As polícias Militar e Civil realizaram ontem à tarde, a pedido do Ministério Público do Paraná, uma blitz para lacrar as portas das casas de bingo de Curitiba e proibir o funcionamento de todos os equipamentos de videoloteria. Foram visitados nove estabelecimentos: Central Bingo e Vegas, no centro, Ventura Bingo, no Bigorrilho, Royal Palace e Midas, respectivamente nas ruas Mateus Leme e João Gualberto, Millenium, na Vila Hauer, Mirage, Golden Bingo e Kennedy Center Bingo, no Portão. A maioria deles estava fechada no momento da chegada das viaturas de polícia.
O Golden foi encontrado com as portas abertas, mas totalmente abandonado. No Central Bingo, um segurança, que tentou impedir a entrada da polícia e acabou ferindo a mão de um policial, foi detido. No Kennedy, que se encontrava aberto, houve manifestações de clientes que esperavam para jogar e de funcionários.
A polícia chegou ao Kennedy por volta das 14h. No local, dezenas de senhoras de idade aguardavam para fazer suas apostas. Máquinas de videoloteria estavam em pleno funcionamento. No momento em que a polícia colocou o termo de lacração na porta do estabelecimento, muitas pessoas se revoltaram. “Freqüento o bingo há mais de três anos. É uma das minhas únicas distrações”, disse a dona de casa Marina Ern. “É uma asneira proibirem as casas de funcionar. Ninguém obriga as pessoas a virem jogar. Só vem quem quer e não estamos fazendo nada de errado.”
A professora aposentada do Estado, Maria Aparecida de Castro, tirou da bolsa várias notas de R$ 50, dizendo tê-las ganho no bingo, na última sexta-feira. “Minha aposentadoria não chega a R$ 450, o que é uma vergonha. Este mês já ganhei R$ 500 no bingo”, afirmou. “Além de ser uma terapia, o bingo ajuda no meu sustento e no do meu marido. É um dinheiro que eu ganho de forma honesta e que vai fazer falta no orçamento de minha família.”
A funcionária Elenice , que há quatro anos trabalha no Kennedy, começou a chorar quando viu as portas sendo lacradas. A perspectiva de perder o emprego a deixou bastante preocupada. “Meu marido ganha muito pouco, e eu dependo do trabalho no bingo para pagar o aluguel de minha casa e a escola dos meus dois filhos. Foi muito difícil conseguir esse emprego e não posso perdê-lo”, contou.
Depois que a polícia se retirou, as portas do Kennedy foram abertas novamente e os clientes convidados a entrar para jogar normalmente. A advogada da casa, Maria Dalva Martins, disse que o decreto do governador Roberto Requião desregulamenta os bingos no Estado, mas não determina o fechamento dos estabelecimentos.
Ela também alegou que no termo de lacração havia apenas a assinatura de um promotor de Justiça, mas não sua identificação. No documento, estava presente uma assinatura, mas não dava para identificar o autor. “Não há nenhuma ordem judicial que nos obrigue a fechar as portas”, constatou.
Em casos de desobediência, serão lavrados termos circunstanciados. Os proprietários serão detidos, mas logo liberados. Depois de algum tempo, serão chamados a comparecer ao Juizado de Pequenas Causas e receberão penas.