Quando viu o portão principal da oficina Cougar do Brasil apenas encostado e o cadeado caído no chão, o mecânico Miguel Kava, 46 anos, pressentiu que algo de ruim acontecera ali dentro. Antes de entrar, às 8h de ontem, pediu ajuda a uma viatura da PM e, ao lado dos soldados, viu a cena terrível: o escritório todo revirado, marcas de sangue por toda parte e o dono do estabelecimento, Ney de Jesus Baptista, 59, sentado no sofá, de camisa e cuecas, sem vida. As primeiras suspeitas da polícia levam a crer que ladrões tenham matado a pancadas o comerciante, que mantinha a oficina há 10 anos na Avenida Victor Ferreira do Amaral, próximo ao Detran, Tarumã.
Miguel, funcionário do estabelecimento há sete anos, contou que o patrão dormia todas as noites na oficina, inclusive finais de semana. Segunda-feira, o funcionário saiu do trabalho às 19h, deixando lá apenas o patrão e a esposa, que normalmente voltava para a casa da família, no Jardim Social. O crime, segundo a polícia, deve ter ocorrido no final da noite de segunda ou no início da madrugada de terça.
A polícia encontrou o portão de entrada encostado e a porta lateral e as janelas que dão acesso ao escritório abertas. O grande desalinho ali dentro, onde Nei dormia, indicava que houve uma feroz luta entre ele e os assassinos. Os vestígios de sangue, que conforme suspeita da polícia poderiam ser também dos agressores, começavam na cama e espalhavam-se por todo o cômodo. Alguns dentes junto ao solo davam a dimensão da luta. ©Provavelmente um golpe de extintor na cabeça tirou a vida da vítima. Havia ainda um ferimento na perna, possivelmente de tiroª, disse o delegado de Homicídios, Sebastião Ramos Neto, que compareceu ao local do crime.
No pátio, perto do muro que divide a oficina e uma demolidora, três cédulas de R$ 1 amassadas reforçavam as suspeitas de latrocínio. Segundo Miguel, o proprietário não costumava deixar dinheiro no estabelecimento e guardava consigo uma arma, não localizada pelos investigadores. Os assassinos possivelmente fugiram pulando o muro oposto, adjacente a um terreno baldio.
Cauteloso, o delegado Sebastião preferiu não creditar antecipadamente a autoria a ladrões. ©É a primeira impressão, mas não descartamos outras variáveisª, afirmou, acrescentando que um cenário de roubo pode ter sido montado para confundir as investigações. A polícia vai ouvir parentes do comerciante, que tinha duas filhas excepcionais, em busca de outras pistas do assassinato.