Embora continue a ser feito em qualquer “portinha” aberta ao lado de casas lotéricas de Curitiba e Região Metropolitana, o jogo do bicho está sendo alvo de severas investigações por parte não só da polícia, mas também do Ministério Público e outros órgãos federais. Recentemente, um dossiê denunciando atividades ilícitas envolvendo o jogo e uma suposta “guerra” declarada pelos chefões da contravenção contra os rivais que tentam trabalhar com máquinas caça-níqueis e caça-notas, chegou aos gabinetes da Ordem dos Advogados do Brasil, da Segurança Institucional da Presidência da República, da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, da Procuradoria Geral da Justiça do Paraná, da Promotoria de Investigação Criminal, da Procuradoria da República no Paraná, da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, da Corregedoria da Polícia Civil do Paraná e da Polícia Federal. O documento revela detalhes dos bastidores da contravenção e denuncia assassinatos, lavagem de dinheiro e outros crimes.

Ainda ontem o promotor Ramatis Fávero, coordenador da Promotoria de Investigação Criminal, confirmou o recebimento do documento e informou que os trabalhos investigatórios estão sendo feitos. “Tudo o que estiver na denúncia e for comprovado terá o encaminhamento necessário na Justiça”, disse ele, comentando que as revelações são bastante sérias e merecem atenção das autoridades.

Também a Corregedoria da Polícia Civil designou duas equipes para trabalhar no caso, uma vez que a denúncia aponta o envolvimento de delegados no recebimento de dinheiro proveniente do jogo do bicho. Um dos contraventores, inclusive, já teria sido ouvido na Corregedoria. Por outro lado, a mulher do bicheiro Almir Solarewicz – assassinado a tiros em um bairro nobre de Curitiba em 20 de setembro de 2000 -, bem como o irmão dele, estão sendo procurados pelos policiais para também serem ouvidos. Ambos já prestaram depoimento em abril passado, no 6.º Distrito Policial, apontando outro bicheiro, Francisco Feitosa, como o mandante da execução. Feitosa, através de seus advogados negou qualquer participação no caso. A Corregedoria pretende obter novas informações sobre o crime através da viúva e do irmão da vítima.

Sem competência

Já o delegado da Polícia Federal Juliano Maciel, que também recebeu o dossiê, explicou ontem que o caso não é da competência federal e portanto, a PF não realizará nenhuma investigação. “Este é um assunto para a Polícia Civil”, disse ele.

A carta-denúncia, com nove páginas e dezenas de informações, informa sobre um possível “banho de sangue” entre bicheiros e contraventores que exploram máquinas caça-níqueis e assegura que pistoleiros da Escuderia Detetive Le Coqc estão em Curitiba, aguardando ordens para eliminar pessoas que não se enquadrem no esquema de venda casada níquel-bicho. A escuderia nada mais seria do que um grupo de extermínio que serve aos interesses de organizações criminosas em todo o Brasil. Os bicheiros estariam contando também com os serviços de uma advogada e um amigo dela, este, envolvido com roubo e desvio de cargas. A proteção final para que toda a organização funcione estaria sendo feita por policiais da ativa e ex-policiais civis e militares.

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