Medo acima de tudo

Bandidos tomam conta de ruas e comércio do Bairro Novo

Entre os comerciantes da Rua São José dos Pinhais, no Bairro Novo, Sítio Cercado, quem não foi assaltado, sabe indicar quem foi. A via, uma das principais do bairro, abriga grande quantidade de estabelecimentos e a movimentação é intensa. Os bandidos não se intimidam e costumam agir mesmo à luz do dia. Mas, segundo a Polícia Militar, o índice de roubos não é elevado em relação a outros bairros. Porém, nem a PM nem a Polícia Civil sabem dizer quantos assaltos são registrados. Os dados estariam a cargo da Secretaria da Segurança Pública, que não os divulga há seis meses.

Mal abriu uma loja de roupas, há apenas dois meses, Elaine Carneiro, 31 anos, teve uma péssima recepção e pensou em desistir. Em abril, por volta das 12h, quatro homens entraram no local e deram o aviso “não corre que é um assalto!”. Eles trancaram a mulher e seu irmão no banheiro e fizeram a limpa na loja. “Encostaram o carro e carregaram sete sacos grandes com as roupas”, contou. Toda a ação durou menos de 15 minutos e foi registrada pelas câmeras de segurança do estabelecimento, mas o recurso não ajudou a recuperar o material roubado. “A polícia não pegou as imagens e ninguém foi preso”, reclamou Elaine. O prejuízo foi de cerca de R$ 30 mil. “Tivemos que fazer um empréstimo para continuar”.

Conhecidos

Segundo Elaine, no mesmo dia ela soube que outro comércio da rua foi assaltado. Pela comparação das imagens das câmeras de segurança, ela reconheceu os bandidos, como os mesmos que assaltaram sua loja e outras da região. José Marcos Veronese Junior, 25, responsável por outra loja de roupas, também acredita que, pela certeza da impunidade, os mesmos bandidos têm voltado para cometer assaltos na rua.

Há pouco mais de 20 dias, ele desconfiou de três homens que entraram na loja. “O cara mostrou a arma e mandou eu ir para trás do caixa. Quando ele viu que não tinha dinheiro, pediu que eu colaborasse e levou as mercadorias”, disse. José teve sorte que apareceram outras pessoas, ou o prejuízo teria passado de R$ 3 mil, que teve. Trocando informações com outros proprietários, ele desconfia que os mesmos bandidos tenham agido em mais locais. De acordo com ele, a polícia fez o atendimento rápido, mas ninguém foi preso.

A história de outra comerciante da região, que preferiu não se identificar por medo de represálias, é parecida com a de Elaine e de José. No começo do ano, dois homens entraram na loja, se passando por clientes. “Pediram produtos que estavam mais para o fundo. Foram nos encurralando e me prenderam com a funcionária no banheiro”, relatou. O prejuízo chegou a R$ 4 mil. A polícia foi chamada, mas, também dessa vez, ninguém foi detido.

Mesmo problema em toda cidade

A assessoria de imprensa da Polícia Militar informou que existe patrulha comercial do 13.º Batalhão, responsável pela área, e também é feito o patrulhamento regular, que também passa nas áreas comerciais. Segundo a assessoria, a PM faz operações específicas com o Batalhão de Operações Especiais (Bope) em momentos, como horários de pico, fins de semana e épocas de pagamento. De acordo com a polícia, o índice de roubos na via do Bairro Novo não está elevado em relação a outras regiões da cidade.

Osmar Antônio Dechiche, delegado do 10.º Distrito Policial, disse que a polícia tem trabalho para coibir a criminalidade na região. Segundo ele, nos últimos 30 dias foram feitas 12 prisões em flagrantes de assaltantes.

De acordo com o delegado, muitas vítimas não fazem o registro das ocorrências e a polícia perde o referencial estatístico.

Os boletins de ocorrência também são importantes para identificar outros crimes. “Quando a polícia faz uma ,prisão, procura no boletim a forma de agir do bandido, para identificar outros crimes que ele tenha cometido”, explicou.

Às cegas

Tanto o 10.º DP, a PM e a Delegacia de Furtos e Roubos não possuem ou não divulgam estatística de quantos assaltos ou furtos são registrados nos bairros. Todos delegam essa função à Secretaria da Segurança Pública, que costumava divulgar relatórios gerais trimestralmente, mas neste ano não liberou nenhum número. Mesmo com a divulgação, as estatísticas são por região e não distinguem bairros, o que torna impossível saber se existe áreas mais violentas na cidade, no que se refere a roubos ou furtos.