Foi mesmo uma discussão de trânsito o motivo do atentado sofrido por Elton Luciano Estefane, 28 anos. Ele levou três tiros na Rua Cascavel, Boqueirão, em Curitiba, na noite de 25 de agosto, ficou cinco dias no Hospital Evangélico e na última segunda-feira pôde relatar à polícia o que aconteceu.

Dirigindo seu Corsa, Elton, funcionário de uma transportadora, iria se encontrar com um cliente quando bateu de raspão em uma moto na Rua Cascavel. Houve discussão entre os dois motoristas, que acabaram saindo no braço. Elton levou golpes de capacete na cabeça e fugiu.

O Corsa rodou uma ou duas quadras e Elton decidiu voltar ao local da briga, indignado por ter apanhado. Ali, encontrou um grupo de motociclistas já reunido e teve o carro apedrejado. “Ele ouviu alguém dizer que, para voltar, só podia estar armado. Um dos motoqueiros atirou quase à queima-roupa”, relatou o delegado Átila Roesler, da Homicídios.

Baleado no rosto, na mão e no braço, Elton ficou cerca de 15 minutos inconsciente e depois dirigiu o carro até ser socorrido pelo Siate. O atirador, ainda desconhecido, não foi o mesmo homem que lutou com a vítima. A DH vai mandar confeccionar um retrato falado do criminoso.

O caso despertou novamente a atenção para crimes cometidos por tolas discussões no trânsito. “A situação nos preocupa. É a típica ocorrência que seria evitada se não houvesse uma arma à disposição”, disse o delegado.

Em Curitiba, alguns casos recentes ganharam notoriedade. Em 24 de janeiro deste ano, os amigos Elinson Luiz Antunes Olgado, 22 anos, e Vinícius Urbano, da mesma idade, saíram de uma danceteria em um Audi A3 e foram mortos após discussão com ocupantes de um Escort, no Rebouças. Dois acusados do crime – que teriam executado outras duas pessoas na mesma madrugada – foram presos no início de agosto.

Em 28 de outubro do ano passado, dois motoristas brigaram e um deles disparou três vezes para o alto, na Rua José de Alencar, Alto da XV. O caso foi confundido com um suposto atentado contra o secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, que morava a 150 metros do local da briga.

O último episódio com morte ocorreu na madrugada de 25 de julho, perto do Parque Passaúna, na Cidade Industrial de Curitiba. Ao manobrar seu carro na saída de uma lanchonete, o metalúrgico Samuel Bueno de Lima, 27 anos, encostou numa motocicleta que estava estacionada. O dono da moto foi tirar satisfação e o matou com um um tiro na cabeça.

Apesar do histórico recente, poucas brigas de trânsito chegam ao conhecimento da polícia. Segundo o delegado Armando Braga, titular da Delegacia de Delitos de Trânsito, não houve registro de briga posterior a algum acidente nos últimos dois meses – os casos mais graves, porém, são levados diretamente à Delegacia de Homicídios. “Há muitos acidentes com moto, mas ninguém relatou ter sido coagido ou ameaçado por motociclistas depois de alguma colisão”, disse Braga, relatando tipo de situação até certo ponto corriqueira, mas que não chega a ser oficializada.

O delegado Roesler lembra que a calma e o diálogo amistoso em caso de acidente podem evitar dissabores. “Curitiba tem uma frota de mais de 700 mil carros. Acidentes acontecem todos os dias e às vezes são inevitáveis. Ou a pessoa tem paciência ou está sujeita a uma tragédia”, adverte.

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