Assassino será julgado 23 anos depois de cometer o crime

O advogado Matheus de Almeida tinha apenas 10 anos quando Pedro Becker da Silva, então com 23, saiu de um bar em companhia de amigos, no Jardim Santa Maria, em Almirante Tamandaré, e do outro lado da rua avistou seu inimigo número um, Adão Luiz Praxedes.

Adão lhe devia algum dinheiro e não fazia o pagamento. Encontraram-se, houve bate boca, Pedro estava armado com um punhal e acertou um golpe no peito da vítima, perfurando o coração. A morte foi imediata.

Hoje, passados 23 anos da data do crime, acontecido em 18 de outubro de 1986, Adão finalmente vai sentar no banco dos réus, para responder pelo homicídio. E seu defensor será Matheus, nomeado pelo Estado, porque o acusado não tem condições de arcar com a própria defesa.

Um julgamento tão tardio dificulta a ação da Justiça, já que nem mesmo as testemunhas do crime (de acusação e de defesa) foram encontradas. Apenas a mãe da vítima não mudou de endereço nestas mais de duas décadas.

E só ela comparecerá no Fórum de Almirante Tamandaré, para falar sobre o filho e testemunhar contra o autor. Sua esperança é de seja feita Justiça, e que Pedro, hoje com 46 anos, amargue um bom tempo na prisão.

O crime

A morte de Adão aconteceu por motivo fútil. Uma dívida contraída por ele quando a moeda ainda era o cruzeiro. Pedro era o credor e no julgamento deverá revelar qual negociação havia acontecido entre eles.

A defesa vai alegar legítima defesa, uma vez que o autor garante que Adão estava armado com um cabo de aço e tentou agredi-lo durante o encontro casual que tiveram na rua.

O inquérito foi instaurado, virou processo e nunca mais saiu das prateleiras do judiciário. Com toda certeza ficaria empoeirado, como mais um símbolo da impunidade.

Pedro só está sendo levado a júri graças a “meta dois” implantada pelo Poder Judiciário, que prevê o julgamento de todos os processos que ingressaram na Justiça até 31 de dezembro de 2005 em cada instância. Uma verdadeira limpeza nas prateleiras.

O homicida deve participar do julgamento, porque foi preso tempos depois do assassinato e condenado a mais de 20 anos de reclusão por estupro e atentado violento ao pudor, cometidos em São José dos Pinhais.

Ele está recolhido no presídio há 9 anos e só por este motivo é que foi encontrado com facilidade. Se estivesse solto, mesmo que condenado (atualmente o réu não precisa mais comparecer no julgamento) dificilmente iria ser localizado para cumprir a pena. O julgamento deverá ter início às 8h30 de hoje, no Fórum de Almirante Tamandaré.