Uma ameaça de bomba, em um posto de combustível em Santa Felicidade, mobilizou as polícias Civil e Militar no início da tarde de ontem. Após uma vistoria detalhada no interior do estabelecimento, realizada por policiais especializados em explosivos, nada foi encontrado. A ameaça aconteceu dois dias depois de um artefato explodir num terreno baldio ao lado do Posto Pinheiro, localizado na Rua João Denbinski, no Campo Comprido. O atentado deixou um homem gravemente ferido e causou destruição no estabelecimento.
A informação da colocação da suposta bomba chegou ao proprietário do Posto Valle, Rodrigo Andreta Ribeiro, através de uma professora da Escola Estadual Ângelo Volpato, situada ao lado. “Ela contou que um telefonema dado à escola alertou que era para a instituição ser evacuada pois teriam colocado um bomba no posto”, explicou Rodrigo.
Imediatamente ao saber da notícia, o proprietário acionou a polícia. Investigadores da Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (Deam), do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) e policiais militares compareceram ao local. Após varredura, que durou cerca de 40 minutos, nada foi encontrado. Durante esse tempo o posto foi isolado.
Ameaças
A situação de um possível atentado preocupou o proprietário do Posto Valle, que está diariamente no local, mas que se diz acostumado com ameaças. Segundo Rodrigo, desde fevereiro ele recebeu inúmeros telefonemas intimidadores, todos relacionados à política de preços baixos adotada pelo estabelecimento. “Nas ligações, sempre pediam para que subíssemos o preço, senão estaríamos estragando o mercado”, relatou. Ele disse que pessoas diferentes falaram ao telefone fazendo as ameaças. “Não acreditava que podiam levar adiante as ameaças, mas depois do caso em outro posto, é para ficar com medo. Tenho família”, disse. Sobre os outros telefonemas ameaçadores, o dono do posto informou que já prestou queixa no 3.º Distrito Policial (Mercês).
Preço
Inconformado com a coação que os proprietários de postos de combustíveis vêm sofrendo, Rodrigo decidiu, no final da tarde de ontem, baixar ainda mais o preço da gasolina. Até às 17h, o litro da gasolina era vendido a R$ 1,899 e depois da ameaça baixou para R$ 1,849. “Fiz isso para mostrar que eles (sem citar nomes) não podem nos intimidar com essa pressão pelo medo”, afirmou. Conforme o empresário, ele possui outros postos espalhados em Curitiba e no interior do Estado, mas somente na capital é que existe essa intimidação.
Para poder vender o litro de gasolina mais barato, Rodrigo dá a sua receita: “Pago antecipado e à vista. Assim tenho condições de fazer o meu preço. Semana que vem abaixo ainda mais o preço da gasolina”, concluiu.
Negada a existência de cartel
Gerentes e donos de postos de combustível entrevistados ontem pela Tribuna negam a existência de cartel para o preço de gasolina em Curitiba. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis (Sindicombustíveis), Roberto Fregonese, tem a mesma opinião e afirma que o preço do litro da gasolina em Curitiba varia entre R$ 1,81 e R$ 2,10. O que o consumidor não consegue entender é como o preço do combustível varia tanto em um período tão curto.
“A concorrência faz os preços caírem”, afirma a gerente do Posto Bandeirantes, no bairro Mercês, Cristiane Ferreira. O litro da gasolina no estabelecimento é vendido por R$ 1,95. Mas já chegou a custar R$ 2,15, na véspera do Carnaval. “Se todo mundo baixar o valor, não tem jeito: a gente tem que acompanhar”. Apesar disso, ela garante que nunca foi vítima de ameaças nem pressão por parte dos demais postos.
O gerente do Posto Raposo Tavares, Murilo Zortéa, também reduziu o preço da gasolina. Era R$ 2,08 às vésperas do Carnaval e ontem custava R$ 1,87 o litro. “O preço varia conforme os custos de operação e a concorrência”, explica. Segundo ele, a margem de lucro bruto é de quase R$ 0,15, e líquido, R$ 0,06. “É difícil operar abaixo de R$ 1,85. É quase impraticável”, comenta Zortéa, referindo-se a concorrentes que vendem abaixo desta faixa. O gerente conta que não recebe pressão para elevar o preço. “Trabalho com um preço honesto, justo”.
Já o proprietário do Posto Vila Verde, no bairro Mercês, Altamir Pizzatto, garante que o preço de seu combustível não fica à mercê da concorrência. Vendendo o litro da gasolina a R$ 2,03 – um dos mais altos da região -, Pizzatto afirma que mantém clientela tradicional. “Eu desconheço a existência de cartel. Nunca recebi qualquer tipo de pressão, nem ameaça”, garante. Pizzatto conta que mantém o mesmo preço há quase 30 dias. “Não subi o preço a R$ 2,17 como fez a maioria. E agora também não vou reduzir. O preço varia conforme as necessidades de custo. Não me preocupo com o preço do vizinho”.
Artefato foi preparado para destruir o Posto Pinheiros
A bomba caseira que explodiu na última quarta-feira em um terreno vizinho ao Posto Pinheiros, em Curitiba, era para ter atingido o próprio estabelecimento. A informação é do delegado Guaracy Hoffmann, da Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (Deam). Segundo ele, um funcionário do posto chegou ao local às 6h30, encontrou um saco de lixo na área do estabelecimento – próximo à boca de descarga de combustíveis – e o jogou para o terreno baldio, ao lado. Era neste saco que estava a bomba caseira. “O funcionário falou que parecia um pedaço de concreto”, contou o delegado. Para Hoffmann, o “pacote” teria sido deixado na noite anterior à explosão. “Acredito que tenha sido colocado para explodir naquela mesma noite. Mas alguma coisa pode não ter dado certo”, informou. Com isso, a suspeita de atentado ganha ainda mais força. Mas ele não descarta outras hipóteses para o ocorrido.
“Por enquanto a gente não pode descartar nenhuma possibilidade”, salientou. Originalmente, a polícia tem prazo de 30 dias para concluir o inquérito, podendo prorrogar conforme a necessidade. Além do Deam, a Promotoria de Investigações Criminais (PIC) e o Centro de Operações Especiais (Cope) participam das investigações. “Um atentado a bomba não pode virar algo comum”, declarou o delegado.
Risco de morte
O pedreiro Renato Essy, 35, que teve as pernas amputadas com os estilhaços da bomba, continua em estado grave. Segundo o boletim médico do Hospital do Trabalhador, o pedreiro permanece na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com múltiplos ferimentos e risco de morte. Não há previsão de alta. Renato, segundo as primeiras informações, estaria trabalhando em uma obra próxima ao local do atentado. Após sair do trabalho, com destino à sua residência, entrou no terreno baldio para fazer necessidades fisiológicas, ocasião em que a bomba explodiu próximo dele, arrancando-lhe as pernas. Ele foi a única vítima do atentado.