Foto: Fábio Alexandre |
Delegado Zanon: ?Eles são tão vítimas quanto as mulheres?. |
A seqüência de estupros que ocorria há meses em Colombo e em Almirante Tamandaré, que deixou a população em pânico, foi quebrada esta semana com a prisão de dois irmãos, de 14 e 17 anos. Eles confessaram os abusos praticados à mão armada contra, pelo menos, 10 mulheres. Interrogados pelo delegado Artur Luiz Zanon, de Colombo, os garotos alegaram ter cometido os crimes para afirmar sua masculidade, pois foram, durante anos, vítimas de um pedófilo, pertencente a alta sociedade do município.
A história sórdida resultou, ontem à tarde, na prisão do arquiteto, de 43 anos, acusado pela dupla.
Há dois meses os policiais de Almirante Tamandaré e Colombo começaram a registrar os casos de estupro. As vítimas, com idades entre 18 e 22 anos, eram atacadas sempre por volta das 22h, quando caminhavam sozinhas, ao voltar do trabalho ou da escola. Em uma moto de cor escura, e armados com revólveres calibres 22 e 38, os irmãos abordavam a mulher e a obrigavam a subir no veículo. Ela sentava entre eles e era levada até a zona rural. Quando chegavam ao local, os adolescentes vendavam os olhos da mulher com um pano. Apenas depois dessa precaução, tiravam o capacete e cometiam os estupros.
O que chamava a atenção era que a dupla era carinhosa e chegava a pedir desculpas depois de cometer o crime.
A incidência de casos mobilizou a polícia dos dois municípios e, na última segunda-feira, um investigador da delegacia de Colombo suspeitou de dois indivíduos que estavam com uma moto semelhante à descrita pelas vítimas.
O adolescente, de 17 anos, foi apreendido e o irmão dele conseguiu escapar, mas foi pego horas depois. Com eles foram encontrados dois capacetes, vendas, as armas e fita crepe.
Reconhecimento
Levados à delegacia, os irmãos foram reconhecidos por seis mulheres e confessaram os estupros.
O delegado acredita que há pelo menos outras dez vítimas, que, por medo ou vergonha, não procuraram a polícia. Como não conseguiram ver o rosto dos estupradores, as mulheres os reconheceram através da voz. ?Eles têm problema de dicção e não falam corretamente. Consegui convencer as vítimas a fazer o reconhecimento cara a cara e, quando eles falaram, não houve dúvidas?, contou o delegado.
Munido de mandado de prisão temporária, o delegado foi até a casa do pedófilo, no Centro de Colombo, e o prendeu na tarde de ontem. Até que obtenha provas materiais que comprovem os abusos que praticou, o nome do arquiteto não será revelado.
Garotos se justificam
Os irmãos revelaram a história de sofrimento velado, que viveram durante anos. Os dois iniciaram a vida sexual com o arquiteto, que, segundo contaram, os obrigava a fazer sexo anal nos papéis de ativo e passivo.
Quando tinha 14 anos, o garoto mais velho roubou um botijão de gás e foi baleado. O arquiteto, mostrando solidariedade, o levou para sua casa. Enquanto o adolescente se recuperava do tiro, o homem cometeu o primeiro de uma série de abusos sexuais que duraram quase três anos.
Há menos de um ano, o adolescente resolveu acabar com o sofrimento e foi morar sozinho, em um barraco, numa área de invasão de Colombo. Foi então a vez do irmão mais novo sofrer os abusos. Expulso de casa pela mãe, o jovem foi convidado pelo arquiteto para morar com ele.
O garoto foi abusado por quase um ano, até resolver ir morar com o irmão, há três meses.
Aliado ao trauma, as brincadeiras feitas por amigos, que sabiam da homossexualidade do arquiteto, também contribuiu para que eles procurassem afirmar a masculinidade. ?Estuprar as mulheres foi a maneira encontrada para que provassem que não gostavam de homens?, avaliou o delegado Luiz Artur Zanon. ?Eles são tão vítimas quanto as mulheres que abusaram?, finalizou o delegado.
A polícia apreendeu o computador do pedófilo, na tentativa de coletar provas que confirmem a versão dos garotos. Até que o crime seja materializado, o nome dele será mantido em sigilo.
O arquiteto mora com a mãe e tem um filho de 9 anos que reside em outra cidade.