Os policiais militares que prestam serviços administrativos no Quartel do Comando-Geral da Polícia Militar, em Curitiba, vão ter que se virar com marmitas a partir da próxima segunda-feira (18). Um comunicado divulgado na manhã desta sexta-feira (15) pela intranet da PM informa que os almoços desses agentes serão suspensos. O motivo? “Questão de necessidade”.
O informe é da Ajudância-Geral da Corporação e não dá mais detalhes sobre o corte no fornecimento das refeições. Mas diz que a alimentação vai ser mantida apenas para o Comando-Geral, a Guarda do QCG, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), e policiais em escalas de serviço de 12/24 horas. O documento termina, sucinto, com uma tentativa de amenizar a situação: “a suspensão será temporária, retornando à normalidade assim que se encerrarem as pendências”.
De novo?
Essa não é a primeira vez que esse tipo de decisão é tomada. Entre 2013 e 2014, os policiais ficaram meses sem poder se alimentar no refeitório da unidade. A ordem era reforçada por um ofício, afixada na entrada do rancho do quartel, que destacava que apenas os agentes que atuavam na guarda de presos poderiam comer no local. Na ocasião, o corte atingia todos os batalhões da instituição.
Diante do problema, a Associação de Praças do Estado do Paraná (Apra) ingressou com uma ação civil pública contra o governo do Estado cobrando o suprimento de refeições nos quartéis para todos os policiais militares e bombeiros. A intenção da entidade é buscar o direito de alimentação dos profissionais da Segurança Pública do Paraná. O processo ainda está em trâmite na Justiça.
Apra
“É uma calamidade isso”, lamenta o presidente da Apra, Orélio Fontana Neto. Ele defende que, em termos de Segurança Pública, o trabalhador não consegue desenvolver as atividades tranquilamente diante de medidas como essa. “O nosso policial já não tem plano de carreira, não tem perspectiva. Há mais de três anos a Corporação não promove cursos para cabo e para sargento, e olha que tem mais de 1.500 vagas em aberto para cada posto desse”, explica.
O presidente fala ainda sobre os problemas estruturais que os policiais enfrentam no dia a dia. “Não tem viatura, não tem nada. Muitas vezes os carros estão baixados e o policial precisa tirar (dinheiro) do bolso se quiser trabalhar. É uma lástima. Não tem como alguém prestar um bom serviço desse jeito. Ninguém trabalha direito de estômago vazio”.
Conselhos
O corte nos almoços pode agravar um problema que a Polícia Militar sempre repudiou: os casos em que os agentes acabam pedindo alimentação em restaurantes e lanchonetes em troca, muitas vezes, da simples presença deles em um determinado estabelecimento para aumentar a sensação de segurança. “Mas eles querem o quê? A sorte é que alguns conselhos de segurança têm uma parceria com a PM para fornecer alimentação. É isso que tá salvando, mas não a todo mundo”.
O vice-presidente da entidade, Jayr Ribeiro Junior, que também responde pelo setor jurídico da associação, é enfático. “O comunicado que foi veiculado na intranet é autoexplicativo. Eles não têm dinheiro para comprar comida para todo mundo. Mas se os soldados são obrigados a pagar ou providenciar a alimentação deles, todos deveriam fazer isso”.
Outro lado
Procurada, a PM informou apenas que o Comando-Geral “reafirma que prioriza a alimentação no quartel aos policiais militares que cumprem turnos de ativid,ade operacional/ostensiva, de guarda e escoltas, na execução de ações e operações de Policiamento Ostensivo”.