Beira-Mar longe da praia!

O traficante Luiz Fernando da Costa – o Fernandinho Beira-Mar – é o prisioneiro 001 da Penitenciária Federal de Catanduvas, no oeste do Estado. Provável destino de alguns dos mais perigosos criminosos do País, o traficante é o único a ocupar uma das 208 celas da unidade, inaugurada no dia 23 de junho. Ele foi transferido na madrugada de ontem, em uma operação secreta do Comando de Operações Táticas da Polícia Federal (PF). No avião, escoltando o traficante, vieram seis agentes e um delegado.

A aeronave chegou por volta da 1h35 no Aeroporto de Cascavel, a 50 quilômetros da Catanduvas. De lá, Beira-Mar foi escoltado por quatro carros descaracterizados da PF, chegando ao presídio por volta das 3h. De acordo com o Ministério da Justiça (MJ), o traficante ocupa uma cela comum. A unidade também possui celas para presos que cumprem o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), com regras mais rígidas.

Presos serão tratados com rigor total na nova cadeia federal.

O pedido de transferência do traficante foi feito pela PF e pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) à 1.ª Vara Criminal de Curitiba. Outros cinco estados solicitaram vagas na penitenciária, mas a Justiça Federal não informou quais são nem a quantidade de presos. Beira-Mar está sob custódia do governo federal desde fevereiro de 2003, quando foi transferido do complexo de Bangu, no Rio, para a PF, onde até a noite de terça, ocupava uma cela na Superintendência Regional em Brasília. Desde que foi preso em 2001, Beira-Mar já foi transferido oito vezes.

A chegada do traficante dá início a uma atividade que deve se tornar rotina, já que a permanência dos presos será transitória. O governo quer fazer rodízio de detentos para evitar formação de grupos e desarticular os que promovem rebeliões e lideram o crime organizado. O MJ constrói outras quatro penitenciárias federais, a um custo aproximado de R$ 20 milhões cada uma. Elas deverão ser inauguradas até 2007, em Campo Grande (MS), Mossoró (RN), Porto Velho (RO) e Espírito Santo.

Recepção

E treinamento não faltou aos 160 agentes. No último mês puderam fazê-lo à exaustão, enquanto aguardavam os processos de transferência. Para chegar à cela, Beira-Mar precisou passar por 17 portões de ferro. Já na entrada foi submetido à primeira identificação e aos procedimentos de segurança. Posteriormente, entrou na primeira "gaiola", onde recebeu as orientações sobre o sistema da penitenciária.

De porta em porta chegou à triagem, onde foi tirada a impressão digital e feitas fotografias. Seus pertences foram guardados em armários.

Ele então foi conduzido com capuz na cabeça até a cela. Lá dentro há uma cama, uma pia e um vaso sanitário. Tudo construído em concreto, com chapas de aço internas, mesmo material colocado nas paredes e no piso. Na cela Beira-Mar encontrou um colchão, cobertor, travesseiro, chinelo de dedo e tênis, além de escova de dente, pasta, sabonete e um estojo de barbear, cedidos pelo Depen. O banho é na própria cela, com a água vinda de um orifício no teto. As atividades do traficante são monitoradas durante todos os minutos do dia por câmeras que transmitem imagens para a direção do presídio e para o Depen, em Brasília.

Chegada de bandidão não perturba vizinhos

Fernandinho Beira-Mar começou no crime ainda menino. Aos 20 anos, trabalhava para traficantes como "vapor" na Favela Beira-Mar, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Mais tarde, passou a controlar a favela e, em pouco tempo, se transformou num dos maiores vendedores de drogas no atacado do Brasil. "É um preso a mais do sistema que foi transferido e estava dentro do previsto e do esperado", disse o secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, que minimizou a transferência daquele que foi considerado o inimigo público número 1 da polícia do Rio de Janeiro, acusado ainda de envolvimento com as Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc).

A transferência de Beira-Mar teve o sigilo que todos os envolvidos no processo queriam. Mas alguns sinais já prenunciavam que alguma coisa diferente estava para acontecer ainda na terça-feira. Carros da PM rodavam com uma constância incomum. À noite, os holofotes do presídio foram acesos. Mas esse foi apenas um das temas nas rodas de conversa em Catanduvas, onde a preocupação é com a segurança da cidade e com as conseqüências da estiagem. Uma indiferença que talvez tenha motivo na discrição com que o preso foi trazido de Brasília até a cidade.

"Por mim pode vir quem quiser, eu não conheço ninguém", disse o comerciante Pedro Burcart. Apesar de ter seu bar às margens da PR-471, onde também está o presídio, no meio da tarde ele ainda não tinha certeza de que o traficante estava na prisão. Doralina Antunes, funcionária da Alfabelle Confecções, praticamente vizinha à penitenciária, também não sabia o que estava acontecendo, apesar do tráfego constante de carros de reportagem. "Não tenho nem noção", enfatizou. "Quem está lá dentro não vai fazer mal." (DD)

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