O medo com que moradores da Vila Torres, Prado Velho, convivem começou com uma história de amor há mais de 10 anos. Do romance surgiu ciúmes, briga e morte. Amigos foram tomando as dores de outros amigos e, assim, surgiram as duas gangues da vila, territorialmente divididas pela Rua Guabirotuba.
O investigador Henrique Lima, da Delegacia de Homicídios (DH), tem 26 anos na Polícia Civil e, a partir de 2004 passou a conhecer melhor a Vila Torres, quando trabalhou na Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), e depois na DH, onde está até hoje. Em suas andanças, já viu muitos líderes de gangues ganharem força e morrerem pelas ruas da vila, descobriu as artimanhas dos criminosos, conheceu os moradores de bem, a dinâmica do tráfico de drogas e a história das gangues da vila.
Lima contou que foi nas ruas da antiga Vila Pinto, hoje rebatizada de Vila Torres, que um casal se conheceu e iniciou um namoro. Certo dia, outro rapaz da vila mexeu com a jovem. O namorado não gostou e, ao tirar satisfações, matou o rival. Os amigos do rapaz morto se uniram e mataram o namorado da moça. Assim se instituiu na vila a lei do “olho por olho, dente por dente”. O resultado foi a violência desenfreada que tomou conta das ruas, crescente ano a ano. Surgiram duas gangues.
Lideranças
Tão logo surgiram as gangues, apareceram as lideranças criminosas principalmente ligadas ao tráfico de drogas, que impuseram suas vontades à comunidade local. Os nomes dos líderes são de conhecimento da DH, mas não são divulgados. Lima tem os nomes na ponta língua e sabe quem pertence à “Gangue de Baixo” e quem é da “Gangue de Cima”. Esta última, já foi conhecida também como “Gangue da Xicarada”, já que, há alguns anos, ela foi liderada por uma mulher de apelido “Chiquinha”, que reunia seus familiares no bando.
O investigador contou que, como a favela é pequena e tem poucas ruas, o cerco não é difícil. Suspeita-se que a maioria dos traficantes da vila moram no Jardim Ipê, em São José dos Pinhais. “Quando acontece algum crime na vila, eles fogem rápido pela Avenida das Torres. Como o Jardim Ipê é um bairro muito grande, temos dificuldade em encontrar os traficantes por lá. Dependemos muito da ajuda de denúncias da população”, explicou Lima. O telefone para denúncias da DH é o 0800-643-1121.
Quanto aos motivos das mortes na favela, o policial explicou que, em geral, ou são disputa pelos pontos de venda e “lição” em usuários devedores ou rixa das gangues. “A polícia sabe de muita coisa que acontece lá dentro. Conhece quem são os responsáveis pelos crimes. Só que a nossa grande dificuldade é conseguir provas concretas, pessoas que cheguem na delegacia e assinem um papel contando tudo o que sabem. Sem isto, o juiz não dá mandado de prisão”, lamentou o investigador.
Tráfico quer tranquilidade
Há alguns anos, quem passava pela Avenida das Torres “rezava” para não ter que parar em algum dos sinaleiros próximos à vila. Caso contrário, era certeza de ser atacado por “quebra-vidros”, adolescentes da Vila Torres que arrebentavam vidros dos carros a pedradas, para roubar o que tivesse em cima dos bancos.
As ações dos quebra-vidros obrigaram a polícia a fazer operações dentro da vila e a manter equipes da Polícia Militar de plantão nas esquinas. No cruzamento da Rua Guabirotuba com a Avenida das Torres, foi construído uma pequena plataforma, para abrigar uma viatura da PM.
Aos olhos dos leigos, era a ação da polícia que tinha acabado com os quebra-vidros. Porém, teriam sido os traficantes da que encerraram o problema. A presença da polícia na região atrapalhava o comércio de drogas. Por conta disto, os traficantes teriam negociado com os adolescentes, para que parassem de cometer os crimes, para fazer a polí,cia ir embora.