O problema da superlotação, agravado pela infra-estrutura precária da carceragem da delegacia do Alto Maracanã, Colombo, provocou a proliferação da venenosa aranha-marrom. No último fim de semana um preso foi picado na sobrancelha, e há 15 dias outro teve a ponta de um dos dedos amputada, em decorrência do veneno do inseto.
Na tarde de sábado, um detento, acusado de homicídio, começou a sentir uma forte coceira sobre os olhos. A Polícia Militar foi acionada e o homem levado às pressas ao pronto-socorro do hospital local, onde foi medicado. Segundo o superintendente Valdir de Córdova Bicudo, ontem a delegacia encaminhou um pedido ao juiz Márcio Torcas, da Vara da Corregedoria dos Presídios, solicitando a remoção urgente do preso ao Complexo Médico-Penal, em Piraquara. Porém, enquanto aguarda uma vaga no hospital judiciário, ele continuará sendo medicado na carceragem da delegacia, que ainda não foi vistoriada pela vigilância sanitária de Colombo.
Limpeza
Temendo que mais alguém fosse picado, os detentos fizeram um mutirão, retirando colchões e verificando todas as roupas e calçados. Segundo o policial, a Secretaria Municipal de Saúde foi acionada, mas até a tarde de ontem nada havia sido feito.
Este não é o primeiro caso registrado na delegacia. Segundo familiares dos criminosos, outros três homens foram picados. Há quinze dias, um deles, detido por homicídio, também foi vítima da aranha-marrom. Cinco dias depois, mesmo sendo medicado, o caso agravou-se e ele foi transferido ao Complexo Médico-Penal. Um de seus dedos necrosou e parte dele teve que ser amputada.
A carceragem da delegacia do Alto Maracãna tem capacidade para 16 presos, mas atualmente abriga 70. Cerca de 30 homens dormem no chão do solário improvisado e outros 40 são divididos em quatro celas.
Cadeia é lugar ideal pra proliferação de pragas
Pequena, ágil e fatal, a aranha-marrom ataca sem que a vítima perceba. Segundo Giselia Burigo Guimarães Rubio, bióloga chefe da divisão de zoonoses e intoxicações da Secretaria Estadual de Saúde, a picada acontece quando o animal é comprimido pela pessoa, seja ao vestir uma roupa ou um calçado. Caso a vítima não receba socorro a tempo, o ataque do inseto muitas vezes leva à morte.
A bióloga explica que a aranha sobrevive em locais quentes e secos, onde há água, alimento, abrigo e acesso. Nos casos registrados na carceragem da delegacia do Alto Maracanã, Colombo, Giselia acredita que a aranha possa ter sido levada em alguma roupa. Para solucionar o problema, a bióloga avisa que não há inseticidas capazes de exterminar o animal, e que deve ser verificada qual a fonte de alimentação da aranha. ?Elas se alimentam de traças, cupins, insetos e até de pequenas baratas, por isso primeiro é necessário exterminar todos esses bichos?, explica. A superlotação e as dezenas de colchões espalhados pelo chão da carceragem são alguns dos locais onde possivelmente as aranhas venenosas se escondem.
?A solução seria passar um aspirador nas celas e verificar todos os cantos onde a aranha possa se abrigar, principalmente nas roupas e nos colchões?, diz ela.
Pragas
As cadeias também propiciam a proliferação de outras pragas, como percevejos, piolhos e sarnas. Porém, uma das doenças mais graves apontada pela bióloga é a leptospirose, transmitida pela urina da ratazana. Na última sexta-feira os ralos das celas entupiram com a chuva, o que fez a água transbordar pelo chão. ?Os policiais precisam ficar atentos, pois os primeiros sintomas da leptospirose se manifestam entre 7 e 10 dias após a contaminação. Os sintomas são parecidos com os da gripe, como dores do corpo, principalmente na batata da perna (panturrilha)?, finaliza Giselia.
Em abril, um surto de tuberculose disseminou-se na cadeia de Paranaguá devido a superlotação. A cadeia possui espaço para 20 pessoas e na ocasião 170 presos viviam em condições insalubres, o que provocou a disseminação da doença.