Cai patrão do crack no Cajuru

Um dos traficantes mais influentes do bairro Cajuru foi, finalmente, preso ontem pela Polícia Militar. A equipe do 2.º Esquadrão do Regimento de Polícia Montada (Rpmont), comandada pelos aspirantes Guimarães e Maywitz, passou meses monitorando o criminoso, até o deter com mais de 600 pedras de crack. Julmair Ribeiro Tadin, 22 anos, foi levado ao 3.º Distrito Policial, onde está recolhido.

De acordo com o policial Maywitz, desde o ano passado, várias denúncias contra Julmair estavam sendo registradas através do telefone 181 (narcodenúncia). Três equipes da PM, então, passaram a monitorar o criminoso, mas ele sempre conseguia driblar a polícia. "Quando ele era abordado a gente não encontrava droga alguma, portanto não tínhamos como detê-lo. Sabemos que Julmair é um traficante forte, mas assim como ele existem outros, por isso nosso trabalho continua", disse Maywitz.

Na madrugada de ontem, uma das equipes avistou Julmair correr pela Vila Camargo com uma arma na mão. O criminoso foi visto entrando em sua casa, na Rua Cidade Antonina. Os policiais pediram reforço e quando entraram na residência encontraram 400 pedras de crack, prontas para a venda, e outras 10 maiores, que ainda seriam divididas, rendendo no mínimo outras 200. A droga estava escondida dentro do forno microondas. Na presença dos policiais, Julmair se rendeu e jogou uma das armas em cima da mesa.

A outra foi encontrada dentro de um armário.

Foram então apreendidos um revólver calibre 38 e uma pistola calibre 380. Com o criminoso, a polícia também recolheu cerca de R$ 1.600 em dinheiro, resultante da venda da droga. Segundo Amaral, superintende do 3.º Distrito Policial, Julmair será transferido para o Centro de Triagem 2 (Piraquara) assim que houver vaga.

Apoio

Os resultados do narcodenúncia revelam que o serviço tem sido muito útil para a polícia. Desde quando entrou em funcionamento, no dia 16 de junho de 2003, até o dia 31 de janeiro deste ano, somente em Curitiba 1.449 homens e 276 mulheres foram detidos com a ajuda do sistema. Na capital, neste mesmo período, a apreensão de crack ultrapassou a marca de 46 milhões de pedras.

As policias Militar, Civil, Federal e Rodoviária Federal têm acesso ao sistema, que recebe informações de todo o Estado. De acordo com o delegado Osmar Dechiche, titular da Divisão de Narcóticos do Paraná (Dinarc), muitas investigações têm iniciado através das denúncias. "O narcodenúncia é um instrumento marcante e significativo. O ideal é que as pessoas forneçam o máximo de informações para identificar os traficantes, como tipo físico e o local onde podem ser encontrados", finalizou Dechiche.

Inteligência leva aos patrões

Prender um traficante e mantê-lo atrás das grades exige um trabalho de inteligência e muita investigação, de acordo com o delegado Osmar Dechiche, da Divisão de Narcotráfico (Dinarc). Ele, que assumiu a divisão no início do ano, avisa que já iniciou várias frentes de trabalho para combater o tráfico. ?São investigações que duram dias e até semanas?, salienta.

Dechiche alerta que normalmente os chamados ?vapores? (que repassam a droga) não costumam ficar com muita quantidade, para evitar que sejam enquadrados no artigo 12 da lei 6368/76 (tráfico de drogas), que prevê uma pena de 3 a 15 anos de reclusão. ?Assim eles podem alegar que são usuários?, disse o delegado. Para evitar que os traficantes sejam apanhados e colocados em liberdade é preciso aguardar o momento certo para apanhá-los com drogas, contou ele.

?O maior objetivo é apanhar o patrão da droga, que normalmente está com a grande quantidade. Por isto, o trabalho é lento e demanda um período de tempo?, explica. ?Não adianta prender alguém para levar para a delegacia e liberar. Precisamos materializar o crime?, avisa.

Dechiche disse que como a lei não estabelece a quantidade de drogas para enquadrar como traficante ou usuário, a interpretação da autoridade policial é subjetiva no momento de autuar em flagrante ou enquadrar no termo circunstanciado. Além do flagrante, também pode ser solicitada a prisão por associação pelo tráfico de drogas, que é o artigo 14 da Lei de Tóxicos. ?Estamos com várias frentes de investigação para combater o tráfico com rigor absoluto.?

?Vapores? irritam pela ousadia

Há casos em que o tráfico é flagrado por fotos, mas quando a polícia chega os vendedores não estão de posse das drogas, ou as têm em pouca quantidade. A detenção é feita e o indivíduo liberado, após ser enquadrado como usuário. Quando isso acontece a população fica indignada, mas é a lei. Desde 2001, quando o legislador ampliou o rol de crimes de menor potencial ofensivo, o uso de entorpecentes foi um dos delitos que passou a ser julgado pelo Juizado Especial Criminal (Jecrim). Dessa forma, quando a pessoa é identificada como usuária, o delegado a enquadra em um termo circunstanciado e encaminha para o juiz.

O advogado criminalista Matheus Gabriel Rodrigues de Almeida explicou que é marcada uma audiência preliminar, onde é verificada as condições do acusado, para ver se ele pode ser beneficiado com a suspensão condicional do processo. ?Para isto, ele tem que aceitar as condições impostas e não cometer outros delitos no período de 2 a 5 anos, que é chamado de período de prova?, salientou o advogado. Ele ressaltou que se neste período a pessoa cometer delitos semelhantes, o benefício é suspenso e ela responderá o processo futuro e o anterior. ?Aceitar não implica em reconhecimento de culpa?, avisou. Depois disso, o juiz estabelece a pena que varia de pagamento de cesta básica ou prestação de serviços. ?Via de regra, no caso de usuários, o trabalho voluntário é realizado em clínicas de recuperação. Também é comum o juiz encaminhar para tratamento, nos casos em que se comprovam que é um dependente químico contumaz?, comentou Matheus.

Ele disse que quando a mesma pessoa é detida várias vezes por uso de entorpecentes, o promotor pode solicitar investigações à polícia ou o próprio delegado pode tomar a atitude, para demonstrar que se trata de um falso usuário.

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