Os dois investigadores da Polícia Civil, mortos na noite de 30 de abril último, no Sítio Cercado, além de estarem extorquindo o autor do crime, também exigiram que ele matasse dois policiais militares – do serviço reservado – que estariam atrapalhando o ?trabalho? dos detetives na Praça Tiradentes. Os detalhes da dupla execução foram divulgados ontem, pela Delegacia de Homicídios, que interrogou o autor, João Moraes, 40 anos, conhecido por ?João Pastor?. João apresentou-se à Promotoria de Investigações Criminais (Pic), dias após o crime, e entregou o revólver que usou nos assassinatos. A arma pertence à Polícia Militar e, de acordo com o acusado, que teve a prisão preventiva decretada, lhe foi entregue por um dos mortos – Edmílson Polchlopek, 34. O outro policial executado foi Rubens Ferreira Lima, 49.
Segundo João, ele conheceu Rubens e Polchlopek na noite de 27 de abril, três dias antes da execução. Os investigadores queriam que João indicasse quem eram as pessoas que comercializavam drogas no Largo da Ordem. Naquela noite, os policiais – que estavam acompanhados de um outro investigador da Policial Civil -, encontraram no carro de João R$ 2.600,00, que garante que eram referentes a vendas de cartuchos de impressoras. Durante a conversa, um dos três policiais sugeriu que o dinheiro teria origem no tráfico de drogas. Em seguida, exigiram R$ 30 mil para não prender João em flagrante. Depois concordaram em abaixar o valor para R$ 10 mil, e ficaram com os R$ 2.600,00 encontrados no carro. João deveria ter entregue R$ 1 mil por semana, toda a terça-feira, sendo que o primeiro pagamento deveria ser feito no dia 1.º de maio.
Sangue
Porém, os investigadores o procuraram na noite do dia 30 de abril, na Praça Tiradentes. ?Rubens disse que tinha mudado os planos. Queria o dinheiro para aquele dia e que as prestações deveriam ser pagas nas segundas?, relatou o acusado. João alegou que só tinha R$ 100,00. Os policiais mandaram que ele entrasse na viatura descaracterizada de Almirante Tamandaré, e foram até a sua casa, no Sítio Cercado. Por não ter o dinheiro do ?acordo?, ele foi agredido por Polchlopek, que pisou em sua perna e colocou um revólver em sua boca, quebrando uma prótese dentária.
Durante o interrogatório, João mostrou as lesões.
Rubens então teria dito que, como não havia dinheiro, João teria que fazer um ?serviço? para eles, que seria ?matar os dois PMs do serviço reservado, que estavam tirando o lucro do centro?, conforme revelou o acusado no interrogatório. Rubens o teria desafiado, chamando-o de ?bunda-mole?, por não ter matado os dois policiais militares que prenderam João em 2005.
Após uma curta conversa, João aceitou a proposta, mas alegou que não tinha arma. Rubens mandou Polchlopek entregar a arma que trazia consigo e pertencia à Polícia Militar. Assim que pegou o revólver, João atirou nos dois, primeiro em Rubens e depois em Polchlopek.
O delegado Apprígio Paulo Andrade Cardoso, titular da Delegacia de Homicídios, informou que as investigações continuam. ?Vamos apurar o que realmente aconteceu e se há outras pessoas envolvidas na morte?, contou.
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