Depois de três dias sumido, apresentou-se ontem, na Delegacia de Homicídios, o suspeito de assassinar com nove tiros Andrersandio Soares Franco, 22 anos, o “Lacraia”, na terça-feira de Carnaval. O construtor Aldaildo Fongher, 32, confessou o crime e disse ter jogado a pistola que usou no Rio Barigui. Ele foi indiciado por homicídio e liberado. Segundo a polícia, a Justiça indeferiu o pedido de prisão do suspeito, o que revoltou amigos e familiares da vítima.
Aldaildo declarou ao delegado Rubens Recalcatti que “Lacraia” e seu grupo estava sempre na porta do edifício onde tudo ocorreu, na Rua Mato Grosso, Água Verde, fazendo algazarra, consumindo bebidas, drogas e mexendo com as pessoas. Há cerca de um mês, conforme alegou Aldaildo, “Lacraia” passou a mão em sua esposa. A família -Aldaildo, a mulher e os dois filhos – voltavam da feira. O abuso ocorreu quando a família subia a escadaria do prédio.
Ameaças
O construtor disse que, caso alguém reclamasse de algo, o grupo fazia ameaças. Segundo seu relato, Aldaildo foi ameaçado de morte pelos jovens, o que o fez comprar a arma. O delegado disse que não pretende fazer buscas no Rio Barigui, pois acha pouco provável encontrar a pistola. Ele afirmou que foi cumprido mandado de busca e apreensão no apartamento de Aldaildo e nada foi encontrado.
Recalcatti explicou que o pedido de prisão foi solicitado na quinta-feira, mas a Justiça o indeferiu. Ele ressaltou que a decisão de soltura não foi dele e acredita que, para a Justiça, o suspeito não preenchia os requisitos para ficar detido.
Protesto
Depois de ficar sabendo da liberação de Aldaildo, familiares e amigos de “Lacraia” foram até a frente da Delegacia de Homicídios para protestar. Eles usavam faixas com os dizeres: “Basta violência. Prisão para o assassino”. Policiais mandaram que as faixas fossem colocadas do outro lado da rua.
Barulheira
No interrogatório, Aldaildo relatou que, por volta das 22h50 de quinta-feira da semana passada, ouviu barulhos muito altos vindos da rua. Ele alegou que desceu e verificou que eram as rodas dos skates, batendo nas portas de aço do shopping Água Verde, que fica embaixo do prédio.
Depois de pedir que os jovens fizessem menos barulho, Aldaildo disse que foi agredido. Um rapaz bateu com o skate em seu ombro e outros lhe deram socos e chutes na orelha e nas pernas. Uma garota, inclusive, teria tentado lhe jogar tinta no rosto. O grupo, de acordo com o interrogado, estaria cheirando a bebida alcoólica. Neste dia, a Polícia Militar foi chamada e um jovem, com traços orientais, teria sido levado à delegacia por desacato aos policiais, conforme o depoimento.
O construtor declarou que foi alertado pelo porteiro do prédio, para que tomasse cuidado com o grupo, mas não deu muita atenção ao aviso. Porém, com o passar dos dias, percebeu que a ameça era real. Ele afirmou que comprou a pistola, no sábado de Carnaval, na Avenida Presidente Kennedy, de uma pessoa que não conhece, por R$ 1.500.
Crime
No dia anterior ao crime, segundo o depoimento, o construtor chegava em casa com a família, passou pelos jovens, incluindo “Lacraia”, e ouviu-os dizer: “esse é o cara que queremos”. Em seguida, algum dos garotos teria ameaçado: “se não for você, alguém da tua família vai pagar”. Aldaildo declarou que, na terça-feira de Carnaval, chegava do trabalho e encontrou o grupo na escada. “Lacraia” teria dito que Aldaildo ia morrer. O construtor, então, pediu para conversarem, mas o diálogo começou com dois socos dados pelo rapaz. O construtor alega que, enquanto apanhava, outros jovens chegaram por trás. Com medo, puxou a pistola e atirou, de acordo com suas declarações. Ele disse não saber quantos tiros deu, mas, depois de ver o jovem caído, correu para seu carro e foi em direção ao Rio Barigui, onde jogou a arma.
