Bicheiro crivado de balas

Ao travar uma guerra com a cooperativa de bicheiros que comanda o jogo do bicho em Curitiba e Região Metropolitana, o contraventor Marcelo Bertoldo, 32 anos, levou a pior. Na noite de quinta-feira, por volta das 21h20, ele foi executado por dois homens armados com pistolas automáticas, calibre 380.

O crime aconteceu em frente ao Bar e Mercearia Gorski, na Rua Tobias de Macedo Júnior -quase esquina com a Rua André Zillo – no Santo Inácio. Marcelo estava conversando com o pai – Arlindo Bertoldo -quando os matadores, que ocupavam uma motocicleta, aproximaram-se e atiraram. Ele morreu na hora, crivado de balas. Levou cerca de 15 tiros. De acordo com a polícia, havia seis meses que a vítima tinha se desentendido com os cooperados e, desde então, estava sofrendo ameaças. Há cinco anos, outro bicheiro, Almir José Solarewicz, foi morto em Curitiba, também por contrariar os interesses da cooperativa.

De acordo com informações do delegado Adonay Armstrong, titular da Delegacia de Homicídios e responsável pela investigação do crime, a vítima liderava o jogo em Campo Largo, porém estaria expandindo seus negócios e invadindo o espaço de outros bicheiros. "O Marcelo tentou se associar com Joel Moreira Bonzato, bicheiro de Paranaguá, que não aceitou a proposta", informou o delegado. Há partir daí passou a ser visado pela cooperativa. Ainda segundo o que foi apurado pelo delegado, Marcelo trocava insultos com Luizinho Pasqualoto, um dos integrantes do grupo de bicheiros liderado por Francisco Feitosa.

 "O Marcelo queimava as motocicletas dos coletores de apostas da cooperativa, que por sua vez faziam o mesmo com as motos dele", explicou o policial, salientando que após algumas ameaças, Marcelo chegou a blindar seu veículo Omega, mas de nada adiantou. "Já temos uma linha de investigação e nas próximas horas deveremos ter novidades. Não resta dúvidas do motivo e já temos suspeitos. Agora basta saber quem foram executores", adiantou Armstrong.

Morte

Arlinto Bertoldo é assíduo freqüentador do bar Gorski, situado próximo da casa dele. Anteontem, Marcelo procurou o pai para lhe entregar um cartucho de impressora. Parou no bar e desceu do carro blindado, para conversar. Quando os dois batiam papo encostados no Omega, surgiram os assassinos. Conforme relato de Arlindo aos poliiais militares que deram atendimento à ocorrência, os motoqueiros primeiro deram voz de assalto. Ele e o filho chegaram a levantar as mãos e mesmo assim Marcelo foi executado. Depois de atirarem contra o rapaz, os criminosos afastaram-se e em seguida retornaram, disparando mais uma saraivada de tiros, como se quisessem confirmar que a vítima não sobreviveria.

Placa

A placa da motocicleta foi anotada por testemunhas. Segundo o delegado, o veículo é de Paranaguá e o nome do proprietário já foi apurado.

O dono da motocicleta deverá prestar depoimento na delegacia nas próximos dias.

A família de Marcelo dominava o jogo do bicho em que Campo Largo há 30 anos, mas estavam ampliando os negócios. Em novembro passado abriu bancas em Fazenda Rio Grande e estava "de olho" no mercado curitibano.

O rapaz assassinado era casado, morava em Santa Felicidade e tinha dois filhos.

Cinco mortes em seis anos

A violência empregada nas disputas internas dos bicheiros, normalmente para ampliação de suas áreas de atuação, começou a ganhar repercussão em 1999, quando Paulo Yoshiaru Skamoto, também conhecido como "Paulo Bicheiro" ou "Japonês", foi morto em Paranaguá, em 19 de setembro daquele ano. Logo depois, outros dois assassinatos aconteceram no município e também foram atribuídos aos bicheiros. Já em Curitiba, em setembro de 2000, o contraventor Almir José Solarewicz, que fizera parte da cooperativa e na época estava tentando diversificar seus negócios, implantando na cidade máquinas de caça-níqueis, também foi morto a tiros por três homens que o atocaiaram em um estacionamento, em frente ao apartamento onde ele residia, no Juvevê. Com a morte de Marcelo Bertoldo, anteontem à noite, sobe para cinco o número de vítimas contraventoras, o que reforça a hipótese que o outrora inocente jogo do bicho – como sempre foi dito que era no Paraná – está se transformando em um monstro capaz de eliminar qualquer um que contrarie seus interesses.

Paranaguá

Os três assassinatos que chocaram Paranaguá e estão diretamente ligados ao jogo do bicho no litoral, continuam sem uma resposta concreta por parte das autoridades, apesar de os crimes terem ocorrido nos anos de 1999, 2000 e 2001. Somente dois acusados, Márcio Baurakiades Teixeira e Hélio de Oliveira, o "Helinho", estão presos. Ainda são acusados de envolvimento nos assassinatos Elias Thadeu Farij, Hélio Alves dos Santos, e Ariovaldo Marques, mais conhecido como "Ari Cabeção". São apontados como mandantes dos três crimes os irmãos Joel Moreira Bonzato, 64, e Antônio Carlos Bonzato, que também são acusados de liderar o jogo do bicho na região.

O autor da morte de "Paulo Bicheiro" seria – de acordo com as investigações – Hélio de Oliveira, o "Helinho", que estava acompanhado de Márcio Baurakiades. Já os mandantes também seriam os irmãos Joel e Antônio Bonzato. Eles denunciados pelo Ministério Público, mas ainda não foram julgados.

A população de Paranaguá mal tinha apagado as lembranças da execução de "Paulo Bicheiro", quando o sindicalista e estivador Paulo Canhola foi morto, em 7 de março de 2000. As investigações apontaram que o autor dos tiros foi Ariosvaldo Marques, que agiu junto com Elias Thadeu Farij e Márcio Baurakiades Teixeira. Os mandantes neste caso, de acordo com a acusação, são Antônio Carlos Bonzato e Hélio Alves dos Santos, sendo o último diretor do Sindicato da Estiva na época do crime.

No ano seguinte, o estivador Luís Félix da Silva, o "Sapo", foi executado no dia 1.º de novembro. As investigações policiais indicaram que o autor "Helinho", novamente auxiliado por Márcio Baurakiades Teixeira.

Curitiba

No dia 20 de setembro de 2000, Almir José Solarewicz foi morto a tiros no Juvevê, por três homens. Somente um dos acusados foi preso e julgado pelo crime. Otaviano Sérgio de Macedo, o "Serginho", foi condenado a 19 anos e seis meses de reclusão. Os outros acusados continuam impunes e sequer seus nomes foram levantados pela polícia. "Serginho", mesmo após condenado continuou a negar qualquer envolvimento no caso, dizendo ser inocente.

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