O interrogatório da cafetina Mirlei de Oliveira, 47 anos, conhecida como “baronesa do sexo”, foi marcado por sérias acusações e declarações. Acusada de extorsão e lenocínio, Mirlei foi interrogada por mais de uma hora, na tarde de ontem, pelo juiz Luís Taro Oyma, da 7.ª Vara Criminal. Nervosa, a “baronesa” afirmou que está com medo, uma vez que vem recebendo ameaças de prováveis clientes. Entre as declarações bombásticas que fez, ela contou que foi agredida pelo superintendente da delegacia onde está presa (9.º Distrito) e afirmou que o delegado Silvan Rodney Pereira, do 1.º Distrito Policial, há alguns anos, tomou suas agendas para montar um prostíbulo.
O primeiro questionamento do juiz foi quanto a acusação de extorsão feita pela ex-garota de programa que atualmente é casada com um americano e mora nos Estados Unidos. Ela contou à polícia que sofreu ameaças de Mirlei, que avisava que se não recebesse o dinheiro que ela lhe devia, iria até a empresa onde o americano trabalha, para contar que ele era casado com uma garota de programa. Mirlei negou ter feito a ameaça, mas afirmou que cobrou dele o dinheiro referente a tratamentos médicos e ao visto que ela providenciou para a garota viajar, totalizando mais de R$ 3 mil. A cafetina afirmou em juízo que cobra por tudo o que fornece às garotas, como roupas, salão de beleza e passagens áreas, ficando com 30% do lucro dos programas. “Eu trabalho há 22 anos com prostituição e exijo que minhas garotas se vistam bem e fiquem bonitas. Tanto é que os programas custam entre R$ 150 e R$ 2 mil, mas eu nunca ameacei ninguém”, declarou.
Ataques
A mais forte das acusações feitas pela “baronesa””cai sobre o delegado titular do 1.º Distrito Policial, Silvan Rodney Pereira. Segundo a cafetina, há cerca de 10 anos ele realizou uma “batida” no seu prostíbulo, situado em Colombo, onde apreendeu várias agendas com o nome e telefones dos clientes. A partir disso ele teria montado um estabelecimento semelhante ao de Mirlei, e por isso sido transferido para o interior do Estado, devido as influências de Mirlei. “Ele quis montar uma zona igual a minha, levando inclusive minha gerente para trabalhar com ele, mas como eu conhecia muita gente importante na polícia, ele foi transferido para o Interior”, afirmou Mirlei ao juiz.
O delegado contesta a acusação e garante que a “batida” ocorreu em diversos prostíbulos da capital quando ele era delegado da Delegacia de Ordem Social. Depois disso ele foi promovido a delegado de primeira classe e em seguida passou para a Divisão de Telecomunicações. “Trabalhei no interior, mas não foi nessa época e a minha transferência não teve nenhum ligação com o trabalho de fiscalização que fiz nas boates”, defendeu-se Silvan.
Ameaças
Devido as denúncias de que Mirlei estaria tendo regalias no 9.º Distrito Policial, como recebendo visitas em horários impróprios e andando livremente pelos corredores com um telefone celular, a “baronesa” afirma ter sido agredida pelo superintende da delegacia. “Depois do que foi publicado nos jornais, ele me deu um tapa no rosto, deslocando um implante de dente que estou fazendo”, declarou. Além disso, Mirlei afirmou que vem sofrendo ameaças na delegacia por pessoas que se passam por advogados e religiosos. “Estou com muito medo porque as minhas agendas, contendo nomes e telefones de pessoas muito influentes de Curitiba, foram apreendidas pela polícia e até agora não foram entregues à Justiça”, disse ela.
Por fim, a “baronesa” declarou que atualmente trabalha com quatro ou cinco garotas e que o mercado caiu de forma vertiginosa. “Em 1991 tinha cerca de 70 esquemas por dia, hoje são feitos no máximo 15. Depois de toda essa confusão vou deixar de trabalhar com isso”, finalizou.
Advogado fala de irregularidades
O advogado Marden Maues, defensor de Mirlei de Oliveira, compareceu na 7.ª Vara Criminal munido de vários documentos do caso, inclusive com uma petição que ele garante não ter sido incluída no processo. Mediante a situação ele afirmou que pretende comunicar ao Ministério Público todas as irregularidades que ocorreram durante a investigação policial.
Segundo Maues, antes do 1.º Distrito Policial pedir pela prisão temporária de Mirlei, ele enviou uma petição anunciando que a cafetina estava à disposição, caso a polícia quisesse ouvi-la. “Esse documento não foi anexado no processo e por isso o juiz atendeu o pedido de prisão temporária, entendendo que ela estava foragida”, disse o advogado.
Outra irregularidade apontada por Maues é que o material apreendido na chácara de Mirlei ainda não foi encaminhado à Vara Criminal, o que não condiz com a lei. O delegado Silvan Rodney Pereira defende-se da acusação e afirma que ele não é responsável pelo inquérito policial, uma vez que outro delegado do distrito está presidindo as investigações. “Além disso nós ainda estamos catalogando todo o material apreendido, pois foram retidos centenas de documentos da chácara de Mirlei. Este trabalho deve ser encerrado hoje e então o material será enviado à Vara Criminal”, finalizou Silvan.