As delegacias especializadas da Polícia Civil ainda terão muito trabalho de investigação, devido à grande quantidade de material apreendido durante a Operação Tentáculos, realizada na última quarta-feira. Na operação, que contou com a presença de aproximadamente 400 policiais federais e civis, 33 pessoas foram presas – 28 em cumprimento de mandados de prisão preventiva decretados pela Justiça e cinco prisões em flagrantes. A última detenção da operação ocorreu durante a madrugada de ontem. Arilson de Lima da Cunha se apresentou e ficou preso. Apenas dois mandados não foram cumpridos: o advogado Peter Amaro e um homem conhecido apenas por "Sky" continuam foragidos.
De acordo com o delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, da Delegacia de Homicídios (DH), foram apreendidos com a quadrilha 27 veículos, quatro motocicletas, grande quantidade de armas e munições, computadores, jóias que seriam provenientes de roubos, R$ 100 mil em dinheiro e R$ 700 mil em cheques. A polícia calcula que o material apreendido passe de R$ 1 milhão. O material será periciado para a obtenção de novas provas. Contra a quadrilha pesam as acusações de homicídios, envolvimento com tráfico de drogas, assaltos a estabelecimentos comerciais, roubos de carros e "venda de proteção" a empresários e comerciantes. Alguns integrantes da quadrilha atuariam em um grupo de extermínio.
De acordo com as investigações, a quadrilha seria responsável por, pelo menos, 30 homicídios nos últimos anos, entretanto Cartaxo acredita que esse número seja ainda maior. Vários casos de assassinatos de policiais e traficantes serão apurados novamente. Mas nesse primeiro momento, o foco da DH é concluir o inquérito sobre a morte do major Pedro Plocharski, 49 anos, assassinado em janeiro deste ano. Segundo Cartaxo, este trabalho é primordial e a delegacia tem dez dias para realizar essa tarefa, que inclui ouvir todos os detidos durante a Operação Tentáculos. Outra prioridade é o cumprimento dos dois mandados de prisão restantes. O advogado Peter Amaro deveria ter se apresentado na manhã de ontem, mas isso não ocorreu. O delegado esclareceu que a ligação do advogado é com o sargento Ademir Leite e que há evidências de que Peter sabia de informações sobre a morte do major. O outro foragido é conhecido pelo apelido de "Sky" e os policiais correm atrás da sua verdadeira identidade.
Uma das evidências da participação do grupo em assaltos foi obtida no escritório do advogado Lúcio de Mattos Júnior (coronel da PM da reserva). Trata-se de um relógio caríssimo, que foi subtraído de uma joalheria em Curitiba em um assalto. O caso está sendo investigado pelo Centro de Operações Policiais Especiais (Cope).
Até a Colônia Penal entra na dança
O secretário estadual da Justiça e da Cidadania, Aldo Parzianello determinou ontem a abertura de sindicância administrativa na Colônia Penal Agrícola (CPA), em Piraquara, região metropolitana de Curitiba. A medida foi tomada após o afastamento do coordenador do Departamento Penitenciário, coronel Justino Henrique de Sampaio Filho.
De acordo com Parzianello, o governo decidiu afastar Justino para evitar qualquer tipo de associação do Depen com os crimes descobertos pela Operação Tentáculos. "O coronel Justino não tem qualquer envolvimento com este escândalo. Ele foi induzido a erro", disse Parzianello.
Durante as investigações, a PF interceptou as ligações telefônicas do coronel da reserva Lúcio de Mattos Júnior, advogado do ex-tenente da PM Alberto da Silva Santos, que cumpria pena em regime semi-aberto na CPA. Mattos Júnior ligou para o então coordenador do Depen para saber se, no dia do assassinato do major Pedro Plocharski, em janeiro deste ano, seu cliente estava na CPA.
"O coronel Justino solicitou informações para funcionários que lhe repassaram informações falsas, de que o detento Alberto estava na Colônia naquela data. O coronel apenas passou adiante uma informação que ele havia recebido e não sabia que ela estava errada", disse o secretário. O que o secretário não disse, mas que foi informado por uma fonte da Tribuna que ouviu as gravações das ligações telefônicas entre os dois oficiais da reserva, era que eles tratavam o ex-tenente Alberto como "nosso afilhado"
Com a sindicância, o governo quer apurar as atividades desenvolvidas pela direção da Colônia Penal Agrícola e funcionários da unidade que passavam informações sobre detentos. "Serão requisitadas todas as portarias, documentos e declarações da direção e de funcionários daquela unidade, para o levantamento idôneo e transparente dessas ações", ressaltou Parzianello.
Crime
No dia 28 de janeiro, o ex-tenente Alberto não estava na CPA. Ele cumpria pena por roubo e pelo incêndio criminoso na Promotoria de Investigações Criminais (PIC), em 2000. Através de uma autorização judicial, Alberto cumpria pena em regime semi-aberto para pode fazer faculdade. Ele cursava Direito.
No entanto, ao invés de ter ido estudar, no dia 28 de janeiro Alberto participou de um crime. Enquanto os policiais do 13.º Batalhão da PM, Sandro Delgobo e Ari Camargo davam cobertura, Alberto e o ex-soldado Moacir Possamai Girardi seguiram o major Plocharski para matá-lo. É que Plocharski, então comandante do 13.º Batalhão, havia descoberto o envolvimento de Alberto e Girardi no assassinato de dois traficantes, assim como o envolvimento de outros policiais do batalhão com o crime organizado. Matar o major era necessário para manter o funcionamento do grupo de extermínio. Alberto teria efetuado os disparos contra Plocharski e Giradi dirigia o Golf verde usado no crime.