O empresário que comandava uma quadrilha de descaminho – importação ou exportação de mercadoria permitida sem recolhimento de tributos – no Brasil, Merino José de Grande, foi preso em Foz do Iguaçu durante a Operação Boneco de Pano, deflagrada ontem pela Polícia Federal em seis estados. Outras cinco pessoas que trabalham com ele também foram presas na cidade. Ao todo, a PF cumpriu 21 mandados de prisão – expedidos para membros da quadrilha, comerciantes e envolvidos no transporte das mercadorias – em mais de 45 locais, entre depósitos, empresas e residências, nos estados do Paraná, Ceará, Goiás, Pará, Pernambuco e São Paulo.
A quadrilha atuava com o descaminho de uma grande quantidade de mercadorias que abasteciam lojas populares, como as de R$ 1,99. Segundo o delegado da Polícia Federal em Foz do Iguaçu que comandou as investigações, Renato Lima, os produtos eram trazidos da China para o Paraguai e entravam ilegalmente no Brasil pela Ponte da Amizade, transportados em vans. "Dali eram levados para barracões em Foz do Iguaçu, preferencialmente nas margens da BR-277", descreve o delegado. Nesses mesmos locais eram carregados os caminhões, que levavam as mercadorias primeiramente para São Paulo, onde boa parte era comercializada em redes de lojas de R$ 1,99 e o restante, levado para os outros estados onde atuavam membros da quadrilha em conluio com comerciantes. "Os caminhões eram de empresas fantasma e as mercadorias apresentadas com notas fiscais frias", complementa Lima.
Dentro do esquema, comerciantes foram presos por integrarem a outra ponta dos negócios, comprando mercadorias sem recolher os impostos devidos. "No Pará, por exemplo, um dos proprietários tinha em nome dele ou de terceiros mais de dez lojas de R$ 1,99", cita o delegado. Em São Paulo, o fornecimento também envolvia grande quantidade de mercadorias do tipo, abastecendo dezenas de lojas. Já no Paraná, a polícia não identificou estabelecimentos envolvidos. Os nomes dos comerciantes presos estão sendo mantidos em sigilo "Eles sabiam que estavam comprando produtos de descaminho, primeiramente pela origem das mercadorias, que vinham de Foz. Além disso, os pagamentos nunca eram feitos direto na conta bancária do mandante da quadrilha, mas nas de laranjas", atesta Renato Lima. De acordo com o delegado, na maioria das vezes o cliente ia a Ciudad del Este, fazia as compras e não passava pela ponte, deixando a parte operacional a cargo da quadrilha. A polícia começou a investigar a quadrilha há pelo menos dois anos.
Das maiores
A Polícia Federal de Foz acredita que Merino chefiava uma das maiores quadrilhas desse tipo de crime no País. Entre as pessoas que tiveram a prisão temporária decretada pela 2.ª Vara Criminal Federal de Foz do Iguaçu estão duas mulheres e quatro homens. Nos outros estados foram presas sete pessoas em São Paulo, e duas em Goiás, duas no Ceará, duas no Pará e duas em Pernambuco. Também foram apreendidos nove carros – quatro importados -, uma motocicleta, quatro armas, além de 48.425 euros, US$ 7 mil, notas fiscais, documentos em geral e muita mercadoria.
A polícia estima que desde o início das investigações, entre os anos de 2004 e 2005, a quadrilha tenha sido responsável pelo descaminho de mais de R$ 20 milhões em produtos. Os detidos devem responder pelos crimes de contrabando e descaminho, formação de quadrilha, falsificação de notas fiscais e lavagem de dinheiro.
