A situação desumana em que vivem as presas do 9.º Distrito Policial (Santa Quitéria) pode ter sido o estopim para a fuga de 32 mulheres, ocorrida na noite do último domingo. A constatação foi feita ontem por membros da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – seção Paraná -, durante a visita às celas onde ainda se amontoam 71 detentas. No dia da fuga, três delas foram recapturadas. Porém, outras quatro mulheres voltaram para a cadeia espontaneamente. Segundo elas, o que motivou a debandada foram as condições em que vivem nas cinco celas e no corredor, que é tudo o que compõe a carceragem.
A ação da comissão foi desencadeada depois que uma denúncia chegou à OAB. Segundo uma das integrantes do grupo, a advogada Isabel Kugler Mendes, que fez a visita acompanhada dos advogados Marino Galvão e Zuldemar Souza Quadros Sant?Anna, as presas que se entregaram contaram que aderiram à fuga porque não suportavam mais o mau cheiro e o calor dentro das celas.
As altas temperaturas, somadas ao racionamento de água e a ausência de janelas, torna o ambiente um verdadeiro caos. Em apenas uma da cinco celas existe vaso sanitário.
Nas demais, há uma latrina rente ao chão (conhecida por ?boi?). ?Com o racionamento não tem como puxar a descarga e elas não podem nem beber água.
Os policiais nos contaram que no dia em que falta água eles pedem caminhões pipa, porém nunca foram atendidos?, contou Isabel, lembrando que cada cela possui dois beliches, onde dormem seis mulheres.
No corredor, espumas e pedaços de colchões se transformam em camas improvisadas.
Efetivo
Além de enfrentar o mau cheiro, a superlotação – a cada dia novas presas são levadas ao 9.º DP -, as detentas afirmam que muitas vezes as refeições chegam azedas. ?Acreditamos que as marmitas são preparadas um dia antes, ou com horas de antecedência, e estragam com o calor?, disse Isabel. No ambiente caótico em que vivem, elas também têm que tomar cuidado para não se machucar, uma vez que é comum sair faíscas do único chuveiro usado por todas as mulheres. ?Nessas condições, não dá nem para falar em direitos humanos. Vimos que a Polícia Civil faz o que pode, mas o efetivo também é pequeno.
São cinco policiais por dia e apenas dois no plantão. Há cinco anos tínhamos 3.600 policiais civis em todo o Paraná. Hoje temos cerca de 2.900?, disse Isabel.
Além de preparar um relatório completo da visita e apresentá-lo à presidência da OAB Paraná, nos próximos dias a comissão também irá visitar o Centro de Triagem, para onde devem ser transferidas as presas do 9.º Distrito Policial. ?Nós já iniciamos um trabalho, em todo o Estado, para visitar as delegacias e presídios, para diagnosticar a raiz de toda essa criminalidade. Precisamos descobrir o que leva tantas mulheres e homens para a cadeia. Para se ter idéia, hoje há 9.600 presos no Sistema Penitenciário e cerca de 10.800 espalhados por cadeias de todo o Estado?, finalizou Isabel.