O processo que apura a denúncia de tortura contra os quatro suspeitos de matar a estudante Thayná Adriane da Silva, 14 anos, em junho do ano passado, em Colombo, chega ao segundo dia de oitivas. No fórum da cidade acontecem as audiências de instrução, em que serão ouvidos envolvidos no caso e testemunhas, e devem durar até a sexta-feira da semana que vem, devido ao número de pessoas arroladas no processo. Só as testemunhas de defesa somam cerca de 100.
Nem o juiz Leonardo Bechara Stancioli, da 1.ª Vara Criminal de Colombo, nem a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), deram detalhes sobre o andamento das audiências, já que o processo corre em segredo de Justiça. Mas, como de praxe num processo criminal, primeiro são ouvidas as vítimas, depois as testemunhas de defesa e por último os réus. Sendo assim, é bem provável que os quatro suspeitos de matarem Thayná, Sérgio da Silva Filho, Paulo Henrique Cunha, Adriano Batista e Ezequiel Batista, que dizem ter confessado estupro e homicídio da jovem sob tortura de policiais de Colombo, Araucária e Campo Largo, tenham sido ouvidos ontem. O prédio, segundo funcionários, ficou bastante movimentado das 13h30, quando começaram as audiências, até o fim da tarde. A previsão era de que as oitivas terminassem à noite, podendo correr madrugada adentro.
Crime
Thayná foi encontrada morta dentro de um poço, num matagal do bairro São Dimas, no dia 28 de junho. Ela também tinha sinais de que teve relação sexual (supostamente consensual, e não forçada) momentos antes da morte. Dois dias antes, quando a família já procurava pela jovem desaparecida, os quatro suspeitos, funcionários de um parque de diversões próximo ao local do achado do cadáver, foram presos e confessaram o estupro e homicídio. No entanto, estavam confusos e não sabiam dizer onde tinham abandonado o corpo, fazendo a polícia rodar por várias horas por todo o bairro.
Numa reviravolta das investigações, por conta de uma prova pericial que dizia que a estudante não tinha sido estuprada, os suspeitos mudaram a versão e alegaram que foram torturados para confessar o crime. O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, investigou a tortura e a Justiça acatou a denúncia contra 16 policiais civis (entre eles o delegado Silvan Rodney Pereira, primeiro a assumir as investigações do crime na delegacia do Alto Maracanã), dois guardas municipais, um soldado da Polícia Militar e dois presos “de confiança”. O grupo passou pouco mais de 100 dias preso.
Eles são acusados de abuso de autoridade, falso testemunho, tortura, estupro e lesão corporal e devem ser os últimos a serem interrogados.
Homicídio
Já o assassinato, em si, ainda está em fase de inquérito policial e tramita na Delegacia de Homicídios (DH), sob responsabilidade do delegado Cristiano Quintas. Ele pediu mais prazo ao Ministério Público e o inquérito retornou à DH no dia 22 de abril, com mais 60 dias para investigações. Apesar de não falar do conteúdo do inquérito, também em segredo de Justiça, Quintas revelou que várias pessoas foram ouvidas na semana passada e outras tantas serão interrogadas esta semana, incluindo os policiais civis da delegacia do Alto Maracanã. A novidade, disse o delegado, é que ao contrário do silêncio que os policiais mantiveram nas oitivas do Gaeco (pelo caso de torutra), eles têm falado bastante nos interrogatórios do homicídio. Isso tem trazido vários novos fatos às investigações, que terão a veracidade analisada nos próximos dias. Quintas vai verificar também se, no conjunto, todos os depoimentos dos policiais são harmoniosos ou contraditórios.
Uma das principais provas do inquérito, disse o delegado, é a confissão de Sérgio, Paulo, Adriano e Ezequiel. No entanto, é uma prova que está sendo questionada na Justiça, de que foi obtida mediante tortura. Caso isto se comprove, a principal prova do inquérito do homicídio será inválida. Mas independente do resultado que o processo de tortura terá, o delegado continua tocando o inquérito do assassinato. E das pessoas que estão sendo ouvidas no Fórum de Colombo, nesta e na próxima semana, várias já foram ouvidas na DH e outras tantas ainda prestarão depoimento. Os depoimentos destas pessoas em ambos os processos (tortura e homicídio), deverão ser confrontados.