Durante muito tempo a Ponte Internacional da Amizade, em Foz do Iguaçu, marco da fronteira entre Brasil e Paraguai, ficou estigmatizada como uma das principais entradas de drogas no Brasil. Porém, com o trabalho efetivo de fiscalização da polícia, constatou-se que grande quantidade de entorpecentes não entra no Paraná apenas por terra, mas também por água. Já em território brasileiro, a droga é transportada pelas rodovias, sendo a BR-277 a mais utilizada, tornando-a conhecida como o "corredor do narcotráfico".
De acordo com o chefe de operações da Polícia Rodoviária Federal, inspetor Gilson Luiz Cortiano, a fiscalização na fronteira entre os dois países obrigou os traficantes a descobrirem um caminho alternativo para entrar com a droga no Estado. O Rio Paraná, principalmente a porção que compreende a Represa de Itaipu, vem sendo muito utilizado devido a dificuldade de policiamento em suas margens. Com o intuito de desviar da fiscalização da Ponte Internacional da Amizade, muitos navegam até municípios próximos à cidade fronteiriça, de onde seguem pelas rodovias estaduais até a BR-277. O município de Santa Helena, localizado às margens do rio, é um destes exemplos, uma vez que o posto da Polícia Rodoviária Estadual do local apresenta relevante índice de apreensão de entorpecentes no Estado.
Alguns tentam escapar da fiscalização na rodovia trafegando por estradas rurais, que saem da cidade fronteiriça. Porém, Cortiano explica que estes acessos seguem até próximo a Cascavel e depois torna-se obrigatória a entrada na BR- 277, uma vez que as estradas vicinais são interrompidas pelo Parque Nacional do Iguaçu.
Rota
A intensa fiscalização e o alto número de apreensões de entorpecentes no Estado, nos últimos anos, propiciou às autoridades definirem as principais "rotas do tráfico" no Paraná. Segundo Cortiano e o capitão do setor de planejamento da Polícia Rodoviária Estadual, Erich Wagner Osternack, existem pelo menos sete caminhos bastante usados para que os entorpecentes sejam distribuídos em todo o Paraná, demais estados do Sul do País e região Sudeste.
Se o destino for São Paulo e Rio de Janeiro, muitos traficantes navegam pelo Rio Paraná até a cidade de Guaíra, e de lá seguem para Umuarama, onde há outros acessos para São Paulo. Também de Umuarama partem os entorpecentes que chegam em Maringá, Londrina e cidades vizinhas. Porém, é na BR-277 que se concentra grande parte dos pontos de partida para o narcotráfico. Ainda para se chegar ao Sudeste do País, muitos trafegam pela rodovia até a cidade de Céu Azul, onde há acesso para Toledo, que oferece pelo menos outras quatro opções de estradas em direção ao Norte do Estado.
Já para distribuir os entorpecentes em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o caminho mais usado é até perto de Cascavel, de onde segue para o Sul passando pelas cidades de Lindoeste e Capitão Leônidas Marques. Ainda de Cascavel sai grande parte da droga que é disseminada no interior do Estado, sentido Campo Mourão e municípios próximos. Por fim, para que os entorpecentes cheguem na capital do Paraná, muitos traficantes seguem pelo "corredor do narcotráfico" até Guarapuava e direto para Curitiba, litoral e municípios da região Metropolitana. É também de Guarapuava que parte a droga rumo a cidade de Ponta Grossa e região, quando muitos saem da BR-277 e passam a trafegar pela BR-373.
Essas são algumas das rotas conhecidas pela polícia, porém a cada dia novos caminhos são utilizados na tentativa de driblar a fiscalização. "É muito difícil atuar em todos os possíveis caminhos usados
pelos traficantes, pois o Paraná dispõe de diversas estradas distribuídas em seis mil quilômetros de malha viária", finalizou Cortiano.
Quase R$ 10 milhões em apreensões
Mesmo com os esforços somados de autoridades e entidades mundiais, o tráfico de drogas continua movimentando uma economia ilícita de bilhões de dólares. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que os entorpecentes sejam responsáveis pelo giro anual de US$ 400 bilhões na economia do planeta. No Brasil não há uma pesquisa com dados oficiais sobre esse montante, mas especula-se que o comércio de entorpecentes movimente cerca de US$ 10 bilhões por ano.
Esse número alarmante comprova que, apesar do intenso trabalho no combate ao narcotráfico, este comércio está longe de diminuir ou chegar ao fim. Exemplo disso foram as apreensões de drogas feitas em 2004 pelas polícias Rodoviária Estadual e Rodoviária Federal no Paraná. O Estado, que é tido como um dos principais corredores do narcotráfico nacional, fez apreensões de maconha, crack, cocaína e lança-perfume avaliadas em cerca de US$ 3,9 milhões, aproximadamente R$ 9,9 milhões, ou seja, quase 4% do valor estimado da economia ilícita nacional.
Consumo
A maior parte da droga que entra no Paraná vem do Paraguai, sendo a maconha a mais comercializada. Somente no ano passado foram apreendidas mais de 26 toneladas da erva, montante que no mercado informal equivaleria em torno de R$ 3 milhões. Segundo a ONU, a maconha é a droga mais popular do mundo, com 146 milhões de consumidores, ou seja, 2,3% da população global. No Brasil, ela é consumida por 1% da população. Na Argentina, por exemplo, a maconha é usada por 3,7% das pessoas. Na Espanha, o índice é de 9,7%; no Reino Unido de 10,6%; e nos Estados Unidos, de 11%.
Ainda em 2004 foram apreendidos nas estradas paranaenses cerca de 21 quilos de cocaína, quantidade que seria comercializada por pouco mais de R$ 400 mil. Apesar do Estado não ter um comércio expressivo deste entorpecente, o mercado consumidor de cocaína é estimado em 13,3 milhões de pessoas, o que representa 0,2% da população mundial.
Por fim, segundo pesquisas da ONU, 185 milhões de pessoas consomem drogas ilícitas em todo o mundo, o que representa 3% da população do planeta. Quase 7% dos brasileiros já experimentaram algum entorpecente. Um por cento, ou seja 1,7 milhão de pessoas, fazem uso contínuo de drogas. Além disso, grande parte dos 30 mil homicídios ocorridos por ano no Brasil estão relacionados ao tráfico e ao consumo de drogas.
Fiscalização nas estradas mobiliza policiais rodoviários
Na tentativa de coibir o narcotráfico nas estradas do Paraná, as polícias rodoviárias Federal (PRF) e Estadual (PRE) instalaram vários postos de fiscalização próximos às fronteiras do Estado e ao longo da BR-277. Dos 64 postos da PRE, pelo menos 21 estão nessa região. Já a PRF possui 14 postos, dos quais oito estão situados na BR-277, que compreende o trecho do "corredor do narcotráfico", da Ponte Internacional da Amizade, em Foz do Iguaçu, à Guarapuava.
De acordo com o chefe de operações da Polícia Rodoviária Federal, inspetor Cortiano, nos últimos quatro anos intensificaram-se as ações no combate ao crime organizado, narcotráfico e contrabando na BR-277. "Durante muitos tempo nós ficamos responsáveis apenas pela segurança do motorista e pelo controle do tráfego em geral. Porém, nos últimos dez anos nós passamos a atuar também no combate ao tráfico de drogas e ao contrabando nas estradas, trabalho que vem sendo bastante aprimorado desde 2001", contou o inspetor. Por isso, a ação dos policiais é intensa desde a Ponte da Amizade até Guarapuava, onde há oito postos espalhados pela rodovia. "Este é sem dúvida o ponto mais crítico. Cerca de 90% das apreensões acontecem entre as cidades de Foz do Iguaçu, Guaraniaçú e Cascavel", disse Cortiano.
Ainda na BR-277 há fiscalização da PRF em São José dos Pinhais e na Estrada de Alexandra, no litoral. As demais acontecem nas BR-116, em Mandirituba e Campina Grande do Sul; na BR-376 em Contenda e Guaratuba, e na BR-373, em Ponta Grossa.
Treinamento
No combate ao narcotráfico a PRF vem usando de várias estratégias para descobrir os entorpecentes nos locais mais inusitados. "Nós contamos com policiais especializados, cães farejadores e disponibilizamos de um ótimo aparato tecnológico nos postos, que nos propicia levantar a ficha dos suspeitos e a situação dos veículos. Já encontramos drogas dentro de latas de alumínio lacradas, no fundo falso de caminhões, em meio a cargas diversas e até em forrações do teto de veículos", explicou Cortiano, salientando que todas as ações são criteriosamente planejadas e baseadas em estudos de inteligência. Ainda segundo ele, 78% das apreensões feitas no ano passado foram em caminhões e carros. O restante em ônibus.
Já a Polícia Rodoviária Estadual conta com 21 postos situados em locais estratégicos, próximos às fronteiras do Paraná à BR-277. Destes, oito estão situados perto de Foz do Iguaçu ou em rodovias de acesso ao "corredor do narcotráfico", sendo os demais distribuídos nas divisas entre os estados de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
"Apesar dos nosso esforços para coibir o narcotráfico contamos apenas com 400 policiais rodoviários federais para atender todo o Paraná. Esperamos que este ano outros 1.100 homens venham reforçar o efetivo", finalizou Cortiano.
