Tenso

Após confronto com morte entre PM e MST, cidade fica cheia de policiais militares

Após as mortes de dois sem-terra em confronto com a Polícia Militar, numa área nas proximidades do acampamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu, na tarde desta quinta-feira (7), o clima era de tensão na cidade no Oeste do Paraná. Na manhã desta sexta-feira (08) a cidade amanheceu cheia de policiais por conta dos conflitos.

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) promete realizar várias manifestações no município. Já o tenente-coronel da PM Washington Lee Abe, do 5.º Comando Regional Militar, afirmou que a polícia não vai tolerar represálias e está preparada para agir, caso seja necessário.

Além dos mortos, seis sem-terra ficaram feridos e foram encaminhados para hospitais da região. Nenhum policial ficou ferido. De acordo com o comandante da PM, outros dois membros do MST foram detidos porque estavam armados. O restante do grupo teria se embrenhado em uma mata.

Em entrevista coletiva na noite de quinta, Lee Abe subiu o tom contra o movimento. “Só pedimos aos inocentes que se encontram lá nesse movimento – que se intitula movimento social –, que se afastem. A Polícia Militar do Paraná não vai se curvar, não vai tolerar nenhum tipo de represália e não vai tolerar nenhum tipo de infração às leis. Nós estamos lá exatamente para manter a lei e a ordem”, afirmou o policial.

Policiais de diversas regiões do estado foram deslocados para Quedas do Iguaçu e o coronel Lee Abe assumiu a coordenação das operações que serão desencadeadas na cidade após o confronto. A polícia estima que aproximadamente 10 mil sem-terra morem na região.

A Araupel não se posicionou sobre o ocorrido, segundo informou o Jornal Nacional.

Versões do conflito

Os dois lados têm versões diferentes para o conflito. Em nota, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) afirmou que os policiais foram vítimas de uma emboscada e que eles foram ao local para tentar ajudar a combater um incêndio.

O MST nega e diz que a polícia foi ao assentamento para tentar retirar o grupo, que ocupa, desde julho de 2014, as terras da Araupel. Um líder do MST disse que os membros do movimento é que foram as “vítimas de emboscada”.

Mais tarde, o tenente-coronel da PM disse que quando a corporação chegou ao local havia uma barricada no meio do caminho para impedir a chegada dos policiais ambientais. Eles pretendiam fazer um levantamento sobre possíveis impactos ambientais e até mesmo a necessidade de autuações, caso fosse necessário.

Segundo ele, oito policiais que tentavam desobstruir o local, foram atacados por disparos de arma de fogo e, então, revidaram. Ele negou a versão dos sem-terra. “Aí eu pergunto: você faz uma emboscada com oito homens ou com 40 homens? Então nós podemos ver quem é que fez emboscada para quem”, afirmou.

Já o MST acusou a polícia de impedir que pessoas entrassem no acampamento Dom Tomas Balduíno após o confronto, até mesmo para socorrer os feridos. O movimento disse também que eles foram surpreendidos por um grupo de jagunços, seguranças da empresa Araupel e também da Polícia Militar.

A Polícia Civil já abriu um inquérito para apurar os fatos.

Batalha judicial

Uma disputa envolvendo as terras da Araupel já dura 20 anos. Em 2015, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Advocacia-Geral da União (AGU) entraram com uma nova ação pedindo a nulidade do título de propriedade das terras da empresa.

Segundo o Incra, a ação formulada pela Procuradoria da União e proposta pela AGU é fundamentada nas concessões realizadas no período imperial e que caducaram com o passar dos anos. O Incra argumenta que a Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, ao qual o imóvel estava vinculado, não cumpriu com as obrigaç&otil,de;es e, em 1923, ocorreu a caducidade da área.

“Portanto, a empresa Araupel ocupou irregularmente uma área que é de domínio da União”, disse à época o superintendente do Incra no Paraná, Nilton Bezerra Guedes. Araupel informou, em 2015, que atestava a legitimidade do titulo que possui.

A área reivindicada pelo Incra está ocupada por mais de quatro mil pessoas no acampamento Dom Tomás Balduíno.

Bomba relógio

“A gente sabia que não podia ter confronto. Estávamos tentando evitar justamente isso.” A declaração é do assessor especial para Assuntos Fundiários do governo do Paraná, Hamilton Luiz Serighelli, para quem a região de Quedas do Iguaçu se assemelha a “uma bomba-relógio”, prestes a explodir a qualquer momento. Ele está viajando para a região e espera chegar no local às 22 horas desta quinta-feira.

Serighelli comenta que as informações que chegam estão desencontradas, com acusações mútuas de emboscada, e que a prioridade no momento é acalmar os ânimos. Ele conta que está conversando por telefone com várias lideranças da região, com o objetivo de que mais nenhum ato de violência ocorra nas próximas horas. Para o assessor, a concentração de pessoas na área complica a situação, que ele considera tensa. “São 12 mil acampados, mais 12 mil assentados e ainda os 36 mil moradores da cidade”, contabiliza.

O assessor afirma que, nos últimos 11 dias, a Araupel conseguiu trabalhar sem interferências do movimento sem-terra, graças a muita negociação, e que o conflito na região só vai se encaminhar para uma solução quando a Justiça Federal tomar decisões definitivas sobre a propriedade da área.