuto da Criança e do Adolescente) e registrar filho alheio como próprio (artigo 242 do Código Penal).

O advogado Dálio Zippin Filho, que defende o casal, informou que seus clientes estavam na fila de adoção há três anos e se habilitaram em várias cidades do Paraná, entre elas, Curitiba, Foz do Iguaçu e Dois vizinhos, onde foram considerados aptos a adotar uma criança após serem submetidos a vários testes. "Era o sonho do casal ter uma menina recém-nascida. Inclusive a mulher fez vários tratamentos e conseguiu engravidar três vezes, mas perdeu as crianças. Então, partiram para adoção", explicou Zippin.

Segundo Zippin, em outubro do ano passado, o casal recebeu a notícia de que uma menina havia nascido e perguntaram se eles tinham interesse em adotá-la. Imediatamente, o casal foi até Foz do Iguaçu, onde recebeu a certidão de nascimento da criança, assinada pelo juiz da Comarca. Em seguida, vieram para Curitiba, onde a criança foi entregue. O casal voltou para o Rio de Janeiro. "Eles tem uma boa situação econômica e a criança já se acostumou com os pais adotivos", salientou Zippin, que está aguardando a decisão do juiz da Vara de Infância da Juventude, que irá decidir com quem ficará a guarda. "O casal já tem vínculos com a criança, que está muito bem cuidada", garantiu o advogado.

Zippin contou que o casal foi interrogado no Sicride e negou ter pago qualquer quantia para adotar a menina. Ele disse que as seis pessoas detidas – entre elas três advogados e uma agente de apoio da Polícia Civil – também negaram que receberam pagamentos pela adoção.

Mais cinco indiciados por venda de bebês

Mais cinco pessoas foram indiciadas no inquérito policial que investiga uma quadrilha acusada de tráfico de crianças, que agia no litoral do Paraná. A informação é da delegada Márcia Tavares dos Santos, do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), que no último dia 4 prendeu seis pessoas acusadas de integrar o grupo. Entre elas, três advogados e uma agente de apoio da Polícia Civil. "Novas prisões foram solicitadas. Estamos aguardando a decisão da Justiça", disse a delegada.

Márcia preferiu não fornecer os nomes dos outros indiciados, mas adiantou que entre eles está o casal carioca que adotou ilegamente um bebê e funcionários de um cartório de Foz do Iguaçu. A delegada disse que já interrogou o casal, que alegou que foi Elias José Piazentin Gonçalves, 44 anos (que está preso) quem intermediou a adoção. "O casal disse que a princípio achava que a adoção era legal, só descobrindo que não era quando chegou em Curitiba", contou Márcia. Ela disse que já conseguiu documentação que comprova que Elias viajou até Foz do Iguaçu junto com o casal, onde foram até um cartório e registraram a menina recém-nascida. "Quando nasce uma criança o hospital fornece uma guia para o registro. Porém se o bebê nasce em casa é preciso duas testemunhas para suprir a guia hospitalar", explicou a delegada. No caso do bebê, as duas testemunhas foram Elias e a mulher dele, a advogada Janaína Monteiro do Nascimento Piazentin Gonçalves, 34 anos, que também está presa. "Já comprovamos que a Janaína estava em Curitiba no dia em que o bebê foi registrado. Isto demonstra que houve fraude também por parte do cartório", salientou Márcia.

Investigações

A delegada adiantou que surgiram outros dois casos no litoral, aparentemente semelhantes, que estão sendo investigados. "Estamos apurando se há relação com este grupo", disse.

Os advogados Cid Vinícius de Oliveira Santos, 45 anos; Gilberto Lemos Pereira, 35, e Janaína Monteiro do nascimento Piazentin Gonçalves, 34; Elias José Piazentin Gonçalves, 44 (marido de Janaína); a agente da Polícia Civil Regina Silveira Giroletta, 50 (lotada na delegacia de Ipanema), e o marido dela,  Ademir Giroletta, 50, foram presos no último dia 4 de julho sob acusação de efetivar entrega de filho mediante pagamento e formação de quadrilha. Até ontem todos continuavam presos.

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