Bala perdida mata trabalhador no centro de Curitiba

O turno de trabalho terminou para o operador de máquinas Getúlio Gonçalves Lins, 38 anos, e ele saiu da indústria cervejeira por volta das 15h de ontem, com destino ao ponto de ônibus do Terminal Guadalupe, no centro de Curitiba, para pegar um coletivo, provavelmente para Colombo, cidade onde residia. O trabalhador andava tranqüilamente pela Rua João Negrão sem imaginar que se transformaria, minutos mais tarde, no personagem de mais uma tragédia urbana, vítima da violência. Getúlio foi alvejado por uma bala perdida e caiu morto na calçada, em frente a agência bancária do Itaú, entre as ruas Visconde de Guarapuava e Sete de Setembro, sem imaginar como fora atingido.

Momentos antes do trágico fato, o motoboy Enoel, um homem de meia-idade, cumpria o seu dever fazendo entregas e recolhendo malotes de dinheiro em agências bancárias. Foi até o Banco Bradesco, de onde retirou R$ 5 mil. Em seguida, subiu em sua motocicleta e se deslocou até a agência do Banco Itaú, na Rua João Negrão, para realizar um depósito. Estacionou a moto nas proximidades e caminhou em direção a agência. Perto da entrada do banco foi abordado por um homem a pé, que gritou: “Entrega a pasta, rápido”. Enoel demorou alguns segundos para assimilar que se tratava de um assalto e, em seguida, fez um gesto brusco na intenção de entregar a pasta. O assaltante se assustou e sacou sua arma. Ao mesmo tempo em que puxou a pasta com uma das mãos, atirou com a outra.

Apesar da pouca distância que separava vítima e assaltante, Enoel conseguiu se esquivar da bala. O assaltante saiu correndo com a pasta roubada em direção à Rua Sete de Setembro, onde entrou em uma Parati que o esperava. O carro, conduzido por outro comparsa, tomou rumo ignorado.

Morte

O disparo não acertou Enoel, mas atingiu o peito de Getúlio, o trabalhador que andava pela calçada da Rua João Negrão, por volta das 15h30, como muitos outros cidadãos faziam naquele horário e local. O tiro acertou o pulso direito da vítima, transfixou e se alojou no peito. Getúlio nem teve chances de receber atendimento médico. Morreu na hora, transformando-se em mais uma vítima da violência crescente em Curitiba e Região Metropolitana. “Esse tiro era pra mim”, dizia Enoel aos policiais civis e militares que atenderam à ocorrência. Ele informou que não notou que estava sendo seguido, mas admite a possibilidade, já que foi abordado antes mesmo de entrar no banco e o marginal foi incisivo na voz de assalto, referindo-se diretamente à pasta com o dinheiro. Transtornado com o episódio, o rapaz disse que é casado e que faz trabalhos de motoboy como “bico” para aumentar a renda familiar. Ele foi encaminhado à Delegacia de Furtos e Roubos, para prestar depoimento. No assalto, segundo ele, os marginais levaram R$ 3,5 mil que estavam na pasta. O restante do dinheiro, sacado no Bradesco, estava em seu poder.

Pistas

Logo após o fatídico incidente, a polícia iniciou buscas pela cidade à procura da Parati, veículo usado pelos marginais. Porém, até o final da tarde, a PM não havia obtido sucesso na localização de suspeitos. “Já temos algumas pistas que podem levar à autoria deste crime”, afirmou o delegado Rubens Recalcatti, da DFR. O delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, titular da Delegacia de Homicídios, também esteve no local com a sua equipe de investigadores, na tentativa de obter informações sobre o caso.

De acordo com a polícia, acredita-se que os marginais sejam os mesmos que têm praticado assaltos semelhantes nas saídas de agências bancárias.

Assassino pode ter fugido em moto vermelha

No final da tarde de ontem, policiais militares receberam uma informação anônima citando a placa da Parati que possivelmente havia dado fuga ao criminoso. O veículo foi encontrado no Bacacheri e seu condutor encaminhado à Delegacia de Furtos e Roubos. O rapaz não portava arma ou dinheiro e disse não ter nada a ver com o assalto e a morte do operário. No entanto, confirmou ter passado pelo local do crime e presenciado a cena. Disse também que viu dois homens fugindo numa motocicleta Honda, modelo CG, de cor vermelha, e que poderiam ser os autores do crime. Qualquer informação sobre os ocupantes da moto pode ser dada à DFR pelo fone 262-2800.

Alerta para o perigo

Assalto nas proximidades de agências bancárias têm se tornado um fato comum em Curitiba, apesar do trabalho de investigação que é feito pela polícia para identificar os criminosos e dos constantes alertar feitos à população para que tome o máximo cuidado, principalmente nos cinco primeiros dias úteis do mês, em que o volume de dinheiro é maior nos bancos, devido aos pagamentos. A imprensa também tem colaborado. No último dia 4 de agosto, a Tribuna publicou a matéria “Banco: perigo da porta para fora”, na qual citava alguns casos de vítimas que foram atacadas por marginais na entrada ou saída de agências.

A matéria destaca a necessidade de clientes tomarem precauções ao carregar quantias elevadas de dinheiro e, principalmente, de mudarem a rotina na realização de saques e depósitos bancários. Os “ataques” a clientes começaram a se intensificar desde que as agências bancárias tomaram algumas medidas preventivas para evitar roubos dentro dos estabelecimentos, como a implantação de circuito interno de vídeo, uso de porta giratória com detector de metais e a redução de dinheiro circulante dentro das agências. No entanto, da porta do banco para fora, o cliente continua exposto e se torna alvo fácil e preferencial dos marginais.

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