A onda de fugas parece incontrolável nas cadeias de Curitiba e Região Metropolitana. Pela quinta vez, somente no mês de junho, um distrito registra evasão de presos. Doze homens escaparam do 6.º Distrito Policial (Cajuru), na noite de domingo, após dois deles renderem o único investigador de plantão. Um dos fugitivos foi morto horas depois em confronto com a PM.
Ao todo 64 detentos, entre eles estupradores, traficantes, assaltantes e homicidas, misturaram-se à população nos últimos 30 dias por falhas no sistema prisional.
A fuga no 6.º DP ilustra a precariedade e o mau gerenciamento das carceragens nas delegacias. Três investigadores estavam escalados para ficar no plantão e tomar conta do xadrez. Mas, segundo o delegado titular Antônio Macedo de Campos Júnior, um deles não veio trabalhar e o outro saiu para jantar no momento da fuga.
Improviso
Como uma parte do xadrez não tem banheiro, à noite os detentos usam garrafas plásticas e outros objetos para guardar as necessidades fisiológicas. Às 20h30 de domingo, o policial – único no plantão – ignorou as normas de segurança e permitiu que dois travestis presos por assalto – Roberto Pedroso Vítor e Adílson Gonçalves de Oliveira – usassem o banheiro ao lado. Nesse instante foi dominado pelos dois detentos, que abriram a porta da carceragem.
Dos 24 presos que se amontoavam no espaço onde só cabem 6, metade ganhou as ruas e a outra preferiu ficar. Os fugitivos roubaram ainda uma espingarda calibre 12 da delegacia e a pistola ponto 40 do investigador.
Pouco depois, um denunciante anônimo ligou para a Polícia Militar dizendo que um dos fugitivos se escondera dentro do bosque do Jardim Botânico. Segundo a PM, policiais da Ronda Ostensiva de Natureza Especial (Rone) cercaram o local e foram recebidos a tiros de calibre 12 por Roberto. Houve revide, o detento levou tiros e chegou morto no Hospital Cajuru. Seu comparsa, Adílson Oliveira, o outro travesti que comandou a fuga, foi recapturado pela Polícia Militar.
Apuração
Até o início da tarde de ontem, os outros 10 fugitivos continuavam soltos. São eles: Luciano Lourenço, preso por porte ilegal de arma e tráfico de drogas; Michel Rodrigo Caetano e José Cícero da Conceição (porte ilegal de arma); Ronaldo Rodrigues, Ezequiel Ramos e Agnaldo de Oliveira (assalto); Silvino Ferreira e Vander Souza de Oliveira (furto); Odair Ferreira Ramos (tráfico de drogas) e José Ademir Weng (atentado violento ao pudor).
Os três plantonistas – incluindo o faltoso e o que foi jantar – serão ouvidos na Divisão de Polícia Civil da Capital. Depois das evasões na Delegacia de Furtos e Roubos e no 11.º DP, no início do mês (veja quadro), a Secretaria da Segurança Pública determinou apuração rigorosa das responsabilidades sobre as fugas e se há facilitação por parte de policiais.