Taverna admitiu ter matado nove pessoas.

Suicídio por enforcamento. Assim o Instituto Médico-Legal determinou a causa da morte do presidiário Marcos Antônio Taverna, 27 anos. Ele foi encontrado sem vida dentro de sua cela, na Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP), às 20h20 de domingo. Taverna era apontado como o principal responsável pela maior chacina já registrada no Paraná, ocorrida em 28 de fevereiro passado, quando foram assassinadas nove pessoas, inclusive crianças. Durante a reconstituição do crime, realizada no último dia 12 de março em Alto Maracanã, Colombo, ele confessou – com certo grau de frieza – como matou as vítimas a tiros e golpes de picareta e ainda deixou duas pessoas feridas. O outro envolvido no crime, Marcos Roberto Martins Proceke, 26, alegou ter atirado apenas no traficante Hélio Dias Duarte – principal alvo da vingança dos assassinos – isentando-se de participação nas demais mortes.

A chacina foi motivada por um acerto de contas entre a dupla e Hélio e também pela disputa pelo controle do comércio de drogas dentro da Colônia Penal Agrícola (CPA), em Piraquara, segundo confessou Taverna. Hélio era acusado de fornecer entorpecentes na região do Alto Maracanã e na CPA, que conta com cerca de 600 internos. Lá, os presos cumprem pena em regime semi-aberto e não é difícil a entrada de drogas. Marcos Taverna seria responsável por levar as drogas fornecidas por Hélio para dentro da Colônia Penal.

Morte

O corpo de Taverna foi descoberto durante a contagem dos presos. Na 7.ª galeria, cubículo 716, o preso foi encontrado morto, enforcado. De acordo com o diretor da PEP, Flávio Lopes Buchmann, a vítima utilizou o lençol para fazer uma espécie de corda. Em seguida, tirou o bocal de luz do teto, amarrou o lençol na fiação de eletricidade e subiu numa pequena mureta de concreto, onde fica a cama. Depois se jogou. O corpo ficou pendurado a 30 centímetros do solo, aproximadamente. No quadro-negro que fica dentro da cela, Taverna deixou escrito dois bilhetes: um destinado à esposa e outro passando informações relacionadas à chacina de Colombo. “O que estava escrito eu não posso dizer, mas eram denúncias”, disse o diretor. Ele afirmou que não há nenhuma lista com nomes de outros presos envolvidos no crime ou jurados de morte.

A atitude extrema tomada por Taverna pode estar relacionada com o medo por seu futuro dentro do sistema penitenciário. “Ele sabia da gravidade do crime que cometeu e isso pode ter pesado em sua decisão”, explicou Buchmann. O preso foi transferido para a PEP – juntamente com o cúmplice Proceke – na noite da última sexta-feira, por determinação do juiz da Vara de Execuções Penais (VEP). Um dia antes, ele havia sido removido do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) – onde estava preso desde o início de março – para o Centro de Observação Criminológica e Triagem (COT), situado ao lado da Prisão Provisória de Curitiba, no Ahu. Ficou poucas horas no COT, exatamente porque o local não apresentava condições de segurança aos presos, que já estavam sendo ameaçados de morte por outros detentos.

Segurança

A solução encontrada foi a transferência de ambos para a PEP, presídio considerado de segurança máxima. Lá, Taverna e Proceke foram colocados em celas individuais, na área de isolamento. Desde o dia em que chegaram, eles não tiveram contato com nenhum outro detento, o que descarta a possibilidade de ameaças dentro da PEP. Conforme Buchmann, a determinação da Vara de Execuções Penais era de que os presos deveriam permanecer durante 30 dias no isolamento, por motivos de segurança. “Depois provavelmente seriam mandados novamente para o COT”, explicou o diretor.

Diante do suicídio cometido por Taverna, Buchmann informou que terá atenção redobrada em Proceke. “Os próprios presos têm suas leis e devemos manter a segurança do prisioneiro aqui dentro”, salientou, referindo-se a eventuais ameaças que possam vir a acontecer.

O caso será investigado pela delegacia de Piraquara, que vai abrir inquérito, apesar de constatado suicídio. Segundo o delegado Germino Marques Bonfim, até o momento as razões que teriam levado o rapaz a se matar são desconhecidas. “É uma carga psicológica muito grande”, comentou.

Na delegacia de Alto Maracanã consta que Taverna respondia diversos inquéritos por roubo, homicídio e tráfico de drogas. Ele foi conduzido ao Cope no dia 3 de março após passar dois dias na delegacia de Alto Maracanã.

Violência e crueldade espantaram até a polícia

Bia Moraes

A chacina do Alto Maracanã entrou para a história da violência no Paraná como a maior e mais cruel já ocorrida no Estado. Mesmo policiais civis e militares, e até funcionários do IML, habituados a presenciar cenas de crimes, ficaram chocados com a barbárie e as atrocidades cometidas por Marcos Antônio Taverna e seu comparsa, que mataram nove pessoas, entre elas crianças pequenas e idosos. Das nove vítimas, oito eram da família do traficante Hélio Duarte, de 51 anos, que também morreu.

No ataque dos bandidos, onze pessoas foram baleadas e três sobreviveram – um dos filhos do traficante, de 10 anos, a nora dele, de 22, e o filho dela, um bebê de colo. A moça escapou com vida porque, ao ser baleada, caiu e fingiu que estava morta. Ela, que recebeu um tiro no olho (e perdeu a visão), esperou os assassinos deixarem a casa para então sair e pedir socorro. O garoto de dez anos que sobreviveu foi baleado e ficou caído no chão da casa, junto aos demais corpos, até que chegasse o socorro. O bebê nada sofreu.

Confissão

O que impressionou os policiais foi a frieza de Taverna ao confessar o crime e depois, durante a reconstituição feita na casa da Rua Izabel Capelari. Sem mostrar arrependimento, ele disse que os adultos foram baleados e as crianças, mortas a golpes de picareta porque a arma dele teria pifado depois dos primeiros assassinatos. Todas as vítimas, incluindo as crianças, foram amarradas e amordaçadas pelos criminosos.

Além de Marcos Taverna e Marcos Roberto Martins Proceke, a polícia prendeu também um filho de Hélio Duarte que não estava na casa no momento da chacina. Rubens Adriano Duarte, 28 anos, o “Rubinho”, foi apontado por Taverna e Proceke como mandante da chacina, mas a polícia não obteve nenhuma prova desse fato. “Rubinho” continua detido na carceragem do Alto Maracanã para investigações, mas nega a acusação. O suposto mandante do crime ainda não foi identificado.

A polícia apurou que Hélio Duarte comandava o tráfico de crack dentro da CPA e na região do Alto Maracanã. Os matadores pretendiam eliminar Hélio e toda a família para assumir os lucrativos “negócios” do tráfico.

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