A megaoperação feita pelas polícias Civil e Militar na Vila Torres, no início do mês de março, parece ter gerado um amargo efeito colateral. Se por um lado a ação maciça da polícia resultou em prisões e na tranqüilidade dos moradores, por outro obrigou os marginais a deixar a Vila Torres e migrar para outras regiões. O aumento desenfreado da violência nos bairros Portão, Água Verde, Rebouças, Vila Guaíra e Parolin indica que a favela do Parolin foi o local escolhido para a debandada dos criminosos.
Há duas semanas, uma farmácia situada na Avenida Presidente Kennedy foi arrombada duas vezes na mesma madrugada. Às 3h, os marginais quebraram as janelas do andar superior do prédio, mas foram afugentados pelo alarme que acionou a segurança particular. Duas horas depois o mesmo grupo retornou e levou uma bicicleta e um fardo de refrigerantes. Em seguida, os ladrões subiram na marquise do salão de beleza, situado ao lado da farmácia, de onde roubaram os holofotes que iluminavam a placa do estabelecimento. Na semana anterior, o proprietário do mesmo salão de beleza, Cristian Gaspar Valentin, teve um prejuízo ainda maior. Os bandidos arrombaram a lavanderia e levaram toalhas, uma máquina de lavar roupa, uma centrífuga e uma wap.
Ainda nos últimos dias, o pet shop que funciona ao lado do salão também foi alvo dos marginais. Em uma ocasião eles entraram nos fundos do estabelecimento e roubaram apenas um pé de meia. Em outra, quebraram as pequenas janelas de ventilação e, do lado de fora, apoiados sobre o toldo, apanharam gaiolas, abriram-nas e roubaram passarinhos. Os hidrômetros e os fios de luz destes três comércios também foram furtados para a retirada do cobre o do bronze contido neles. "Morei 37 anos em São Paulo, que é uma cidade extremamente violenta e lá a situação não era tão horrível como aqui", disse a proprietária do pet shop, Nair Esteves Dizero.
A freqüência dos assaltos também está fazendo comerciantes desistirem das atividades. Há dois meses o proprietário de uma banca de jornais, situada na mesma avenida, foi baleado na perna durante um assalto. Ele vendeu o comércio à Dalia Inês de França, que assumiu o negócio há 15 dias. "Estamos com muito medo, pois em duas semanas fui assaltada três vezes, assim que abri a banca pela manhã. Eles roubam qualquer coisa, principalmente maços de cigarros", disse a comerciante
Negativa
Apesar da seqüência de assaltos e arrombamentos e do pânico que tomou conta dos comerciantes, as autoridade policiais negam o fato da violência ter aumentando nos últimos meses. De acordo com o delegado Rogério Haisi, titular do 2.º Distrito Policial (Rebouças), responsável pelos bairros situados próximos a favela, os índices de criminalidade na região mantiveram-se na mesma média. Porém, o delegado reconhece que alguns marginais migraram da Vila Torres para o Parolin. A mesma constatação é feita pelo comandante do 13.º Batalhão de Polícia Militar, major Irineu Ozires Cunha, também responsável pelo policiamento nesta região. Ele afirma que é normal a mudança da atuação dos bandidos quando a polícia intensifica sua ação em um local. "Não houve aumento da violência nestes bairros, o que ocorre é que a criminalidade torna-se normal em regiões próximas às favelas, e isso gera angustia e preocupação na população", disse Cunha.
Risco grande em qualquer hora do dia
A violência não está amedrontando apenas os comerciantes dos bairros da região centro-leste, mas também os moradores. Em um período de cinco dias, uma estudante de publicidade recebeu voz de assalto três vezes, enquanto caminhava por ruas do bairro Água Verde. Na última sexta-feira o professor do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), Mauro Rodinsk, 60 anos, foi assassinado com um tiro na barriga, na Avenida Iguaçu, Rebouças. Já na tarde de segunda-feira, o vendedor de carros Nilmar Rodrigues, 48, foi ferido com um tiro na mão esquerda, durante um assalto em uma loja de automóveis na Rua Guilherme Pugsley, também na Água Verde.
Na primeira semana do mês de abril a estudante universitária, de 20 anos, sofreu três tentativas de assalto consecutivas. Na primeira ela estava caminhando pela manhã, na Avenida Presidente Kenedy, quando um marginal se aproximou e com uma faca exigiu que ela entregasse o dinheiro que tinha e seu celular. Por sorte à garota estava próxima a um ponto de ônibus e o cobrador percebendo a ação dos marginais parou. Um bombeiro então desceu do coletivo em socorro dela. Nos dias seguintes ela foi abordada à noite, quando voltava da faculdade, em ruas próximas à avenida, mas conseguiu fugir dos marginais, que nas ocasiões não estavam armados.
Tiros
As vítimas mais recentes desta violência foram Mauro e Nilmar. O vendedor foi ferido na loja onde trabalha, quando chegaram dois homens simulando estarem interessados na compra de um veículo. Assim que abriu o veículo, os marginais deram voz de assalto. Houve reação e Nilmar foi baleado.
Por volta das 19h30 de sexta-feira o professor estava em seu Astra, quando parou no semáforo e foi abordado por três indivíduos. Ele teria sido baleado ao reagir ao assalto. Funcionários do Cefet contaram que a ação dos marginais é constante na região. Segundo eles os roubos são mais freqüentes quando terminam as aulas, por volta das 23h.
No próximo dia 14 os funcionários, professores e alunos do Cefet irão realizar uma manifestação, exigindo mais segurança nas ruas próximas a unidade e ensino.
Comunidade apavorada busca soluções concretas
Amedrontados com o surto de arrombamentos, os comerciantes da região reuniram-se semana passada com o delegado do 2.º Distrito Policial, Rogério Haisi, e com o comandante do 13.º Batalhão de Polícia Militar, major Irineu Ozires Cunha, na busca de soluções para o problema. A conversa resultou na criação do Conselho de Segurança da Vila Guaíra, que irá atuar nos bairros próximos à favela do Parolin. Outra medida tomada será o aumento de policiamento nos locais mais críticos.
Segundo o comandante, um módulo policial está sendo construído na Avenida Presidente Kennedy para abrigar a 1.ª Companhia da Polícia Militar, que atualmente funciona junto ao 13.º BPM. As obras devem ser concluídas nos próximos três meses. Outra medida tomada será a criação do policiamento solidário. Quatro viaturas da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) e duas do Projeto Povo fazem o patrulhamento pelos bairro Água Verde, Portão, Rebouças, Parolin e Vila Guaíra. Nos próximos dias, outras cinco do 13.º BPM deverão engrossar o efetivo no período noturno. "Estes carros são usados durante o dia pelo departamento administrativo e à noite ficam parados. Iremos reativá-los para que auxiliem no patrulhamento nas ruas", contou o comandante.
Conselho
Durante a reunião, os comerciante também debateram sobre a necessidade de um conselho de segurança, que deve ser formalizado até o final deste mês. Segundo um dos envolvidos no projeto, o comerciante Carlos Misccoli, o objetivo é fazer uma reforma urbana nos bairros da região, incentivando a criação de projetos sociais e a freqüência das crianças carentes nas escolas. "Não adianta apenas cobrar da polícia, os moradores têm que se empenhar da mesma forma. Teremos que descobrir quais são as dificuldades e trabalhar na busca da solução junto com as autoridades. Temos que agir na causa e não apenas na conseqüência, por isso o nosso projeto prevê a mudança no comportamento dos moradores e na cara dos bairros", finalizou Misccoli.